Escrito por: Redação CUT
Integrante da Abin, descoberto em meio às investigações, admitiu que sua missão era prevenir "riscos à imagem" de Bolsonaro
Um documento da Polícia Federal (PF) enviado à 10ª Vara da Justiça Federal do Distrito Federal no fim do ano passado, afirma que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o serviço secreto brasileiro, atrapalhou o andamento de uma investigação envolvendo Jair Renan Bolsonaro, filho número 04 presidente Jair Bolsonaro.
Segundo o jornal O Globo, o suspeito é o agente da PF Luiz Felipe Barros Felix, que havia sido cedido para a Abin e trabalhava diretamente ligado a Alexandre Ramagem, então comandante da agência e homem de confiança do presidente. Em abril de 2020, Bolsonaro inclusive indicou Ramagem para o comando da Polícia Federal, mas voltou atrás após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes suspender a nomeação do delegado. A troca na direção-geral da PF foi o estopim para o pedido de demissão do ex-juiz considerado suspeito nos julgamentos contra o ex-presidente Lula, Sergio Moro, do Ministério da Justiça. Segundo o ex-ministro, Bolsonaro queria trocar o diretor-geral da PF para ter acesso a informações e relatórios confidenciais de inteligência.
Espião para proteger presidente
Após ser flagrado numa operação da PF, o espião Luiz Felipe admitiu em depoimento que recebeu a missão de levantar informações de um episódio relacionado a Jair Renan com o objetivo era prevenir "riscos à imagem" do chefe do Poder Executivo.
A operação da Abin ocorreu em 16 de março do ano passado, quatro dias após o filho do presidente e o seu preparador físico, Allan Lucena, se tornarem alvos de uma investigação da PF. A dupla é suspeita de abrir as portas do governo para um empresário interessado em receber recursos públicos.
A tarefa do espião era levantar informações sobre o paradeiro de um carro elétrico avaliado em R$ 90 mil, que teria sido doado a Jair Renan e ao seu personal trainer por um empresário do Espírito Santo interessado em ter acesso ao governo. "O objetivo era saber quem estava utilizando o veículo", afirmou Felix, em depoimento. "O objeto de conhecimento era para saber se os informes que pudessem trazer risco à imagem ou à integridade física do presidente eram verdadeiros ou não", complementou ele, sem dar mais detalhes da operação, segundo O Globo.
O preparador físico e Jair Renan passaram a ser investigados por intermediar, com a ajuda do Palácio do Planalto, uma reunião entre um empresário do Espírito Santo e o então ministro Rogério Marinho (PL), do Desenvolvimento Regional, hoje candidato ao Senado pelo Rio Grande do Norte.
“Após analisar o caso, a PF afirmou em um relatório que a atuação da Abin foi uma "interferência nas investigações" e destacou que, após a operação ser descoberta, Allan decidiu devolver o automóvel elétrico. "A referida diligência, por lógica, atrapalhou as investigações em andamento posto que mudou o estado de ânimo do investigado, bem como estranhamente, após a ampla divulgação na mídia, foi noticiado, também, que o sr. Allan Lucena teria 'devolvido' veículo supostamente entregue para o sr. Renan Bolsonaro", diz trecho do documento da PF.