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Por que mesmo com a proposta do governo a paralisação não acabou?

De braços cruzados pelo quinto dia consecutivo, a maioria dos caminhoneiros não concorda com proposta e mantém movimento até que o governo atenda as principais reivindicações da pauta

Publicado: 25 Maio, 2018 - 17h01 | Última modificação: 25 Maio, 2018 - 18h26

Escrito por: Luciana Waclawovsky e Tatiana Melim

Agência Brasil
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O acordo anunciado pelo governo golpista e ilegítimo de Michel Temer (MDB-SP) não previa a interrupção imediata da paralisação dos caminhoneiros, por isso o movimento continua e os impactos são sentidos por toda a população brasileira. De braços cruzados pelo quinto dia consecutivo, uma parcela considerável dos caminhoneiros, que está mobilizada desde a segunda-feira (21), alega que as propostas não contemplaram a pauta de reivindicação e decidiram manter o movimento.

Os representantes da Associação Brasileira de Caminhoneiros (Abcam), que dizem representar cerca de 600 mil caminhoneiros, abandonaram a reunião no meio da tarde de ontem antes que se chegasse a um acordo. O presidente da entidade, José da Fonseca Lopes, disse que a paralisação será mantida até que seja aprovada e sancionada a lei que desonera o diesel do PIS/Cofins e da CIDE.

Em nota à imprensa, a Abcam, em conjunto com cinco Federações filiadas, repudiou o acordo realizado entre governo federal e as outras entidades representativas do transporte rodoviário.

Em nome de outras entidades presentes na negociação, a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) informou, por meio de nota, que os grupos “jamais aceitaram as pressões para suspender a paralisação” e que se comprometeram apenas em apresentar a proposta aos caminhoneiros paralisados nas rodovias para que cada local decida se suspende por 15 dias a mobilização.

“O documento com o governo só foi assinado para garantir que o governo manteria aquelas propostas caso a categoria as aceitasse. Nosso papel é o de levar as propostas da categoria para que cada grupo de manifestantes decida”, diz a entidade.  

O acordo entre o governo golpista e lideranças dos caminhoneiros foi anunciado na noite desta quinta-feira (24), no Palácio do Planalto. Na reunião, que durou mais de 20 horas, o executivo pediu uma trégua à categoria se comprometendo, entre outros itens, a manter a redução de 10% no valor do óleo diesel a preços na refinaria, já praticados pela Petrobras, nos próximos 30 dias, com compensações financeiras da União à Petrobras.

ReproduçãoReprodução

No início da tarde desta sexta-feira, o governo federal autorizou o uso de forças federais de segurança para liberar as rodovias bloqueadas pelos caminhoneiros caso as estradas não sejam liberadas pelo movimento.

Para o presidente da CUT, Vagner Freitas, é inaceitável que o governo recorra à violência, ameaçando utilizar o exército para reprimir um movimento que tem reivindicações justas e que dialogam com as necessidades da população.

“Essa situação só chegou a esse ponto por conta da incompetência do governo em negociar seriamente com os manifestantes quando enviaram a pauta de reivindicações.”

Para Vagner, a solução a esse impasse deve ser alcançada pacificamente. “O governo deve sentar à mesa e negociar com seriedade, respeitando todos os representantes dos movimentos.”

Em nota, a CUT reforçou o apoio aos caminhoneiros e exige que o governo golpista mude a política de preços da Petrobras que acompanha as cotações internacionais do barril de petróleo e do dólar.

“A CUT apoia a paralisação nacional dos caminhoneiros, que estão realizando um movimento legítimo e justo pela redução dos preços do óleo diesel, e exige que o governo mude sua política de preços dos combustíveis que tem provocado aumentos abusivos também no gás de cozinha e na gasolina”, diz trecho da nota.

Paralisação afeta todo País

A paralisação, que começou na segunda-feira (21), já chegou a todos os estados brasileiros e afeta, especialmente, o transporte público e aeroviário, causando transtorno em cidades como Recife, Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo.

O aeroporto de Brasília (DF) ficou sem combustível desde cedo e foram cancelados 11 voos no turno da manhã. Outros aeroportos que também estão sem combustível são: de Carajás (PA), São José dos Campos (SP), Uberlândia (MG), Ilhéus (BA), Palmas (TO), Goiânia (GO), Juazeiro do Norte (CE), Maceió (AL), Recife (PE), Joinville (SC) e João Pessoa (PB), todos administrados pela Infraero. 

A administração pública da capital paulista decidiu decretar estado de emergência. A medida permite que a prefeitura faça compras sem licitação, requisite ou apreenda bens privados, como o combustível que esteja estocado em postos de gasolina. Caso a situação de desabastecimento persista, a prefeitura admite decretar feriado municipal.

Outros municípios nos estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Pernambuco também decretaram estado de emergência. Em Porto Alegre, por exemplo, a capital gaúcha está executando apenas serviços essenciais para economizar combustível. Serviços como coleta de lixo, além do transporte público estão suspensos.

Em Caruaru, no agreste pernambucano, a prefeitura decretou a suspensão das aulas da rede pública de ensino, funcionamento dos postos de saúde e redução da coleta de lixo.

Nas estradas do estado do Mato Grosso do Sul, a Polícia Rodoviária Federal contabilizou 35 pontos bloqueados por protestos. A instituição avisa que um interdito proibitório concedido hoje (25) pela Justiça Federal veda que a rodovia seja bloqueada. “Contudo, continua assegurado o direito de manifestação desde que pacífica e sem interrupção de trânsito”, informa o site oficial da PRF.

Nota da Confederação Nacional de Saúde (CNS) diz que em alguns estabelecimentos estão faltando produtos como gás medicinal, material anestésico, medicamentos, insumos para tratamento de água, entre outros produtos vitais para a manutenção dos serviços, e para a segurança dos pacientes.

Segundo a TecBan, empresa que administra caixas 24h, se faltar combustível para os carros-fortes, há risco de desabastecimento de caixas eletrônicos. “O fechamento das estradas nos protestos tem menor impacto na circulação do dinheiro, pois os carros-fortes estão sendo autorizados pelos manifestantes a passar pelos pontos de bloqueio. O congestionamento, no entanto, pode prejudicar o abastecimento”, informou a instituição.

Em nova nota, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) registrou que, nesta sexta-feira (25), 152 plantas frigoríficas de aves e suínos estão paradas e mais de 220 mil trabalhadores estão com atividades suspensas. A entidade alertou ainda que 1 bilhão de aves e 20 milhões de suínos poderão morrer nos próximos dias devido à falta de ração no campo.

“A situação mais grave está no trânsito de ração, que está sendo impedido. Em diversos locais já há falta de insumos e animais estão sem alimentação. Aqueles que ainda contam com estoques, estão fracionando para prolongar ao máximo a oferta do alimento.”