Escrito por: Guilherme Weimann / Sindipetro Unificado

Petroleiros realizam evento para comemorar os 40 anos da histórica greve de 1983

Paralisação na Refinaria de Paulínia foi motivada pela ameaça de demissão em massa na Petrobras; atividade ocorrerá na sede do Sindipetro Unificado, em Campinas (SP)

Sindipetro Unificado / Arquivo

Para rememorar os 40 anos da histórica greve de 1983, ocorrida simultaneamente na Refinaria de Paulínia (Replan), no interior de São Paulo, e na Refinaria Landulpho Alves (Rlam), na região metropolitana de Salvador (BA), os petroleiros farão um ato político no dia 8 de julho, às 9h30, na sede de Campinas (SP) do Sindipetro Unificado (Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo).

Nomeada de Ato político em rememoração aos 40 anos da greve de 1983, a atividade contará com a presença de trabalhadores de ambas as refinarias que participaram da paralisação na época, além de outros convidados (acadêmicos, sindicalistas e representantes do governo federal). Já confirmaram presença o professor aposentado de Economia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e ex-presidente da Petrobras [2005-2012], José Sérgio Gabrielli, e a presidenta da Comissão de Anistia, Eneá de Stutz e Almeida. 

“Pretendemos fazer essa rememoração da greve de 1983 não como um exercício saudosista, muito pelo contrário. O objetivo é sempre apontar para o futuro, de transformação permanente em direção a uma sociedade mais justa e igualitária”, aponta Antônio Jesus Alencar Ferreira, coordenador dos trabalhadores demitidos durante a greve, que posteriormente se tornaram anistiados políticos.

No dia da comemoração, também será lançada uma exposição, que narra por meio de textos e imagens a história da greve, além de um filme documental de média-metragem. A programação também inclui apresentações musicais de artistas da região.

Histórico

Entre o fim de 1982 e o início de 1983, o governo militar do general João Baptista de Oliveira Figueiredo iniciou negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para adquirir empréstimos que pudessem refinanciar a dívida externa, que crescia exponencialmente desde o início da década de 1970. Como condição ao empréstimo, entretanto, o FMI exigia o corte de gastos públicos.

Com isso, em maio de 1983, o governo federal enviou ao Congresso Nacional o decreto-lei nº 2025. O livro Paulínia: Petróleo e Política, organizado por Vinícius Caldeira Brant, aponta que a medida propunha a retirada de todos os benefícios dos servidores das estatais, estabelecia prazos para um corte total de 10% do efetivo das empresas e proibia novas contratações e investimentos por um ano.

Para o ex-diretor da diretoria cassada em 1983, Pedro Luiz de Campos, os decretos contribuíram para o processo de mobilização dos petroleiros. “Realmente eram decretos em cima de decretos, só prejudicando trabalhadores, então eu tinha certeza que alguma coisa iria acontecer. Então, para mim, não foi novidade [a decretação da greve]. Sabia que a base estava unida politicamente e todos esperavam que a greve iria sair”, recorda. 

Foi então que diversos sindicatos, incluindo do Sindipetro de Campinas, começaram a discutir a possibilidade de realização de uma greve. Devido a comoção pública, o governo retirou da pauta o decreto-lei, mas por pouco tempo. Dias depois, no dia 29 de junho, lançou mais um decreto (nº 2036), que cortaria os benefícios apenas dos novos admitidos. Com isso, a ameaça passou a ser a rotatividade do emprego. Neste mesmo dia, uma nova assembleia dos trabalhadores da Replan ratificou a greve por ampla maioria (quatro votos contrários e mais de 700 favoráveis) com a seguinte pauta: garantia de emprego e revogação do decreto-lei nº 2036.

Por receio de que a Petrobras mantivesse dois grupos de trabalho dentro da refinaria, em turnos rotativos de 12 horas – o que inviabilizaria a parada de produção –, o sindicato decidiu antecipar a greve, prevista inicialmente para começar no dia 6 de julho. O grupo que entraria às 23h30 do dia 5 de julho ficou do lado de fora da refinaria. Com isso, o grupo que havia entrado às 15h30 do dia 5 de julho seria o responsável por manter a unidade funcionando até que as negociações avançassem – o que não ocorreu.

Além de não abrir negociação, o ministro do Trabalho, Murilo Macedo, decretou intervenção no sindicato às 12h do dia 6 de julho. Às 14h45, devido à exaustão dos trabalhadores, a refinaria parou por motivos de segurança.

No dia 7 de julho, cerca de dois mil trabalhadores da Refinaria Landulpho Alves (Rlam), na Bahia, também cruzaram os braços, apesar da repressão policial. Assim como em Campinas, o sindicato dos petroleiros baianos sofreu intervenção instantânea. 

Além deles, várias categorias decidiram entrar em greve contra a política de austeridade do governo e em solidariedade aos trabalhadores da Replan. De acordo com os números divulgados pela imprensa na época, aproximadamente 100 mil metalúrgicos pararam no ABC. Também entraram parcialmente em greve os metroviários de São Paulo.

No dia 11 de julho, após seis dias de intensas mobilizações, a greve foi encerrada. No dia anterior, chegara a notícia de que as refinarias de Cubatão, São José dos Campos e de outros estados do país não entrariam em greve e que a paralisação dos metalúrgicos havia terminado. Com esse isolamento imposto pelo governo, os petroleiros da Replan decidiram pelo fim da greve em votação acirrada: 160 a favor e 148 contra. O mesmo ocorreu na Rlam. 

Mesmo com o apoio de algumas categorias, os petroleiros da Bahia e de São Paulo não conseguiram sustentar a mobilização. O saldo foi traumático: 206 demitidos na Rlam e 152 na Replan, com a intervenção em ambos os sindicatos. Além disso, os que voltaram após o fim da greve conviveram com um clima de perseguição por parte dos gerentes.

Apesar de todo esse cenário adverso, a solidariedade foi instantânea e a pauta pelo retorno dos demitidos passou a ser central. Ademais, a retirada do decreto-lei nº 2036 mostrou que, se houve grandes perdas por parte dos petroleiros, as conquistas também foram significativas, barrando as privatizações e mantendo o monopólio estatal do petróleo por vários anos. 

Além disso, a organização da categoria fez com que todos os petroleiros retomassem os seus postos de trabalho. A integrante da diretoria cassada em 1983 e liderança histórica da categoria, Wanda Conti, relembra como foi essa articulação: “A greve de 1983 foi o grande marco da nossa vida sindical, foi o grande embate que nós tivemos. Fui uma das demitidas e só voltei quando conseguimos a readmissão de todos. Nem o governo, nem a direção da Petrobras queriam que voltássemos. Mas nós lutamos muito para que todos voltassem".

Serviço

O que: Ato político em rememoração aos 40 anos da greve de 1983

Quando: 8 de julho de 2023, às 9h30.

Onde: Sindipetro Unificado (Rua Cônego Manoel Garcia, 1010, Jardim Chapadão, Campinas - SP).