Escrito por: Rosely Rocha, especial para Portal CUT
Decisão será tomada em assembleia da categoria no dia 12; petroleiros querem uma nova política de preços para os combustíveis e gás de cozinha e a saída de Pedro Parente da presidência da estatal
A atual política de preços da Petrobras colocada em prática pelo governo golpista e ilegítimo de Michel Temer (MDB-SP) é um dos motivos da paralisação por 72 horas anunciada pelos petroleiros. A partir da zero hora da próxima quarta-feira (30), os trabalhadores e trabalhadoras cruzarão os braços nas refinarias, plataformas e prédios administrativos da estatal. Uma greve por tempo indeterminado deverá ser convocada em assembleia da categoria marcada para o dia 12 de junho.
Segundo José Maria Rangel, coordenador da Frente Única dos Petroleiros (FUP), a greve de advertência faz parte do calendário de mobilizações da categoria que já vinha sendo construída em atos, audiências públicas, manifestações e assembleias, antes mesmo da mobilização dos caminhoneiros.
“A paralisação dos caminhoneiros jogou luz num assunto que para nós é preocupante há muito tempo, que é a política de preços adotada pelo presidente da Petrobras, Pedro Parente. Por isso, uma das reivindicações da categoria é justamente a sua demissão”, diz Rangel, destacando que os petroleiros podem deflagrar greve por tempo indeterminado se o governo ilegítimo de Temer insistir em manter Pedro Parente no comando da estatal e continuar com a atual política que tem destruído a Petrobras.
A paralisação, segundo ele, tem como objetivo a redução dos preços dos combustíveis e do gás de cozinha; a manutenção dos empregos e retomada da produção interna de combustíveis; o fim das importações da gasolina e outros derivados de petróleo; contra as privatizações e desmonte do Sistema Petrobras; e a demissão de Pedro Parente da presidência da empresa.
Aumento da importação agravou política de preços
Segundo o secretário Nacional de Comunicação da CUT, Roni Barbosa, a Petrobras tem capacidade para refinar quase todo o combustível que o Brasil consome. Porém, com a orientação do golpista Temer, a direção da empresa reduziu a capacidade de refino no País em 30%, o que abriu o mercado para as grandes importadoras, principalmente dos Estados Unidos.
"As refinarias têm capacidade de refinar 2,4 milhões de barris/dia, mas estão operando com apenas 68% dessa capacidade. Esse é um dos fatores que tem contribuído para encarecer ainda mais o preço dos derivados do petróleo", denuncia Roni, que também é petroleiro e dirigente da FUP.
A Petrobras está investindo na exportação de petróleo cru e, com isso, aumentando a importação do produto refinado. "O que é absolutamente desnecessário e vai contra os interesses do povo brasileiro, contra qualquer política de soberania nacional. O Brasil tem petróleo, refino e distribuição, não precisa aumentar a importação como vem fazendo”, critica Roni.
“A Petrobras pode produzir a US$ 7 o barril no pré-sal e cobra da população US$ 75. Mesmo com os custos de refino e transporte é um valor abusivo. Essa política tem de mudar.”
Nos últimos dois anos, desde que Parente adotou preços internacionais, onerando o consumidor brasileiro para garantir o lucro do mercado, o número de importadoras de derivados quadruplicou no País. Em 2017, o Brasil foi inundado com mais de 200 milhões de barris de combustíveis importados.
Segundo dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP), hoje existem 392 empresas autorizadas a realizar importações de derivados no país. Dessas, 129 (33%) foram cadastradas depois do golpe de 2016.
Para piorar a situação, diz Roni, o ilegítimo Temer ainda propõe vender as refinarias Rlam e Fafen, na Bahia; Abreu e Lima, em Pernambuco; Repar e Araucária Nitrogenados, no Paraná; e Refap, no Rio Grande do Sul.
“Negócio da China”
Com a mobilização dos caminhoneiros, o governo federal decidiu subsidiar o diesel importado. Além de pagar à Petrobras para compensar sua redução de R$ 0,23 no litro do diesel, Temer ainda vai bancar com dinheiro do Tesouro Nacional (de todos os contribuintes) o diesel que vem de outros países. Essa medida vai custar R$ 9,5 bilhões até o final do ano, informou o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia.
“É um negócio da China. É uma política de preços para o mercado internacional. De um ano pra cá, o reajuste chegou a 26% enquanto a inflação oficial gira em torno de 1,5%. Há tempos já avisávamos que a sociedade brasileira pagaria a conta. Estão querendo colocar a Petrobras de joelhos perante o mercado internacional”, critica o coordenador da FUP, José Maria Rangel.
O dirigente diz ainda que os golpistas construíram a narrativa de que a Petrobras teve prejuízos com os desvios e corrupção da empresa. “Mas o que eles não dizem é que o suposto prejuízo de R$ 6 bilhões representa apenas 0,1% do que a empresa faturou”, esclarece Rangel.
Segundo ele, somente no ano passado, a Petrobras pagou aos bancos R$ 137 bilhões. “Isso não acontece com uma empresa que dizem estar quebrada. Não podemos combater a corrupção destruindo um patrimônio nacional.”