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Polícia indicia sete pessoas por tortura e extorsão em supermercado de Canoas (RS)

Cinco seguranças e o gerente vão responder também por extorsão mediante sequestro. Já o subgerente da loja, segundo a polícia, cometeu o crime por omissão

Publicado: 16 Dezembro, 2022 - 11h16 | Última modificação: 16 Dezembro, 2022 - 13h00

Escrito por: CUT-RS

Reprodução/Vídeo
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A Polícia Civil terminou, nesta quinta-feira (15), a investigação e indiciou sete pessoas por  tortura contra dois clientes do supermercado Unisuper, em Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre que, supostamente, estariam roubando dois pacotes de carne, de R$ 100 cada. 

Cinco seguranças e o gerente do Unisuper ainda vão responder também por extorsão mediante sequestro, conforme reportagem do jornal Zero Hora. Já o subgerente da loja, segundo a polícia, cometeu o crime por omissão. 

Segundo o delegado Robertho Peternelli, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Canoas, as imagens de câmeras de vigilância, que foram recuperadas por meio de perícia após terem sido apagadas, foram essenciais para que a polícia entendesse como se deu o crime.

A violência ocorreu no dia 12 de outubro e as imagens das câmeras de segurança foram exibidas durante reportagem no Fantástico pela RBS TV, afiliada à Rede Globo, no último dia 4.

Dois homens torturados no depósito do supermercado

Durante quase uma hora, dois homens, de 32 e 47 anos, um deles negro, foram agredidos dentro do depósito do mercado com socos, chutes, golpes de pedaços de madeira e pallets.

“Com as imagens e depoimentos, verificamos que o gerente e as pessoas que atuavam na segurança vão responder pelo crime de tortura e pelo crime de extorsão mediante sequestro. Todos colaboraram para o resultado. Verificamos que o subgerente não tem uma conduta de agressão, uma conduta de proferir ameaças, pelo menos pelo que as imagens nos trazem. Ele terá essa tipificação um pouco diferenciada”, disse o delegado.

Num primeiro momento, segundo o responsável pela investigação, o crime de tortura foi cometido com intuito de obter informações, já que a primeira vítima foi flagrada furtando peças de picanha. Este homem admitiu em depoimento que estava furtando as carnes.

Ao longo dessas agressões, o homem relatou que havia outro aguardando no estacionamento. Este segundo foi levado até o depósito e também foi espancado – ele alega que só estava fazendo uma corrida para o outro. “Neste momento, a tortura passou a ser praticada com intuito de castigo”, explicou Peternelli.

Extorsão mediante sequestro

A polícia avaliou que durante a tortura foi cometido pelo gerente e pelos cinco seguranças um segundo crime, que é a extorsão mediante sequestro. Isso porque as vítimas precisaram pagar um valor para serem liberadas.

Inicialmente teriam sido cobrados R$ 800, mas um dos homens pagou R$ 644. A polícia obteve o comprovante desse pagamento, feito no cartão.

“O que nós percebemos é que as agressões só cessaram após o pagamento do valor. Embora o crime não se inicie como uma extorsão mediante sequestro, eles acabam seguindo para isso ao longo da tortura”, destacou o delegado.

Peternelli frisou que a tortura não se configura somente pelas agressões, mas também pelas ameaças, já que as vítimas relataram que, por diversas vezes, os agressores as intimidaram, dizendo que elas seriam mortas caso procurassem as autoridades.

A polícia chegou a pedir a prisão dos investigados durante a apuração do caso, mas o pedido não foi atendido. Ainda foi realizado indiciamento pelo crime de dano, já que o celular e um cartão de uma das vítimas foram quebrados.

Racismo estrutural

O segundo homem a ser levado para dentro do depósito e ser agredido, que é negro, relatou aos policiais que foi xingado com ofensas racistas. No entanto, segundo o delegado, não foi possível identificar qual investigado foi o autor das ofensas. Por isso não houve indiciamento por injúria racial. Ainda assim, a polícia citou no inquérito o racismo estrutural.

“No momento em que a primeira pessoa foi abordada, que era quem efetivamente estava participando do furto, essa pessoa disse quem estava com ela. Quando eles chegaram no veículo e viram que era um negro, teriam comentado: ‘Tinha que ser coisa de negrão’. Apesar de serem distribuídas entre os dois, as agressões mais violentas foram em cima dessa segunda pessoa. As agressões que culminaram até com o estado de coma, ressaltou o delegado.

O homem chegou a ter cinco dentes quebrados e precisou ser colocado em coma induzido, após ter sido encaminhado para o Hospital de Pronto Socorro (HPS), em Porto Alegre. No relato dele à polícia, informou que a todo tempo os dois eram ameaçados de morte.

Conforme Peternelli, deve ser repassado para outra delegacia o caso de suspeita de furto por parte das vítimas das agressões. O policial diz que algumas questões precisam ser aprofundadas neste ponto. É preciso esclarecer, por exemplo, quem estaria subtraindo os produtos, já que um dos agredidos estava em um carro, na rua, até ser levado pelos seguranças ao depósito – ele nega ter auxiliado nos furtos.

A investigação vai precisar apontar também se o furto chegou a ser consumado ou não, já que o homem foi abordado ainda dentro do mercado, embora estivesse com as peças de carne sob as roupas. “Não temos um lado, a polícia como um todo quer apurar todos os crimes que aconteceram”, esclareceu o delegado.

Três dos seguranças são policiais militares

Os sete investigados pelo crime foram identificados pela Polícia Civil e estiveram na delegacia de Canoas. No entanto, eles preferiram permanecer em silêncio e só se manifestar em juízo. Jairo Estevan da Veiga era subgerente do supermercado e Adriano Luginski Dias trabalhava como gerente.

Entre os suspeitos, cinco são seguranças, sendo três deles policiais militares. São investigados os soldados Gustavo Henrique Inácio Sousa Dias e Romeu Ribeiro Borges Neto, que ingressaram na Brigada Militar em 15 de março de 2021 e estão em estágio probatório, e um policial aposentado, o primeiro-tenente da reserva Gilmar Cardoso Rodrigues.

A Brigada Militar informou que abriu um inquérito policial militar para apurar a conduta dos envolvidos e que os dois soldados foram enviados para serviço administrativo durante a investigação do caso.

Com informações de Zero Hora.