Escrito por: Redação CUT
Empresa não negociou com sindicatos dos petroleiros, falou apenas com gerentes sobre os planos do fim do isolamento e FUP alerta: vocês podem entrar para a história ao lado dos que matam
No mesmo estilo autoritário e sem respeito à vida nem a ciência do governo de Jair Bolsonaro (ex-PLS), mais interessados nos CNPJs (empresas) do que nos CPFs (seres humanos), a Petrobrás iniciou, nesta segunda-feira (8), a preparação dos petroleiros e petroleiras para o fim do isolamento social, medida recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para conter a disseminação da pandemia do novo coronavírus.
Em reuniões virtuais apenas com gerentes, sem a participação dos sindicatos dos trabalhadores, a direção da estatal divulgou o planejamento de retomada, que inclui até a volta dos petroleiros do grupo de risco de contrair as formas mais graves da Covid-19, como idosos e pessoas com comorbidades como diabetes e doenças do coração.
“A prática na Petrobras é a mesma do governo federal”, reagiu a direção da Federação Única dos Petroleiros (FUP) por meio de nota publicada no site da entidade em que acusa a direção da estatal de ter omitido os números de casos do novo coronavírus nas unidades da companhia.
“Não é de hoje que a sonegação de informações ocorre”, diz trecho da nota que lembra que o Grupo de Trabalho da Petros diversas vezes tentou e não conseguiu as informações necessárias, o que atrasou o processo de construção do Novo Plano de Equacionamento.
“A gestão de Castello Branco tem omitido dados de contaminações e mortes provocadas pela Covid-19 e agora quer acabar com o isolamento social", criticou Deyvid Bacelar, coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), se referindo ao presidente da estatal.
De acordo com Deyvid, o anúncio da suspensão da quarentena é precipitado e causa insegurança aos trabalhadores. Ele também critica o fato de que as negociações sobre o fim do isolamento social não estão sendo discutidas com as entidades sindicais e, assim, a empresa aplica o que lhe convém e depois somente apresenta as decisões aos representantes dos trabalhadores.
A FUP tem reagido e entrado na Justiça contra o autoritarismo da estatal que prejudica os petroleiros, mas os sindicalistas afirmam que muitos processos poderiam ter sido evitados se houvesse diálogo, negociação.
Segundo a nota da FUP, a última decisão autoritária da gestão da Petrobras foi justamente o plano estratégico divulgado hoje pela empresa sobre o retorno ao trabalho presencial. De acordo com a empresa, os trabalhadores terão que se adaptar ao “novo normal”.
A dúvida, diz a nota, é o que seria “esse tal de novo normal. São as milhares de pessoas que estão morrendo por dia no país e que está sendo subnotificado pelo governo federal?”, questionam os sindicalistas.
A FUP ressalta na nota a importância do trabalhador zelar por sua vida e a dos seus familiares e pede que os petroleiros, inclusive os terceirizados, denunciem aos seus sindicatos quaisquer tipos de assédio gerencial.
“Estamos acompanhando este plano de retorno ao trabalho e responsabilizaremos cada gestor que derramar sangue em nossas fábricas e plataformas”, diz trecho da nota.
Em outro trecho a direção da FUP diz que “o coronavírus não é uma gripizinha como diz o presidente do país”, lembra o número de infectados e mortos desde o início da pandemia, critica cidades que estão reabrindo a economia apesar da curva de casos e mortes em alta – fato que está sendo usado pela empresa para acabar com a quarentena - e alerta os gerentes sobre a importância da clareza e transparência na divulgação dos casos da doença nas unidades da Petrobras.
A gestão da Petrobrás é composta por pessoas que têm livre arbítrio para escolher de qual lado querem estar na história do Brasil. Do lado de quem zela pela vida de milhares de trabalhadores, mães, filhos, maridos, avós, avôs, ou do governo Bolsonaro, que mente e mata todos os dias.- FUPConfira aqui a íntegra da nota da FUP.
De acordo com o Estadão, a Petrobras dividiu o risco de contaminação pelo coronavírus com o fim da quarentena em três bandeiras: verde, amarela e vermelha. É mais ou menos o que o governador João Doria (PSDB) fez em São Paulo para iniciar a reabertura das atividades coemrciais apesar do alto numero de casos e mortes por Covid-19 no estado.
Na primeira, é autorizado o retorno; na segunda, são adotadas medidas preventivas; e na terceira, o isolamento é mantido.
Para definir as bandeiras, a direção da estatal diz que vai acompanhar as taxas de crescimento dos casos de contaminação nos municípios onde opera e de ocupação de leitos de UTI. Diz ainda que, internamente, acompanhará se a doença avança em suas unidades de trabalho.