Pesquisador da Fiocruz critica flexibilização do uso de máscaras: “Não é o momento”
Especialistas criticam decisão de vários governadores que determinaram o fim da obrigação do uso de máscaras para conter a disseminação da Covid-19. Segundo eles, decisão tem de partir de autoridades sanitárias
Publicado: 04 Março, 2022 - 13h53 | Última modificação: 04 Março, 2022 - 19h49
Escrito por: Walber Pinto | Editado por: Marize Muniz
O pesquisador em saúde pública da Fundação Oswaldo Cruz (Icict/Fiocruz) Diego Xavier critica a decisão de governadores que estão determinando o fim da obrigação do uso de máscaras para conter a disseminação da Covid-19 (veja lista abaixo). Ele avalia que não é momento de relaxar nas medidas protetivas contra a doença, apesar do avanço da vacinação no Brasil.
“O número de óbitos voltou a subir entre idosos, o que indica a necessidade de uma quarta dose. Essa medida de abandonar o uso de máscara deveria ser substituída por uma campanha massiva de vacinação seguida de orientações para grupos específicos mais vulneráveis”, avalia o pesquisador.
Outro fator preocupante, de acordo com Diego, são as festas com aglomeraçõess durante o Carnaval em meio ao avanço da variante ômocron. Para ele, seria prudente esperar o efeito dessas aglomerações antes de adotar a abolição do uso da máscara.
“Apesar de não ter havido Carnaval de massa, vários locais realizaram festas em ambientes de risco, fechados e com aglomeração”, diz o pesquisador, que acrescenta: “Ainda não é hora e, quando for, a decisão tem que partir de autoridades sanitárias, não dos governantes”.
“A variante ômicron”, alerta Diego, “ainda está se espalhando pelo país e a máscara continua sendo o maior meio de proteção contra a Covid-19”.
“Temos no país hoje uma média móvel de cerca de 46 mil casos e 455 óbitos. Felizmente, graças à vacina, os números não são piores. Ao que tudo indica devemos continuar essa tendência de diminuição, mas ainda é preciso avaliar o efeito do carnaval no aumento das infecções”, conclui o pesquisador da Fiocruz.
Estados onde o uso de máscara foi flexibilizado
No Rio Grande do Sul e Santa Catarina, crianças estão liberadas do uso de máscaras, inclusive nas escolas. Santa Catarina, assim como Mato Grosso do Sul, Maranhão e Rio de Janeiro já não obrigam o protetor facial em ambientes abertos.
No RS, a medida, decretada e publicada nesta quarta-feira (2), pelo governo de Eduardo Leite (PSDB), vem sendo criticada por especialistas e dirigentes da CUT-RS. O decreto de Leite se baseou em parecer técnico do Centro Estadual de Vigilância em Saúde e da Secretaria Estadual da Saúde. No entanto, o estado tem 45% do público infantil entre 5 e 11 anos já foram vacinados. Várias prefeituras do interior gaúcho anunciaram que vão seguir a decisão estadual.
No Distrito Federal, o uso de máscaras deixará de ser obrigatório em locais abertos a partir de segunda-feira (7).
No estado de São Paulo, a decisão será tomada na próxima terça-feira (8), pelo governador João Doria (PSDB). Segundo ele, a tendência é de liberar da obrigação do uso ao ar livre. Ainda segundo Doria, o comitê deve avaliar também se libera crianças em idade escolar da obrigatoriedade de usar máscara.
Também na cidade do Rio de Janeiro, haverá reunião na próxima segunda-feira, que deve definir o fim da obrigatoriedade do uso da máscara em locais fechados. Em locais abertos, sem aglomeração, o uso já é facultativo desde outubro do ano passado.
Em Mato Grosso do Sul, desde o início de novembro não é obrigatório o uso de máscaras contra a Covid-19 em locais abertos. A proteção é exigida para acesso aos meios de transporte, órgãos e instituições públicas e estabelecimentos comerciais, inclusive shoppings.
Já no Maranhão, em novembro do ano passado, o governador Flávio Dino (PSB) assinou decreto tornando facultativo o uso de máscaras em locais abertos, em todo o estado, e em locais fechados de cidades com mais de 70% da população vacinada.
No dia 7 de janeiro, em razão de um aumento de casos devido à circulação da variante Ômicron, ele assinou um novo decreto obrigando o uso da máscara em locais fechados, independentemente do porcentual de pessoas vacinadas.
Nesta quinta-feira (32), o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), anunciou a liberação do uso obrigatório de máscaras nos espaços abertos da capital mineira. Um decreto detalhando as medidas será publicado nesta sexta-feira (4). Atualmente, o uso de máscaras é obrigatório no Estado, em espaços abertos e fechados.
Qual momento ideal para abandonar o uso das máscaras?
De acordo com os especialistas, o uso de máscara só pode ser dispensado em casos específicos, avaliados por médicos, como no caso de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), com deficiência intelectual, com deficiências sensoriais ou outras deficiências que as impeçam de fazer o uso adequado de máscara de proteção, entre outros.
Na avaliação de Diego Xavier, o abandono das máscaras deve estar diretamente associado a vacinação e a vigilância epidemiológica do país. Para ele, pessoas que estão apresentando sintomas devem continuar utilizando máscaras independente do período epidêmico que esteja vivendo.
“Essa cultura existe na Ásia, local que já enfrentou várias epidemias”.
“O abandono de máscaras deveria seguir um plano como foi o de reabertura de setores comercias, definido por locais de menos risco e ir avançando. Então, não existe um momento em que todos devem parar de usar, mas um processo que devemos realizar, acompanhando e em caso de necessidade, retroceder”, finaliza o pesquisador.
Dados da pandemia
Em 24 horas, o Brasil registrou 594 mortes por Covid-19. Desde o começo da pandemia, a doença matou 650.646 brasileiros. Foram quase 67 mil novos casos conhecidos. No total, já são mais de 28,9 milhões casos.