Plenária da Contracs debate desafios da organização sindical
Trabalhadores do Comércio e Serviços constroem estratégias de resistência às reformas
Publicado: 26 Julho, 2017 - 17h01 | Última modificação: 21 Março, 2018 - 19h06
Escrito por: CUT, com informações de Adriana Franco e Marina Maria, da Contracs
A Contracs (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Comércio e Serviços) realiza, desde a segunda-feira (24/07), a 3ª Plenária Nacional da entidade, na cidade de Praia Grande (SP), reunindo cerca de 200 delegados sindicais para traçar o plano de lutas que orientará a ação da Confederação e das entidades filiadas pelo próximo período. . Na abertura do evento, eles participaram de solenidade de comemoração dos 27 anos da Contracs/CUT.
Entidade classista que hoje representa cerca de 3 milhões de trabalhadores no comércio e serviços em todo Brasil, a Contracs/CUT nasceu nos anos 1990, motivada pela proposta da Central, que reconheceu a necessidade de criar uma nova estrutura de organização para os trabalhadores do setor do comércio, que até então não contavam com representação unificada em nível nacional.
A Confederação teve início com a união dos sindicatos de comerciários do Piauí, Maranhão, Minas Gerais, Espírito Santo e Santa Catarina, que em 1987 se organizaram para formar uma comissão provisória, com o objetivo final de criar o DNC (Departamento Nacional de Comerciários), embrião da Contracs/CUT.
Em 1990, foi realizado o congresso de fundação do departamento, que daria início a toda uma história de luta e resistência que já dura 27 anos. A partir do congresso, foi possível traçar um perfil da categoria, composta em grande parte por jovens, estudantes, menores e mulheres. Na ocasião diagnosticou-se um grande número de pequenas empresas, com alta rotatividade e salários baixos, destacando que os maiores salários, na época, estavam entre os comissionados.
Organização sindical
Dentre as mesas de debates da Plenária, uma delas debateu “Mercado de trabalho e novas estratégias de organização sindical” com o coordenador de relações sindicais do Dieese, José Silvestre Prado, e com o professor da Unicamp e diretor do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho (Cesit), José Dari Krein.
Silvestre citou que as reformas aprovadas e em tramitação estão interligadas. “A pauta entreguista do governo é uma coisa que nunca tinha presenciado e que este governo tem feito em nome de ajustar as contas públicas” afirmou inconformado que não haja uma reação a altura para barrar o que está acontecendo no Brasil.
O coordenador de relações sindicais do Dieese pontuou algumas estratégias que podem ser adotadas pelo movimento sindical para pensar diante do novo cenário e especialmente da reforma trabalhista e das mudanças que serão promovidas, tais como: não se desesperar diante da legislação que entrará em vigor em 120 dias; não negociar individualmente nem aceitar qualquer acordo assim como entender e pensar estratégias voltadas para cada setor, de forma organizada.
“Acho normal que todos estejam pensando em quais serão as alternativas e as saídas. Mas temos que tentar achar uma saída coletiva e não individual.” afirmou Silvestre.
José Dari Krein, do Cesit, foi contundente ao dizer que os sindicatos precisam assumir seu papel de protagonismo na provocação dos trabalhadores e na promoção das ações.
“Não dá para pensar em uma sociedade democrática sem os sindicatos para fazer oposição na relação do capital-trabalho.” disse Dari. Para ele, a nova classe trabalhadora será como os setores representados pela Contracs com categorias heterogêneas, que dificultam a organização sindical.
“O mundo do trabalho que está se figurando é desfovarável aos trabalhadores e à organização sindical. Os sindicatos foram as instituições que mais foram atacadas porque é a única que pode limitar a ação do empregador. O sindicato sempre remou contra a maré e os desafios são imensos. Não temos alternativas: é fazer o movimento sindical se revitalizar e reinventar a forma de organizar coletivamente. Vamos estudar a classe trabalhadora e vamos pensar que o agente da ação deve ser o sindicato - e não responsabilizar o trabalhador pela nossa prática - e sempre pensar se temos capacidade de aglutinar os trabalhadores.” resumiu Dari.
Já entre os caminhos apontados pelo diretor do Cesit estão se reconectar com a sociedade; desenvolver o trabalho de base; construir uma ampla aliança para se contrapor ao projeto em curso e ter muita ousadia para se reiventar aprendendo com a história. “O futuro depende de todos nós. Vivemos em uma sociedade em que a luta de classe permenece e as contradições são latentes e evidentes, mas somos um agente que tem capacidade estratégica e recursos de poder.” finalizou.
Fortalecimento de acordos coletivos
Em outro momento da plenária, foi apresentado o projeto de análise das garantias presentes em acordos e convenções coletivas de trabalho das entidades sindicais filiadas à Contracs - SACC, desenvolvido em parceria com o Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos). Esse material é um instrumento de luta no aprimoramento das negociações coletivas e no reconhecimento dos avanços duramente conquistados pelas categorias.
Coordenando a apresentação, o dirigente da Contracs/CUT Julimar Roberto de Oliveira, parabenizou a construção do material e a iniciativa de sistematizar essas informações em um período em que, com a aprovação da nova legislação trabalhista, as negociações coletivas assumem um papel muito maior na garantia dos direitos. “Com certeza é muito importante que cada sindicato tenha acesso a esse material para fortalecer as negociações coletivas e socializar com os trabalhadores, pois esse conhecimento é um instrumento de luta e organização das nossas categorias, visando sempre a melhoria das cláusulas já conquistadas e a implementação das bandeiras de luta gerais e específicas de cada região”, afirma o sindicalista.
Para Luiz Augusto, do Dieese, é necessário compreender a fundo as negociações e avançar, por meio delas, no que pode ser perdido com a nova legislação trabalhista. “Conhecemos categorias que conseguiram por meio de seus acordos cláusulas como estabilidade, aposentadoria, transporte gratuito pelas empresas, e outros pontos que podem ser afetados a partir de novembro, quando a reforma entra em vigor. Esse é o momento em que precisamos descobrir como os trabalhadores serão capazes de manter seus direitos mediante as ofensivas do parlamento, sobretudo o direito a aposentadoria”, afirma Luiz Augusto.