Escrito por: Helena Martins, Eduardo Barbabela, Thayla Souza, Alexandre Arns Gonzales *, Congresso em Foco
Professores ligados ao projeto Observatório das Eleições 2022, uma iniciativa do Instituto da Democracia e Democratização da Comunicação, analisaram repercussão nas redes sociais
O relato de Jair Bolsonaro de que “pintou um clima” entre ele e garotas venezuelanas, as quais o presidente associou à prostituição, repercutiu em diversas esferas. A situação fez Bolsonaro gravar uma live na madrugada de domingo, depois um vídeo, ao lado de Michele Bolsonaro, sobre o tema.
O caso foi parar no Supremo Tribunal Federal (STF), onde o ministro Alexandre de Moraes proferiu decisão polêmica por vetar menção à fala do presidente por parte da campanha de Lula, o que impediu o candidato de trazer a polêmica à tona no debate da Band abertamente.
Nas redes, André Janones comemorou a repercussão, que pareceu conter ataques bolsonaristas. O Observatório das Eleições monitorou as menções ao caso no Twitter, Facebook, Instagram e YouTube, bem como em grupos bolsonaristas no WhatsApp, a fim de averiguar se o tema furou a bolha, o que poderia ampliar a rejeição de Bolsonaro nesta apertada reta final.
Foram monitoradas as conversas sobre o tema entre os dias 14 (sexta-feira) e 18 (terça-feira). Para tanto, buscamos menções a: “pedofilia”, “pedófilo”, “meninas venezuelanas”, “pintou um clima” e “assédio”. Os dados apontam que o tema gerou repercussão. A discussão foi bem mais frequente nas redes do campo lulista, mas também alcançou o bolsonarista, forçando-o a responder. O campo bolsonarista tende a não replicar conteúdos críticos ao candidato, como é evidente no caso dos grupos de WhatsApp, mas, neste caso, não foi possível silenciar nas redes abertas.
No Twitter, foram 1.048.576 mensagens sobre o tema, entre postagens únicas e replicações. Os maiores números de reações e compartilhamento foram registrados nas postagens de Felipe Neto, Jones Manoel, Janja Lula, Marina Silva, Maurício Ricardo e Levi Kaique, todos críticos à fala de Bolsonaro. O único comentarista de direita que ganhou destaque foi o próprio filho Carlos Bolsonaro, com o compartilhamento de um vídeo, acompanhado da frase “Meninas venezuelanas: compartilhe e restabeleça a verdade diante da simples verdade!”, o que mostra que o bolsonarismo teve que ser reativo em relação ao tema.
No Instagram, o campo que está apoiando o ex-presidente Lula predominou com larga vantagem. Das dez postagens que mais repercutiram, oito foram associadas a críticas a Bolsonaro (das páginas e perfis Quebrando Tabu, Mídia Ninja, Guilherme Boulos, Seremos Resistência e Manuela D’Ávila), uma jornalística (Folha de S. Paulo) e uma bolsonarista (Pedro Delfino). Quando somadas, as interações das páginas monitoradas, foram 943.078 lulistas, 88.103 bolsonaristas e 81.442 em veículos noticiosos. A diferença dos números indica que o campo lulista falou bem mais sobre o assunto, mas que ele teve repercussão, ainda que menos expressiva, fora dessa bolha.
Outra rede em que o bolsonarismo não levou vantagem foi o YouTube, no qual 268 contas trataram sobre o tema. O número de visualizações foi de quase vinte milhões. O total de engajamento ultrapassou 1,3 milhões de interações. Canais jornalísticos tiveram maior projeção.
Confira aqui a íntegra do artigo elaborado por Helena Martins, Eduardo Barbabela, Thayla Souza, Alexandre Arns Gonzales, no âmbito do projeto Observatório das Eleições 2022, uma iniciativa do Instituto da Democracia e Democratização da Comunicação.