Escrito por: Redação RBA
Deputada bolsonarista diz que tomou conhecimento de ações da PF pela imprensa. Operação Placebo investiga desvios de recursos. De aliado a desafeto, Witzel vira alvo
A Polícia Federal (PF) realizou ação de busca e apreensão na manhã desta terça-feira (26) no Palácio das Laranjeiras, residência oficial do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC). O objetivo alegado é apurar indícios de desvios de recursos destinados ao atendimento do estado de emergência de saúde pública devido ao novo coronavírus. São cumpridos 12 mandados de busca e apreensão na chamada Operação Placebo.
Um dos alvos o governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel. Policiais federais deslocados de Brasília por volta das 5h30. A antiga residência, particular, ocupada por Witzel, também foi alvo da ação da PF. Também foram vasculhados o escritório de advocacia da mulher dele, Helena Witzel, e a casa do ex-subsecretário de Saúde Gabriell Neves, preso no último dia 7.
A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) havia anunciado na véspera ações da PF em torno de atos de governadores por conta da pandemia. “A gente já teve algumas operações da Polícia Federal que estavam ali, na agulha, para sair, mas não saíam. E a gente deve ter, nos próximos meses, o que a gente vai chamar, talvez, de Covidão ou de… não sei qual vai ser o nome que eles vão dar… mas já tem alguns governadores sendo investigados pela Polícia Federal”, disse Carla Zambelli a uma emissora gaúcha.
As revelações da deputada ocorrem quatro dias depois de revelados conteúdos da reunião ministerial de 22 de abril. A reunião deixou exposta a intensão de Bolsonaro de intervir na Polícia Federal. Em princípio, para poder proteger “filhos e amigos”.
Witzel, eleito na onda bolsonarista disseminada nas eleições de 2018, vem colecionando confrontos e desacordos com Bolsonaro. A ruptura ficou mais acentuada durante a crise do coronavírus. Mas surgiu desde o momento em que o governador do Rio de Janeiro se apresentou como possível candidato na disputa presidencial de 2022.
O governo do Rio é alvo de suspeitas de superfaturamento na compra de testes rápidos para covid-19 em caráter emergencial.
A cientista política Jacqueline Muniz afirmou comentou na Rádio Brasil Atual não ter elementos para avaliar o mérito da operação nem desmerecer seus objetivos. Mas lembra a fala da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, na reunião ministerial do dia 22. “Na reunião, teve uma ministra dizendo que tem de prender governador, prefeito… Fica a pergunta no ar.”
Na ocasião, Damares afirmou: “A pandemia vai passar, mas governadores e prefeitos responderão processos e nós vamos pedir inclusive a prisão de governadores e prefeitos. E nós estamos subindo o tom e discursos tão chegando. Nosso ministério vai começar a pegar pesado com governadores e prefeitos”.
A investigações PF sobre Witzel são sigilosas. A deputada Carla Zambelli disse a ao site Congresso em Foco que teria recebido informações por meio da imprensa. O vice-líder do PCdoB na Câmara, Márcio Jerry (MA), considerou o episódio prova da tentativa de interferência do governo na PF. “Notem a gravidade: deputada Carla Zambelli anuncia operações da Polícia Federal contra governadores. Dá até o nome da operação! Um absurdo o governo de Jair Bolsonaro insistir na tentativa de transformar uma instituição do estado brasileiro em polícia política para perseguir adversários”, afirmou Jerry.