Por "ordem de Bolsonaro", grilagem de terra pública no MT tem conivência do Incra
Cerca de 100 famílias sofrem intimidações enquanto aguardam cumprimento de sentença
Publicado: 29 Julho, 2020 - 12h44
Escrito por: Igor Carvalho Brasil de Fato | São Paulo (SP)
Uma fatia de 14,7 mil hectares, de um total de 211 mil hectares da Gleba Nhandú, em Novo Mundo, no Mato Grosso (MT), é ocupada pela Fazenda Araúna. Mas não deveria. O Tribunal Regional Federal (TRF) da 1º Região decidiu em setembro de 2019 que a área havia sido alvo de grilagem - ou seja, falsificação de documentos de posse de terras públicas - e determinou que ela deve ser usada para a Reforma Agrária.
A decisão determinou que os funcionários e a estrutura da Fazenda Araúna saíssem em até 60 dias. Porém, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), órgão que deveria requerer a posse das terras para destiná-las às famílias que aguardam a retirada da estrutura e funcionários da Fazenda Araúna, para partilha do território, se recusa a intervir na área.
Em uma das notas que emitiu sobre o assunto, o Incra informou que seguindo a orientação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), “suspendeu a criação de novos assentamentos para a Reforma Agrária”.
Diante da morosidade do Incra, 100 famílias do acampamento Boa Esperança estão acampadas ao lado da fazenda e se tornaram alvo de violência dos funcionários da Fazenda Araúna. Ivanildo Teixeira, superintendente do órgão na região, já afirmou que “não irá adotar nenhuma medida para a criação de Projetos de Assentamento na região.”
De acordo com os acampados, policiais fardados e armados foram até a área e humilharam as famílias, obrigando algumas pessoas, entre elas uma mulher, a se despirem na frente de todos. No dia 15 de maio deste ano, jagunços da Fazenda Araúna teriam matado animais que pertencem ao acampamento e atirado para cima, com a finalidade de assustador os acampados.
A propriedade da Fazenda Araúna era requerida pelo agropecuarista Marcelo Bassan, que afirmava ter comprado o terreno em 1990. Com a morte do grileiro, a família, que está à frente do seu espólio, segue na área, insistindo na posse do território.
Procurado, o Incra não se manifestou até o fechamento desta matéria.