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PM tucana ataca cracolândia: golpe vai mostrando a cara

Tropa de choque ocupa região central de SP e ataca políticas humanistas de saúde mental

Publicado: 05 Agosto, 2016 - 13h47 | Última modificação: 05 Agosto, 2016 - 15h27

Escrito por: Isaías Dalle

Reprodução/SPTV-Rede Globo
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O programa Braços Abertos da prefeitura paulista atua na área atacada pela PM

Na manhã desta sexta-feira, 5 de agosto, um efetivo de 500 soldados da polícia militar do Estado de São Paulo invadiu a cracolândia, na região central da capital paulista, e dispersou as pessoas com jatos d’água, bombas de gás lacrimôgênio, carros blindados, escudos, cassetetes. Portas foram arrombadas, dirigentes de movimentos pela moradia presos.

Entre os “inimigos”, pessoas humildes, desarmadas, algumas usuárias de drogas mas, – e aí reside talvez o detalhe mais importante de mais essa demonstração de truculência policial – também, pessoas em franco processo de recuperação da dependência química e que já não mais ocupam as ruas, e sim habitações financiadas pelo poder público municipal, que realizam atividades produtivas e fazem parte do programa “Braços Abertos”.

A PM afirmou, aos meios de comunicação, que a operação destinava-se a prender traficantes. A presidenta da Federação Nacional dos Psicólogos (Fenapsi/CUT), Fernanda Magano, tem outra interpretação.

Pessoas que participam do programa Braços Abertos comemoram primeiro dia de trabalho. João Luiz/SecomPMSPPessoas que participam do programa Braços Abertos comemoram primeiro dia de trabalho. João Luiz/SecomPMSP“Se o objetivo é prender traficantes, isso poderia ser feito através dos serviços de inteligência, identificando os traficantes e detendo os que forem realmente envolvidos no tráfico. Não precisaria enviar a tropa de choque e dispersar todas as pessoas que estavam na área”, comenta a dirigente, militante da Frente Estadual de Luta Antimanicomial.

Faceta do golpe

Para ela, a ação desta manhã é mais uma expressão do golpe em curso no Brasil. “Isso está engendrado com o golpe porque quer destruir as políticas públicas de saúde mental que tratam os dependentes com respeito e acolhimento. A ação está afinada com a visão, já expressada publicamente, do atual ministro do Desenvolvimento Social e Agrário, Osmar Terra”, aponta Fernanda.

Terra, lembra a dirigente, é médico e, como deputado federal, apresentou projetos para enfraquecer políticas de acolhimento e recuperação de dependentes, como o Braços Abertos e os CAPS’s (Centros de Atendimento Psicossocial), e que priorizam a ação das chamadas “comunidades terapêuticas”, como são conhecidas as chácaras, sítios e clínicas de internação. “Essas entidades são privadas, não são laicas, e geram lucro. O que esse ministro pretende é retroceder nos avanços das últimas décadas das políticas de saúde mental”.

Fernanda não citou durante a entrevista, mas vale lembrar que também o atual ministro da Justiça, Alexandre de Morais, ex-comandante-em-chefe da mesma PM paulista que hoje atacou a cracolândia, deu fartas mostras de que questões sociais, na visão dele, são casos de polícia.

Atualização desta matéria, às 15h19: A ação da PM na manhã desta sexta resultou na prisão de traficantes, inclusive instalados no antigo Cine Marrocos, na rua Conselheiro Crispiniano, local que, segundo a própria prefeitura de São Paulo, não seria um núcleo de verdadeira luta pela moradia. Lá, segundo a prefeitura, cobravam-se inclusive aluguel de moradores e havia, de fato, tráfico de drogas. A "coordenação" do Marrocos não seria ligada, segundo a prefeitura, nem ao MTST nem a grupos próximos ao PT.

Leia entrevista do prefeito Fernando Haddad clicando aqui.

Conheça mais sobre Osmar Terra clicando aqui.

Conheça melhor os resultados do programa Braços Abertos clicando aqui.