Escrito por: Andre Accarini
Trabalhadores dos 34 portos brasileiros reivindicam prioridade no Plano Nacional de Imunização por serem considerados categoria essencial. Paralisação também foi contra a privatização dos portos
Portuários de todo o Brasil fizeram uma paralisação nacional de duas horas, na manhã desta sexta-feira (7), para reivindicar além do fim das privatizações dos portos brasileiros, a vacinação imediata da categoria que já está incluída como prioridade no Plano Nacional de Imunização (PNI) contra a Covid-19, mas até agora ainda não foi vacinada.
De acordo com o secretário adjunto de Cultura da CUT, Eduardo Guterra, que também é presidente da Federação Nacional dos Portuários (FNP), a paralisação ocorreu nos 34 portos brasileiros e em vários deles, os trabalhadores decidiram estender a mobilização para outros turnos.
“Há muito tempo não víamos esse nível de adesão. Portuários que pegam no trabalho em outros horários – 13h, 15h, 17h – também devem paralisar as atividades por duas horas, no início do turno”, diz o dirigente.
A reivindicação pela agilização da vacinação na categoria é uma questão urgente, diz Guterra. Ele reforça a defesa pela vacinação em massa de toda a população, mas destaca os portuários como categoria essencial.
“Defendemos ‘vacina já’ para todos os brasileiros, mas pedimos prioridade aos portuários por causa exposição ao risco que o trabalho oferece, inclusive por ter contato com pessoas que vêm de outras partes do mundo. Esse risco é muito grande. É a vida que está em jogo”, argumenta o sindicalista.
Ele explica que a categoria, por decreto, foi considerada como atividade essencial e está definida como prioridade no PNI, mas até agora ainda não houve o início da vacinação para os portuários. "Desde o início da pandemia não paramos as atividades. Trabalhamos 24 horas por dia porque consideramos que a atividade é fundamental para a economia brasileira, mas n~~ao podemos esperar mais para receber a vacina”, afirma.
Os portuários também são contrários à privatização dos portos. De acordo com Eduardo Guterra, no modelo portuário mundial, o Estado tem a obrigação de garantir a infraestrutura para o funcionamento, que inclui o sistema ferroviário, rodoviário, o sistema de inteligência do porto, a segurança, os cuidados com o meio ambiente e outros pontos.
“A privatização é um imbróglio que nos preocupa. O Brasil está escolhendo um modelo em que o Estado abre mão de controlar os portos. São 34 portos no Brasil, cada um com suas especificidades. Não é como na Holanda, que tem um porto que serve a 11 milhões de habitantes. O Estado tem que ter o controle no Brasil”, afirma Guterra.
Para Guterra, com a mudança desse sistema, a entrega de tudo ao poder privado, o Brasil corre o risco de ter monopólios e oligopólios na administração e isso influiria em pontos estratégicos como definir exportadores.
Além de abrir mão de uma atividade estratégica para a economia, a exemplo de outros setores públicos, a privatização dos portos trará como consequências a precarização do trabalho e a demissão de milhares de trabalhadores.
A luta por prioridade na vacinação ganhará novos capítulos, de acordo com o presidente da FNP. Nesta terça-feira, uma nova plenária de trabalhadores será realizada para organizar as próximas mobilizações.
Nas bases, os sindicatos estão fazendo “o dever de casa”, ele diz, se referindo a deixar claro para a sociedade, para empresários e governantes sobre a importância da vacinação para a categoria. “Queremos ser vacinados porque nosso caso é urgente”
A FNP participou de uma reunião da Comissão de Participação Legislativa na Câmara dos Deputados, que teve a presença de representantes do Ministério da Saúde.
De acordo com Guterra, ele afirmaram que até o fim do mês de maio os portuários serão vacinados. “Mas não vamos baixar a guarda por que não temos garantia nenhuma de que isso vai acontecer”, ele diz
Guterra ainda lamentou que a corrida para vacina tenha que acontecer. “É resultado do fracasso de Bolsonaro no enfrentamento à pandemia e é lamentável para o Brasil que um tema assim tenha que parar em uma CPI [Comissão Paramentar de Inquérito] para apurar as responsabilidades”, conclui Guterra.
Por prioridade na vacinação, portuários paralisaram por duas horas nesta sexta.
Trabalhadores dos 34 portos brasileiros reivindicam prioridade no Plano Nacional de Imunização por serem considerados como categoria essencial. Paralização também foi contra a privatização dos portos pic.twitter.com/fIdF7ZDNbL
*Edição: Marize Muniz