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Povo do campo e da cidade cobra políticas públicas para produção de alimentos

O MST e a Via Campesina ocuparam o pátio do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), com o objetivo de pressionar o governo Eduardo Leite (PSDB) por crédito emergencial para a agricultura

Publicado: 17 Novembro, 2021 - 09h03

Escrito por: CUT RS

CUT RS
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Cerca de 1,5 mil trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade tomaram as ruas do centro de Porto Alegre na manhã desta terça-feira (16) e realizaram um ato contra a fome, em frente ao Palácio Piratini, cobrando políticas públicas dos governos Bolsonaro e Eduardo Leite para a produção de alimentos e geração de emprego e renda.

A mobilização iniciou bem cedo. O MST e a Via Campesina ocuparam o pátio do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), com o objetivo de pressionar o governo Eduardo Leite (PSDB) por crédito emergencial para a agricultura familiar.

“Nesses dois anos de pandemia e seca, a agricultura familiar foi a única a não ser atendida pelo Estado. O governo abandonou as políticas públicas de reforma agrária. Estamos aqui reivindicando uma resposta e uma ação do governador Eduardo Leite sobre essa situação”, disse Ildo Pereira, da direção nacional do MST.

Também estiveram presentes a Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar (Fetraf-RS), a União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária (Unicafes), o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), o Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável (Consea-RS), o Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) e as Mulheres Camponesas.

Por volta das 10h, os agricultores e as agricultoras saíram em caminhada até o Piratini munidos de faixas, cartazes e conduzindo duas vacas leiteiras.

Ao mesmo tempo, trabalhadores e trabalhadoras da Capital, incluindo moradores das periferias de Porto Alegre, integrantes do projeto CUT com a Comunidade, se concentraram em frente à Prefeitura Municipal. Também participaram o Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD), o coletivo Multiplicidade, a Frente Nacional de Luta Campo e Cidade e o Levante Popular da Juventude.

Em seguida, também partiram em marcha até o Piratini, levando faixas, cartazes e bandeiras. Uma das faixas dizia “Sem comida, trabalho e renda, governo Leite mata o povo de fome”.

O presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci, denunciou que os governos Bolsonaro e Leite estão tirando dos pobres para dar aos ricos. “Trabalhadores do campo e da cidade estão aqui para registrar a sua indignação, a sua resistência e mostrar a sua disposição de luta contra esse “faz de conta”, que é o governo Leite, e o governo Bolsonaro que só governam para os ricos”, disse.

“O governo estadual anunciou um superávit primário de quase R$ 2 bilhões este ano. De onde saiu esse dinheiro, se há sete anos os educadores estão sem reajuste, se o governo não têm nenhuma política pública para os mais pobres, os mais vulneráveis?”, questionou Amarildo.

Ele enfatizou as semelhanças entre os governos estadual e federal. “O Leite fez superávit primário com o nosso bolso, vendendo o nosso patrimônio, fazendo a arrecadação mais cara do combustível, do gás de cozinha, do diesel. Aí é fácil ser administrador e dizer que é bom gestor. Tirar dos pobres para dar aos ricos. É isso que o Leite está fazendo. E é isso que o Bolsonaro continua fazendo. Eles são todos farinhas do mesmo saco. Por isso, nós estamos aqui para dizer: Fora Leite e Fora Bolsonaro. Resistiremos até a vitória”, apontou Amarildo.

Estiagem e pandemia agravam situação da agricultura familiar

Para o coordenador-geral da Fetraf-RS, Douglas Cenci, o PL 115/2021 é uma oportunidade para a gestão tucana fazer alguma coisa para a agricultura familiar. “O campo e a cidade se juntam pedindo melhores condições para viver. Estamos há mais de dois anos sofrendo com a estiagem e chegamos ao ponto de enfrentar mais uma”.

“Estamos implorando para o governo Leite uma medida que possa nos ajudar. Temos clareza que nossa missão é produzir, mas cada vez fica mais difícil. Cada vez os nossos jovens têm mais dificuldades de permanecer no campo e as famílias, infelizmente vão para a cidade engrossar as filas do desemprego”, lamentou Douglas.

O representante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Frei Sérgio Görgen, apontou a necessidade de derrotar os governos Bolsonaro e Leite nas ruas. “Nós já tivemos muitas conquistas ao longo dos anos. Ajudamos a derrotar a ditadura, tivemos conquistas de reforma agrária e para os pequenos agricultores”, lembrou.

“Nos últimos anos, vimos uma a uma ser desmontada, destruída e jogada de lado. Nenhuma conquista, que nós tivemos, alguém nos deu. Todas foram conquistadas na luta, na organização, com pé na estrada, com os acampamentos, com as caminhadas, com os enfrentamentos, com as ocupações. Nada nos foi dado de presente, tudo foi conquistado”, ressaltou Frei Sérgio.

Ele reforçou a necessidade de diálogo com o povo. “Hoje estamos vendo nosso país destruído. Multidões com fome. O povo na cidade desempregado, pedindo esmolas nas ruas. Nós tínhamos vencido a fome. E a fome voltou em tão pouco tempo. O povo está desacreditado. Precisamos retomar as ruas para derrotar esses governos liberais e fascistas. E só vamos ter massas nas ruas, se nós fizermos o “trabalho de formiguinha”, lá onde o povo mora e onde o povo está”, concluiu.

Para o deputado estadual Edegar Pretto (PT), o governo Leite está de braços cruzados, assim como o governo Bolsonaro. “Não houve atenção com a produção de alimentos e a extrema pobreza cada vez aumenta mais. Isso não pode mais continuar assim! O estado e o país precisam voltar a viver os tempos que já vivemos antes, com mais oportunidades para todos e todas, sem fome, com mais dignidade. Nosso estado passa por uma crise econômica e de produção de alimentos, até agora não temos nenhuma política pública do governo Eduardo Leite para a agricultura familiar e camponesa. Precisamos de um governo que volte a olhar para o povo trabalhador e setores produtivos”..

Reunião com o chefe do gabinete da Casa Civil

Durante a manifestação, um grupo de representantes das entidades do campo pediu uma agenda para dialogar com o governador e reafirmar o apoio para a aprovação do PL 115/2021. Após a ida ao Piratini, o presidente da Unicafes, Gervásio Plucinski, anunciou o resultado da conversa

“Pedimos para conversar com o governador durante este ato, mas fomos recebidos pelo chefe do gabinete do secretário da Casa Civil, e ele nos informou que vai ter que se atualizar com o que está tramitando para poder dar uma resposta”, contou.

Para Gervásio, isso representa falta de compromisso com a agricultura familiar. Segundo ele, as entidades e os movimentos tentam desde agosto uma reunião com Eduardo Leite para tratar do projeto de crédito emergencial para produção de alimentos. A reunião que havia sido prometida para setembro ainda não aconteceu. “Hoje, dois meses depois, não tivemos resposta do governo do estado, não fomos atendidos e estamos aqui fazendo essa mobilização porque o governo não está dialogando com o povo”, disse.

Doação de alimentos para ocupação Sementes de Marielle

Ao final, trabalhadores do MST fizeram uma doação de alimentos à ocupação Sementes de Marielle, de Sapucaia do Sul, que luta pela regularização do território para moradia popular.

A vereadora Laura Sito (PT) aproveitou para convocar as trabalhadoras e os trabalhadores para a Marcha Independente Zumbi Dandara, que será realizada em Porto Alegre no próximo sábado, 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra. A concentração inicia às 15h, no Largo Glênio Peres, e a caminhada segue até o Largo Zumbi dos Palmares.

O ato contou ainda com a presença da deputada federal Mária do Rosário (PT), do deputado estadual Valdeci Oliveira (PT) e do vereador Leonel Radde (PT), dentre outras lideranças.

O encerramento ocorreu com um almoço, servido por várias cozinhas solidárias montadas por entidades parceiras e pelo projeto CUT com a Comunidade.