Escrito por: Redação RBA
O novo suspeito é Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como Dos Santos. Ele é irmão de Pelado, preso na semana passada
A Polícia Federal do Amazonas confirmou na noite desta terça-feira (14) a prisão de temporária de mais um suspeito de envolvimento no desaparecimento do indigenista Bruno Araújo Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, na região do Vale do Javari, no estado.
Os dois estão desaparecidos desde o dia 5 de junho, quando foram vistos pela última vez chegando à comunidade São Rafael, por volta das 6h. Eles estavam a caminho da cidade de Atalaia do Norte, onde deveriam ter chegado cerca de duas horas depois, o que não ocorreu. O novo suspeito é Oseney da Costa de Oliveira, de 41 anos, conhecido como Dos Santos. Segundo a Polícia Civil do Amazonas, responsável pela prisão, ele é irmão de Amarildo da Costa de Oliveira, o Pelado, que cumpre prisão temporária, desde a última quinta (9), por porte de munição de uso restrito das Forças Armadas. Amarildo também é suspeito por possível envolvimento no caso.
Testemunhas disseram que sua lancha passou em alta velocidade atrás do barco onde estavam o indigenista e o jornalista. Os dois viajavam em uma embarcação nova, com motor de 40 HP. Mas a lancha apreendida com Pelado tem motor de 60 HP e é mais veloz. No barco, a polícia encontrou vestígios de sangue. O material foi encaminhado para perícia, que ainda não divulgou os resultados. SuspeitasDe acordo com o delegado Alex Perez, que comanda a delegacia em Atalaia do Norte, duas testemunhas “colocaram” Pelado e Oseney “no local do suposto crime”, descreveu ao jornal Folha de S. Paulo. Perez completou que o possível crime investigado é o de homicídio qualificado.
Oseney teve prisão temporária decretada pela Justiça. Segundo a PF ele foi interrogado na noite de ontem e ainda passará por audiência de custódia. Em comunicado, a corporação também disse ter cumprido dois mandados de busca e apreensão na comunidade de São Gabriel, onde mora Pelado. Alguns cartuchos de arma de fogo e um remo foram apreendidos, segundo a Polícia Federal. De acordo com a Folha, as evidência colhidas até agora também reforçam a tese de que a pesca e a caça ilegal estejam por trás dos supostos crimes relacionados ao desaparecimento.
Pesca e caça ilegal
A região do desaparecimento, no rio Itaquaí, é marcada por forte exploração ilegal do pirarucu e de tracajás, principalmente dentro da Terra Indígena Vale do Javari – a poucos quilômetros do local. Há suspeitas de que a atividade ilegal seja financiada pelo narcotráfico, presente em toda a tríplice fronteira do Brasil com Peru e Colômbia. Em 2019, uma base de fiscalização da Fundação Nacional do Índio (Funai) foi atacada a tiros por invasores. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que houve um escalada na violência letal em cidades de floresta na região Norte do país, de 9,2% entre 2018 e 2020.
O cenário levou a um reforço de vigilância do território – que abriga a maior concentração de povos indígenas isolados no mundo – União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), à qual Bruno prestava serviços. A polícia suspeita que o conflito entre pescadores ilegais com as lideranças que atuam em defesa da TI possa ter motivado um possível crime contra o trabalho de denúncia do indigenista e do jornalista, vítimas de uma emboscada. A hipótese foi reforçada após mergulhadores localizarem, no domingo (12), uma mochila, notebook e roupas pessoais apontados como de Bruno e Dom. Os objetos estavam amarrados a uma árvore submersa.
Lobby do crime
A região da TI Vale do Javari também é alvo de invasões de garimpeiros e madeireiros ilegais. A última operação em que Bruno atuou como servidor da Funai, em 13 de setembro de 2019, resultou em perdas consideráveis ao garimpo ilegal. Porém, 15 dias depois, ele foi demitido do cargo de coordenador-geral de Índios Isolados e de Recente Contato.
Reportagem Carlos Madeiro para o UOL nesta quarta (15) mostra que, desde então, o órgão não fez nenhuma grande ação na região ameaçada por invasores. Três dias depois da operação Korubo, como foi oficialmente chamada, representantes do garimpo foram recebidos pelo então ministros da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Outros integrantes do governo de Jair Bolsonaro (PL) também estavam presentes na reunião. Houve ainda que um segundo encontro, em novembro, que contou também com a presença do então ministro de Infraestrutura Tarcísio de Freitas.
Ainda ontem, o delegado da Polícia Federal Alexandre Saraiva denunciou o envolvimento de políticos bolsonaristas com o que chamou de “Bancada do Crime na Amazônia”.
Entre os citados estão os senadores Jorginho Mello (PL-SC) e Telmário Mota (Pros-RR), além da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP).
O policial prestou serviços por mais de uma década em investigações na floresta. Um dossiê do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) e da Associação Indigenistas Associados (INA) também revela que Funai foi transformada em um órgão de políticas anti-indigenistas sobre o governo Bolsonaro.