Escrito por: FUP
Em sua live semanal Bolsonaro fez cena e chamou lucro de estupro. Mas, “não faz nada para impedir que a estatal continue sangrando a população para satisfazer o apetite insaciável dos acionistas”, diz a FUP
Menos de dois meses após o mega-reajuste nos preços dos combutíveis, a direção da Petrobras anunciou que vai distribuir aos acionistas mais de 100% do superlucro de R$ 44,56 bilhões registrado no primeiro trimestre deste ano.
Só os aciniostas se beneficiam com a política de preços da estatal, que colocou o Brasil no segundo no entre os países que registram os maiores preços de gasolina no ranking que reúne os 15 principais produtores de petróleo do mundo.
A União, que tem o controle acionário da Petrobras, vai receber 28,7% do lucro, ou R$ 13,9 bilhões. Mas, em sua live semanal, o residente da República, Jair Bolsonaro (PL), fez a cena de sempre e classificou os dividendos de estupro.
O fato é que "o presidente não faz nada para impedir que os gestores da estatal continuem sangrando a população para satisfazer o apetite insaciável dos acionistas", diz a Federação Única dos Petroleiros (FUP) em nota publicada no site da entidade.
Depois da União, os acionistas que mais vão lucrar são:
Estrangeiros: 24,6%/R$ 11,9 bilhões
ADR (recibos de ações negociados no exterior): 20,5%/R$ 9,9 bilhões
Demais empresas e pessoas físicas: 17,1%/R$ 8,3 bilhões
BNDES (inclui BNDESPar): 7,9%/R$ 3,8 bilhões
FMP-FGTS Petrobras (fundos de ações da companhia): 1,1%/R$ 500 milhões.
“O foco da Petrobrás hoje é gerar e distribuir valor, principalmente para acionistas privados. Mais de 45% são investidores estrangeiros, com ações da Petrobrás nas bolsas de São Paulo e de Nova Iorque”, observa Bacelar. “Os gestores da empresa socializam os investimentos e privatizam os lucros. Quem paga os dividendos para os grandes fundos de investimentos nacionais e internacionais é o povo brasileiro”, afirma o coordenador geral da FUP, Deyvid Bacelar.
O superlucro de R$ 44,56 bilhões da Petrobrás no primeiro trimestre deste ano, 38 vezes maior que o do mesmo período do ano anterior, traz a marca da inflação recorde dos combustíveis e da transferência de riqueza promovida pela política de paridade internacional de preços do governo Bolsonaro.
Enquanto a população passa fome, a estatal brasileira, que deveria ter gerida para atender os interesses nacionais, entregará aos acionistas privados mais R$ 48,5 bilhões de dividendos, menos de seis meses após a mega distribuição de R$ 101 bilhões relativa ao exercício de 2021.
De acordo com a FUP, no governo Bolsonaro, de janeiro de 2019 a 1° de maio de 2022, a gasolina, nas refinarias, subiu 165,8%, o diesel 155,2% e o GLP 118,4%, levando o preço médio do botijão de gás de 13 quilos para acima de R$ 120,00. Isso porque os combustíveis são reajustados com base no PPI, que segue as cotações internacionais do petróleo, variação cambial e custos de importação de derivados, sem levar em conta que 94% da produção de petróleo é nacional – ou seja, com custos em real.
“Com essa política de preço, que tem impacto nefasto no custo de vida, a inflação cresce e a renda média do brasileiro cai”, afirma o coordenador da FUP.
Ele alerta, também, para o impacto na vida das famílias brasileiras da alta da taxa de juros, que já está em 12,75% ao ano, uma das maiores do mundo: “é mais uma medida do governo federal que impede investimentos, geração de emprego e que retira renda da população mais pobre para os mais ricos”.
Abrasileirar o preço dos combustíveis
Estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômico (Dieese/subseção FUP), com base nas informações dos relatórios de desempenho financeiro da Petrobrás de 2019, 2020 e 2021, mostra que a Petrobrás apresentou em 2021 um custo médio de extração de petróleo e produção de derivado de R$114,89 por barril e vendeu esse produto no mercado interno por R$ 416,40 o barril, garantindo, assim, lucro de R$ 301,51 por cada barril comercializado no país no ano passado. Na composição desses custos, entram as participações governamentais (royalties e participações especiais) e todos os custos operacionais (na extração do petróleo e refino).
O constante aumento nos preços dos derivados foi o maior responsável pela alta de 7,51% do IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15) de abril. A elevação dos combustíveis teve influência no custo de demais produtos, principalmente alimentícios, levando a inflação do mês passado ao maior patamar desde 1995.
No dia 27 de abril, a Petrobrás comemorou o aumento na produção de petróleo e derivados apontado no relatório de produção e venda do primeiro trimestre de 2022. Houve recordes na produção de óleo e gás em campos do pré-sal; recorde de 56% de participação de diesel S-10 na produção total do derivado; e recorde de processamento de óleo pré-sal, além do aumento do Fator de Utilização (FUT) nas refinarias.
“Se a Petrobrás comemora recordes na produção, com o custo majoritariamente em real, por que a população segue pagando em dólar? É urgente abrasileirar o preço dos combustíveis”, ressalta Deyvid Bacelar.