Escrito por: Redação CUT
Mandados de buscas em endereços do ex-ministro Aloysio Nunes estão sendo feitos porque ele recebeu um cartão de crédito de uma conta corrente aberta na Suíça por Paulo Preto para guardar propina
Pela terceira vez, Polícia Federal prende o ex-diretor da Dersa (empresa do governo de São Paulo, há mais de 20 anos nas mãos dos tucanos), Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto e apontado como operador do PSDB. O engenheiro trabalhou nas gestões dos ex-governadores José Serra e Geraldo Alckmin.
A 60ª fase da Operação Lava Jato, batizada de Ad Infinitum, deflagrada nesta terça-feira (19), também cumpre mandados de busca e apreensão em endereços ligados a Aloysio Nunes (PSDB), ex-senador e ex-ministro das Relações Exteriores no governo do ilegítimo Michel Temer (MDB). Nunes é atualmente presidente da estatal Investe SP, cargo de primeiro escalão da gestão do governador João Doria (PSDB).
Paulo Vieira é acusado pela Procuradoria de ter movimentado pelo menos R$ 130 milhões em contas na Suíça, entre 2010 e 2011. O dinheiro veio do esquema de pagamento de propina da Odebrecht. O envolvimento de Aloysio Nunes foi descoberto porque, em uma dessas contas, segundo a Procuradoria, foi emitido um cartão de crédito em favor do ex-senador, entre o Natal e o Ano Novo de dezembro de 2007. O cartão teria sido entregue a ele num hotel em Barcelona, na Espanha, dizem os procuradores. Na época, Aloysio era secretário da Casa Civil do governo de José Serra (PSDB).
Também estão sendo cumpridos um mandado de prisão preventiva e 12 mandados de busca e apreensão em quatro cidades do estado de São Paulo. Alguns dos endereços são ligados ao ex-ministro.
As investigações são baseadas em delações de ex-excutivos da Odebdrecht e doleiros e informações e documentos colhidos no sistema de propinas da empreiteira. Paulo Vieira é acusado de ter operado em favor da empreiteira, disponibilizando valores em espécie ao setor que comandava o pagamento de propinas.
O ex-diretor da Dersa, segundo os investigadores, também recebeu valores em suas contas na Suíça das empreiteiras Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa, igualmente investigadas na Lava Jato. Essas contas foram encerradas no primeiro trimestre de 2017, depois de o acordo da Odebrecht ter se tornado público. Em seguida, os valores foram transferidos para contas nas Bahamas. Ele também é investigação pela Lava Jato em São Paulo, que apura desvios em obras rodoviárias no estado. Mas, segundo os procuradores de Curitiba, sua atuação no governo paulista não é alvo da investigação desta terça, que se concentra em seu papel de operador da Odebrecht.
STF arquivou investigação contra ex-ministro
O ex-senador Aloysio Nunes, por sua vez, já foi alvo de um inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal) que apurava doações irregulares à sua campanha ao Senado, em 2010. Mas a investigação foi arquivada no fim do ano passado, por falta de indícios mínimos de autoria ou materialidade.
80 anos para Paulo Preto
O Ministério Público Federal pediu à Justiça, no inicio de fevereiro, que o ex-diretor da Dersa seja condenado a cerca de 80 anos de prisão na primeira ação da Lava Jato de São Paulo. Nela, o ex-diretor é réu sob a acusação de peculato (desvio de dinheiro público), inserção de dados falsos em sistema de informação e formação de quadrilha.
A Procuradoria diz que ele desviou verbas públicas em reassentamentos de moradores para a construção do trecho sul do Rodoanel, obra viária que circunda a capital paulista. O valor que teria sido desviado é de R$ 7,7 milhões e, corrigido, ultrapassa R$ 10 milhões.
Ele teria beneficiado, segundo a denúncia, quatro empregadas suas com unidades da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo) e auxílios-mudança, que deveriam ir para os atingidos pela obra.
Uma decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, que já libertou Paulo Preto nas outras vezes em que foi preso, deve levar esse caso à prescrição. A decisão liminar (urgente e provisória) do ministro, assinada na semana passada, anula a fase final do processo e reabre a possibilidade de produção de provas por parte dos réus, fazendo com que a tramitação seja mais demorada.
A prescrição de parte dos crimes atribuídos por delatores a Preto é dada como certa por investigadores do caso em São Paulo. Isso porque ele completa 70 anos no dia 7 de março, daqui a quatro meses, e a possibilidade de que as apurações sobre o principal caso em que ele é citado avancem depende de documentos que ainda serão despachados pelo Supremo Tribunal Federal.