Escrito por: Andre Accarini

Prazo curto para aprovação do Fundeb coloca entidades da Educação em alerta

Para Heleno Araújo, da CNTE, presidente da Câmara, Rodrigo Maia usa tramitação da regulamentação do fundo para a educação como moeda de troca para ter apoio do governo para sua reeleição para o comando da Casa

CNTE

Após aprovação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), em agosto deste ano, começou uma corrida no Congresso para que o projeto, que transforma o fundo em permanente, seja regulamentado, votado e aprovado até o dia 22 dezembro, último dia antes do recesso dos parlamentares.

Começou também uma disputa pelos recursos do Fundo. As entidades filantrópicas e evangélicas, ligadas ao presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL), queriam uma fatia do dinheiro destinado à rede pública, mas o deputado Felipe Rigoni (PSB-ES), não colocou no relatório apresentado no dia 16 deste mês o pedido das escolas privadas sem fins lucrativas aptas.

A demora na tramitação da regulamentação da Emenda Constitucional (EC) 108 é creditada ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que estaria postergando a votação para tentar obter apoio de Bolsonaro à sua reeleição como comandante da Casa, avalia Heleno Araújo, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE).

“O jogo sujo que ele parece fazer é assim: se o governo não apoiar, Maia vai trabalhar para apoiar a regulamentação do Fundeb. Se apoiar, ele fará vista grossa sobre o projeto, para que não seja votado, e Bolsonaro regulamente o fundo, incluindo as emendas que quiser”, diz Heleno.

Ainda de acordo com o dirigente, é isso o que Bolsonaro quer. Uma de suas intenções para o Fundeb era, desde o início, destinar recursos públicos para escolas privadas de ensino fundamental e ensino médio, sem fins lucrativos. E para isso, o presidente conta com o apoio de grupos de parlamentares religiosos e aliados ao governo.

Bolsonaro já havia tentando sabotar o Fundeb quando propôs retirar 5% do fundo para destinar ao programa Renda Cidadã, que deve substituir o Bolsa-Família, criado pelo ex-presidente Lula.

A Constituição Federal de 1988 e a própria EC 108 proíbem a destinação desses recursos para instituições que não sejam públicas. No entanto, Heleno explica que no texto da regulamentação do fundo, há uma concessão para o atendimento em creches e pré-escolas, com prazos de 4 a 6 anos.

Essas escolas, durante este período, estariam aptas a receber recursos do Fundeb para atender às crianças sem vagas em instituições públicas. “É um tempo suficiente para que o poder público absorva essas crianças - na rede pública -, construindo creches e escolas ou criando novas vagas”, pontua Heleno.

 

Perdido o prazo, o que acontece?

Se o relatório sobre a regulamentação do Fundeb, não for votado no Congresso até o recesso dos parlamentares, Bolsonaro fará a regulamentação por meio de decreto até o dia 31 de dezembro, data em que o atual perde a vigência.

Tem de votar até o fim deste ano na Câmara e no Senado, pois se isso não acontecer, Bolsonaro regulamentará com uma medida provisória, o que será um desastre porque poderá incluir o quiser no projeto. A medida, assim que assinada, já passa a valer- Heleno Araújo



Pressão

A CNTE e outras 39 entidades que fazem parte do Fórum Nacional Popular da Educação lutam nos bastidores da Câmara para reforçar a pressão sobre Maia e apressar a votação.

Campanhas pelas redes sociais também estão mobilizando a sociedade para pressionar parlamentares. Uma delas é a Regulamenta Fundeb, lançada pela própria CNTE, que tem como foco principal lutar contra as intenções da equipe econômica do governo, que não demonstra compromisso com a educação pública e vem tenta retirar recursos da área educacional.

Leia mais: Fundeb permanente é aprovado por unanimidade no Senado

 

O relatório

O texto do relatório, de autoria do deputado Felipe Rigoni (PSB-ES) mantém a autorização para creches e pré-escolas. Conforme noticiou a Folha de SP, o deputado avalia que a intenção do governo em ampliar a autorização para o ensino médio e o fundamental provocará má distribuição dos recursos. “Dos mais pobres para os mais ricos”, disse o deputado.

Ele espera que o texto seja votado no máximo até a próxima semana.

O novo Fundeb foi aprovado este ano, por meio da Emenda Constitucional 108, após forte mobilização dos trabalhadores e trabalhadoras em educação.

Uma das principais conquistas é o aumento gradual da destinação de recursos por parte da União, que chegará a 23% até o ano de 2026. Esses recursos são destinados à educação básica e valorização profissional.

 

*edição: Marize Muniz