Escrito por: Raquel Junia RadioagênciaNacional
Em meio à pandemia, estudantes relatam falta de equilíbrio emocional e dificuldades de organização para estudar
Sem aulas, sem renda e tendo que lidar com a ansiedade em relação ao futuro. Esse é o retrato trazido pela pesquisa Juventudes e Pandemia do Coronavírus, que ouviu mais de 33 mil jovens de todas as regiões do país.
Os dados são preocupantes. Quase 30% dos jovens disseram ter pensado em abandonar os estudos quando a pandemia passar. E quase metade daqueles que estão se preparando para o Enem admitiram a hipótese de desistir do exame.
Entre os que trabalham, quatro em cada 10 indicam ter diminuído ou perdido a sua renda. E cinco em cada dez jovens lidam com a perda de renda de suas famílias.
O levantamento foi feito remotamente pelo Conselho Nacional de Juventude, o Conjuve, e outras instituições parceiras, no mês de maio, e atingiu a faixa etária entre 15 a 29 anos.
A metodologia da sondagem envolveu grupos juvenis em todas as etapas, inclusive na elaboração das perguntas, difusão dos questionários e posterior análise dos dados.
O vice-presidente do Conjuve e coordenador da pesquisa, Marcus Barão, destaca que o Brasil tem hoje a maior geração de jovens da história do país, um quarto da população brasileira.
"Com a pandemia, tudo se agrava. O futuro da população é colocado em risco. E essa pesquisa aponta que não só o processo educacional foi interrompido, mas esse contexto da crise sanitária, de um isolamento forçado e dos riscos a quem tem que trabalhar e não pode ficar isolado, ou dependendo de um auxílio emergencial, esse conjunto de fatores, tem um impacto significativo na população jovem", avalia.
Ele lembra que antes da pandemia, esses brasileiros já lidavam com inúmeros desafios, como a taxa média de desemprego, em 27,1%, mais do que o dobro dos 12,2%, apontados pelo IBGE para a população em geral.
A estudante Isabella Nery, de 20 anos, moradora de Pitangui, no centro oeste de Minas Gerais, expressa bem o sentimento captado pela pesquisa. Ela concluiu o ensino médio em 2018, depois de um ano conturbado com crise na educação e perda de conteúdo letivo.
Em 2019 não se sentiu pronta para tentar ingressar na universidade e começou a se planejar para 2020. "Mas aí, em março e abril começou essa bagunça na área da saúde. E se eu disser que isso não abalou o meu estado psicológico eu vou estar mentindo. Porque, por mais que eu estudo online, o isolamento social mexe muito com a cabeça da gente e tirou o meu foco total dos estudos. E além da crise na área da saúde, a gente também vive uma crise política constante, com a indefinição sobre o Enem. Então para mim não fazia sentido mais se empenhar em algo que eestá totalmente indefinido", desabafa.
A maior parte dos jovens que participou do levantamento está no ensino médio ou na faculdade. Entre os que estudam, oito em cada dez responderam realizar algum tipo de atividade remotamente.
O acesso à tecnologia não foi listado como a principal dificuldade enfrentada nesse momento e sim o equilíbrio emocional e a capacidade de organização para estudar. A pesquisa mostra que os jovens se sentem sem apoio das instituições para cumprir com essa nova dinâmica.
Seis em cada 10 consideram que as instituições deveriam priorizar atividades que os ajudem a lidar com as emoções nesse momento: principalmente ansiedade, tédio e impaciência, sentimentos citados como os mais marcantes no período de isolamento social.
O vice-presidente do Conjuve acrescenta que os gestores precisam olhar esses dados como uma base para a elaboração de políticas públicas. Marcus Barão alerta que sem atenção para a juventude, haverá perdas, inclusive econômicas, para o país.
A pesquisa mostra ainda que 72% dos jovens ouvidos acreditam que a pandemia vai piorar a economia brasileira e 34% estão pessimistas em relação ao futuro.
No entanto, as respostas mostram também confiança na capacidade global da ciência e da educação: 96% acreditam na descoberta da vacina contra o coronavírus e que isso será uma ação importante para a retomada pós-pandemia, 44% dos jovens ainda acham que a sociedade vai reconhecer mais os educadores e 46% prevêem que a ciência e a pesquisa terão mais prestígio e investimentos.