Por que trabalhadores da Amazon não conseguem se sindicalizar
A Amazon emprega 1,3 milhão de pessoas no mundo. Nos EUA, ela é a segunda maior empregadora. Apesar das denúncias trabalhistas, a organização sindical norte-americana não avançou e mulheres são as mais afetadas
Publicado: 30 Julho, 2021 - 09h39 | Última modificação: 30 Julho, 2021 - 09h45
Escrito por: Agência PT
A Amazon é a marca mais valiosa do mundo. O valor da empresa cresceu 32% entre 2019 e 2020. Segundo a consultoria Kantar, de junho do ano passado, a empresa valia US$ 415,9 bilhões. Gigante do e-commerce, ela é a segunda maior empregadora dos EUA com 40 mil trabalhadores. Ao redor do mundo, a empresa emprega 1,3 milhão de pessoas.
No último mês, os trabalhadores da Amazon, no estado do Alabama, nos EUA, protagonizaram uma luta para criar o primeiro sindicato da Amazon no país, no entanto não lograram sucesso. Apesar dos inúmeros escândalos de desrespeito aos trabalhadores , como fazer xixi em garrafas para cumprir metas, a organização sindical não avançou.
Como funciona o sindicalismo nos EUA
Nos Estados Unidos, os trabalhadores de determinada empresa podem se associar a um sindicato nacional, independentemente da categoria a que pertencem. Os trabalhadores da Amazon, por exemplo, podem se associar a um sindicato que tenha em sua base mais empresas metalúrgicas, por exemplo, mesmo que a atividade fim seja diferente, elucidou João Cayres para o site da CUT.
A Central Única dos Trabalhadores explica que, no caso da Amazon, os trabalhadores precisam por votos de 50% mais um decidirem se querem ou não criar um sindicato. A tarefa de votação parece simples, mas lá, há intensos debates dentro das igrejas, nas universidades e entre políticos locais conservadores que podem dizer que estão sendo ameaçados pela empresa no sentido de que ela pode mudar de localidade, deixar a cidade em que está instalada, provocando demissões e abalando a economia local. Alguns estados nos EUA proibiram a sindicalização obrigatória.
Juneia Batista aponta que os patrões e empregadores atuam com a estratégia de contrainformação para impedir que os trabalhadores e trabalhadoras optem pela organização sindical. As consequências são nefastas para homens e mulheres em um país onde tudo é pago: universidade, previdência e saúde. “As pessoas praticamente não aposentam. Elas se retiram com mais de 70 anos”, pontua a secretária de mulheres da CUT.
Para entender melhor essa atuação anti-sindical por parte dos patrões nos EUA, indicamos o documentário “Indústria Americana”, disponível na Netflix.
A falta de organização sindical expõe ainda mais as mulheres trabalhadoras
Os entraves à organização sindical que fazem parte da cultura norte-americana expõem ainda mais as mulheres trabalhadoras. Se enquanto classe social, elas estão expostas às mesmas condições de exploração que os homens, enquanto mulheres elas sofrem ainda mais por terem direitos trabalhistas ainda mais negligenciados.
A trabalhadora Regina McDowell passou 42 anos trabalhando em uma fábrica de equipamentos elétricos sindicalizada em Indiana e foi ativa na organização de campanhas trabalhistas. Em entrevista à Reuters, ela denuncia as ofensivas individuais contra a sindicalização feitas pela empresa nos próprios locais de trabalho: “a realidade se estabelece – quando o empregador faz campanha tão forte que você pensa que está colocando seu emprego em risco (se apoiar o sindicato)”.
De acordo com Juneia, no Brasil, apesar dos ataques do governo Bolsonaro e da escalada autoritária, o direito à organização sindical está garantido por lei e tem menos entraves que nos EUA.
Tudo que vai e não volta
A organização sindical dos trabalhadores e trabalhadoras da Amazon segue em pauta nos Estados Unidos, mas também pode impactar o resto do mundo. “Imagina um sindicato representando 800 mil trabalhadores, eles teriam um grande poder de negociação”, aponta Juneia.
Essa exploração da força de trabalho se reflete no lucro extraordinário da empresa. O poderio da Amazon pode ser estimado também por suas vendas líquidas que devem alcançar, segundo a própria empresa, entre US$ 100 bilhões e US$ 106 bilhões no primeiro trimestre deste ano – crescimento entre 33% e 40%, em comparação com o mesmo período de 2020. Seu proprietário Jeff Bezos tem uma fortuna avaliada em US$ 204,6 bilhões, e é considerado o homem mais rico do mundo.
“Antes de qualquer coisa, a gente precisa conseguir taxar essas empresas, porque elas não pagam um centavo para o nosso país. Elas entraram, invadiram e os governos não cobram nada dos e-commerces”, relata Juneia.
Segundo a secretária, a CUT também está debruçada sobre as formas de organizar trabalhadores e trabalhadoras de aplicativos de entrega “para melhorar situação da vida dessas pessoas que é de total informalidade, precarização e vulnerabilidade”, finaliza.