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Pioneiro, curso em SC aponta caminhos para jovem agricultor

Iniciativa leva agricutores familiares à universidade para discutir perspectiva no campo

Publicado: 12 Novembro, 2015 - 19h01

Escrito por: Luiz Carvalho

Fabiane Altíssimo
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Turmas formadas na Universidade Federal da Fronteira Sul


Em qualquer análise sobre o futuro do movimento sindical, a necessidade de renovação aparece no topo da lista dos desafios. Cativar, preparar e manter na luta um dirigente é algo complexo e exige muito investimento.

A Fetraf-Sul (Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul) buscou na Academia uma saída para discutir o desenvolvimento de lideranças e alternativas de permanência do jovem no campo.

Em parceria com a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) e apoio do Ministério do Desenvolvimento Agrário, a entidade conseguiu formar na última sexta-feira (6) a primeira turma do curso “Capacitação de jovens em agricultura sustentável, gestão e inovação tecnológica”. Ou, se preferir o nome utilizado nas bases, “Projeto juventude semeando terra solidária.”

Foram dois anos e meio e 12 módulos de um projeto piloto pelos quais passaram 80 trabalhadores nos campus de Erexim (RS), Chapecó (SC), Realeza (PR). Mas o número de envolvidos em todo o processo é ainda maior, cerca de 4 mil pessoas, já que um dos requisitos era repassar o conhecimento nas regiões de origem.

Coordenadora de Juventude Fetraf-SC, Jucimara Araldi, ressalta que o convênio com a universidade é uma resposta da Academia à luta dos movimentos sociais na região pelo ensino superior e público.

“Esse curso é um sonho que vem desde 2010, de colocar a agricultura familiar dentro da faculdade, desde quando criamos universidade por meio da luta do movimento de esquerda, principalmente, dos trabalhadores da região Sul”, diz.

Ela explica que o impacto da formação política para os jovens campesinos vai além dos espaços onde as famílias produzem. “Temos pessoas que atuam em vários ambientes, desde lideranças da igreja até pessoas que trabalham no Executivo, e elas levam também para esses lugares a consciência e a defesa de um modelo agrícola que produz 70% dos alimentos presentes na mesa dos brasileiros”, diz.

Jucimara explica que o objetivo do programa inclui discutir formas agroecológicas de cultivo e a relação com mercados institucionais por meio do PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e do PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar).

“Eles aprendem como negociar e como se inserir nesse ambiente. Discutem questões como dialogar com as cooperativas e qual lista de alimentos adquirem”, explica.

Novo horizonte

O agricultor familiar Jonas Ansolin ressalta que a transformação do cotidiano é o maior aprendizado.  Morador de Dionísio Cerqueira (SC), ele enfrentou nos últimos dois anos e meio mais de duas horas de viagem para frequentar o curso.

Além do conhecimento adquirido em visitas técnicas a propriedades de produção orgânica e aulas de turismo rural, ele conta que as aulas afetaram até mesmo sua visão sobre as relações de gênero.

“Foi bom para nossa formação científica e técnica, mas, principalmente, humana. Tive grande aprendizado em meus hábitos de vivência, viemos de uma família patriarcal, tenho já a minha construída, mas ali percebi a importância de o companheira  e a companheira ter o mesmo peso numa decisão”, explica.

Coordenador-geral do programa pela Universidade Federal da Fronteira Sul, Humberto Rocha, explica que ao final do projeto, os cursistas tiveram que apresentar um projeto para a propriedade em que vivem, tornando-a mais atrativa e sustentável.  

Esse caráter prático, ressalta, diretamente relacionado ao princípio freiriano de aprendizado a partir da realidade do aluno, foi um ponto essencial na formação.

“A maior parte dos alunos não tinha formação acadêmica e, portanto, a aplicação era prática, mas sem perder o rigor técnico e sem subestimar o conhecimento que já traziam. Isso é Paulo Freire, ninguém aprende sozinho, temos que estabelecer diálogo e troca na aprendizagem”, disse.