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Petroleiros têm sindicato revistado e jornais apreendidos por fiscais do TRE

Sindipetro de Macaé-RJ é "visitado" na manhã de domingo. Em SP, jornalistas acusam Record de "pressão insuportável" para favorecer Bolsonaro e jornalista da "Folha" sofre ameaças após denúncia de caixa 2

Publicado: 22 Outubro, 2018 - 11h26 | Última modificação: 22 Outubro, 2018 - 15h37

Escrito por: Redação CUT

A sede do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro NF), em Macaé, Rio de Janeiro, foi invadida neste domingo (21), dia e horário em que não há expediente, por fiscais do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) que apreenderam exemplares dos jornais Brasil de Fato e Boletim Nascente, informativo semanal distribuído pelo sindicato há mais de 20 anos, alegando que os materiais continham fake news a favor do candidato do PT a presidente da República, Fernando Haddad, e contra seu adversário Jair Bolsonaro, do PSL.

As edições apreendidas, segundo o sindicato, continham análises dos programas eleitorais dos candidatos a Presidente que concorrem no segundo turno. "Não se tratava de material de cunho eleitoral, mas apenas análises e opiniões, o que ressalta que os jornais aprendidos não são fake news, muito pelo contrário: todas as matérias são assinadas e a circulação segue padrões rigorosos do jornalismo", disse a direção da entidade.

Segundo o funcionário que estava de plantão, os fiscais tentaram pular a grade externa e ameaçaram atirar contra a fachada do prédio para obrigá-lo a abrir o portão. Avisado, um dos diretores da entidade permitiu acesso irrestrito ao local.

A diretoria do Sindipetro NF considerou a atitude da justiça eleitoral de Macaé truculenta e arbitrária e divulgou nota de repúdio. "A categoria petroleira sempre foi favorável à mídia independente e alternativa. Não à toa, é item recorrente de debates entre a categoria como deveríamos nos contrapor à mídia tradicional, que bateu na Petrobras por anos, sem se preocupar com a imagem da empresa. Não há nenhuma irregularidade na prática que vem sendo realizada pela entidade, que tem compromisso estatutário com seus representados e com a população das cidades onde atua", diz o comunicado.

O sindicato adianta que, nesta segunda (22), vai provar que foi vítima de truculência e desrespeito pelo TRE local.

Assédio moral

Outro episódio de cerceamento à livre circulação de informações por parte de apoiadores de Bolsonaro foi denunciado pelo Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (SJSP) que, na sexta (19), divulgou em nota que vem recebendo denúncias de que jornalistas da Rede Record – televisão, rádio e portal de notícias R7 – estão sofrendo pressão permanente da direção da emissora para que o noticiário beneficie o candidato do PSL e prejudique Haddad e o PT.

Segundo a entidade, a pressão interna para favorecer Bolsonaro teve origem no anúncio feito, em 28 de setembro, pelo bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo, proprietário da emissora, declarando apoio ao representante do conservadorismo neste segundo turno das eleições de 2018.

Dias depois, a emissora transmitiu uma entrevista exclusiva com Bolsonaro levada ao ar em 4 de outubro, no mesmo horário em que sete outros candidatos participavam de um debate na TV Globo, com a ausência do líder nas pesquisas – contrariando inclusive a lei eleitoral.

Segundo o sindicato, desde então o grupo decidiu não colocar em rede reportagens exibidas em afiliadas, mas barradas na grade de noticiário nacional da emissora, por avaliar que poderiam prejudicar Bolsonaro ou ajudar Haddad.

O portal R7 também passou a ser dirigido a favor do candidato do PSL de forma explícita: "por vários dias seguidos, os destaques da rubrica 'Eleições 2018' na homepage se dividiram entre reportagens favoráveis a Bolsonaro e reportagens negativas a Haddad", diz a nota.

O SJSP relata ainda que "pressões internas pela distorção do noticiário tomaram a forma de assédio a diversos jornalistas. A tensão na redação tornou-se insuportável para alguns profissionais". A entidade também divulgou nota de repúdio à emissora, em que afirma que as denúncias recebidas serão incorporadas a um dossiê sobre a violação de garantias profissionais dos jornalistas no atual período eleitoral a ser entregue ao Ministério Público.

Folha de S.Paulo

As ofensivas e ameaças ao trabalho de jornalistas tornaram-se mais graves nos últimos dias, especialmente depois que a repórter Patrícia Campos Mello publicou, no jornal Folha de S.Paulo, reportagem investigativa em que denuncia o esquema milionário e criminoso da campanha de Jair Bolsonaro para espalhar em massa fake news prejudiciais a Fernando Haddad e ao PT pelo aplicativo de celular Whatsapp.

A jornalista denuncia que tem sido alvo de ameaças e ofensas pessoais em seus perfis em outras redes sociais, como Twitter. "Mais uma canalha imunda, militante esquerdista. Quando Bolsonaro ganhar temos que combater esses canalhas com ferro e fogo, se é que me entendem. Sem misericórdia contra esses vagabundos", é um dos exemplos de mensagems postadas por apoiadores do extremista de direita após a divulgação da matéria.

Depois da publicação da reportagem, os eleitores favoráveis a Bolsonaro impulsionaram a hashtag #FolhaPutinhaDoPT no Twitter. “Militante travestida de jornalista, código de ética do jornalismo que é bom, usa apenas pra limpar a bunda tão suja quanto seu caráter”, escreveu um internauta. “Puta vagabunda”, escreveu outro.

Em repúdio às ofensivas contra Patrícia Campos Mello, que é repórter especial da "Folha", organizações e entidades importantes como a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e o Instituto Vladimir Herzog (IVH) condenaram as agressões.

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Com apoio RBA