Escrito por: Redação RBA
Ex-candidata condenou afirmação de Bolsonaro associada à pedofilia como uma das mais “graves”, e lembrou que mais de 60% dos casos de violência doméstica são contra crianças e adolescentes
A senadora Simone Tebet (MDB-MS) condenou a fala do presidente Jair Bolsonaro (PL), associada à pedofilia, como uma das “mais graves” já feitas pelo mandatário. Candidata à Presidência da República no primeiro turno, ela já havia classificado como “criminosas” as declarações de Bolsonaro, que viralizaram no último final de semana, insinuando que imigrantes venezuelanas menores de idade estariam em suposta situação de prostituição.
Dessa vez, em vídeo divulgado nesta quarta-feira (19) a senadora voltou a comentar o caso, alertando que a atitude do atual presidente “estimula e se soma” na estatística da violência contra as mulheres e meninas.
Na ocasião, em entrevista ao canal do YouTube Paparazzo Rubro-Negro, Bolsonaro comentava que estava andando de moto no Distrito Federal quando viu “umas menininhas, três, quatro, bonitinhas, de 14, 15 anos, arrumadinhas numa comunidade. E vi que eram meio parecidas. Pintou um clima, voltei. ‘Posso entrar na sua casa?’. Entrei. Tinham umas 15, 20 meninas sábado de manhã se arrumando. Todas venezuelanas. E eu pergunto: meninas bonitinhas de 14, 15 anos se arrumando no sábado para quê? Ganhar a vida”, afirmou.
Bolsonaro estimula violência
De acordo com Simone Tebet, o relato de Bolsonaro deixa claro a sexualização de crianças e adolescentes, e também sua omissão diante do suposto crime de exploração sexual. “Essa fala do presidente da República, entre tantas falas infelizes e equivocadas que ele já proferiu, – e não foram poucas –, foi uma das mais graves. Tocou não só no coração das mulheres brasileiras, mas dos pais humildes que têm filhas meninas”, iniciou a senadora.
“Estamos falando de um senhor de meia idade que simplesmente ao ver duas meninas ‘bonitinhas’, menores de idade, diz o seguinte, ‘olha eu senti alguma coisa sexual’. E teve a coragem de confirmar que pediu para entrar no ambiente em que elas moravam e ali foi surpreendido porque não havia apenas duas, mas haviam várias pessoas. Ao mesmo tempo em que ele diz entrar um local, que ele disse achar, que achava, que era um local, segundo ele, de prostituição, sabendo que isso é crime, como ele não aciona as autoridades públicas”, contesta Simone Tebet.
Ao final do vídeo, a ex-presidenciável também chama atenção para a importância de tratar o tema com responsabilidade que, como destaca, diz respeito à violência contra a mulher. “É um equívoco dizer que ela (violência) acontece majoritariamente com a mulher adulta, 60% da violência doméstica acontece contra crianças de 0 a 14 anos. E ter um presidente que estimula ou que se soma na estatística é algo estarrecedor”, conclui.
Pretenso pedido de desculpa
A crítica da senadora é compartilhada também por profissionais que atuam no atendimento à vítima de violência sexual. Os especialistas apontam que a declaração do candidato à reeleição contribui para “sexualizar” os corpos de meninas e a cultura do estupro.
Para tentar conter o dano, a campanha de Bolsonaro publicou, ontem (18), um vídeo em que o presidente tenta se desculpar pelo caso. Na gravação, em que ele parece ler um texto, o candidato do PL insinua que se suas “palavras, por má-fé, foram tiradas de contexto, de alguma forma foram mal entendidas ou provocaram algum constrangimento às nossas irmãs venezuelanas, peço desculpas”.
O vídeo foi divulgado depois que a equipe de Bolsonaro tentou fazer com que algumas das meninas, que foram citadas por ele, publicassem mensagem dizendo que tudo havia sido um mal entendido. De acordo com reportagem do jornal O Estado de S.Paulo, a tentativa, porém, foi frustrada, uma vez que as jovens e suas famílias ficaram receosas com uma exposição ainda maior.
Diplomacia fake
Na publicação, o mandatário aparece ao lado da esposa, a primeira dama Michelle Bolsonaro e da advogada e professora universitária Maria Teresa Belandria. Essa última é apresentada na gravação como “embaixadora”. No entanto, Belandria não possui carreira diplomática e nunca foi nomeada pelo governo da Venezuela como representante do Brasil, conforme confirmou o Brasil de Fato.
Na verdade, a advogada é assim considerada pelo governo federal por ter sido indicado pelo ex-deputado venezuelano Juan Guaidó, opositor e autoproclamado presidente do país, reconhecido por Bolsonaro. Mas Maria Teresa Belandria nunca ocupou cargo diplomático ou sequer um cargo público na Venezuela.