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Preço do arroz é motivado pelo desmonte promovido por Bolsonaro, diz economista

Fim do estoque regulador e incentivo à exportação são erros do governo que levaram à alta do arroz, afirma economista Juliane Furno

Publicado: 14 Setembro, 2020 - 13h03

Escrito por: Redação RBA

Marcello Casal Jr/EBC
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O preço do arroz disparou nas últimas semanas e um pacote de cinco quilos chega a custar R$ 40 nos supermercados. Um dos principais alimentos do Brasil enfrenta um desmonte de políticas públicas por parte do governo Bolsonaro, que permite ao produtor priorizar o mercado internacional.

Doutora em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp e integrante do Levante Popular da Juventude, a economista Juliane Furno explica que a alta do arroz é resultado da política de livre mercado defendida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.

“O governo Bolsonaro desmontou a Conab e a política pública de criar estoque regular, que mantinha o preço baixo, a partir da oferta de mais alimentos. Além disso, o nosso agronegócio não é vocacionado a colocar comida em nossa mesa. Se o preço internacional está alto, eles vão priorizar a exportação, enquanto o governo, defensor do livre mercado, não faz nada para regulamentar essa produção”, explicou, em entrevista ao programa Brasil TVT neste domingo (13).

De acordo com ela, como alguns países fecharam a barreira para exportação e outros pararam de importar arroz, há uma procura global por arroz. “Como o Brasil passa por uma desvalorização cambial, tornou nossos produtos mais competitivos no mercado internacional. Tornou-se barato comprar nosso arroz lá fora, porque vale muito menos”, acrescentou.

Desmonte da Conab

A economista lembra que desde 2016, o Brasil parou de investir nos estoques reguladores dos alimentos não perecíveis. Ela explica que há uma lei brasileira que obriga o estoque de 20% dos produtos comparado ao consumo anual.

De acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em 2015, os estoques médios mensais de arroz foram de 1.629 toneladas. Com Paulo Guedes, caíram para 22 toneladas mensais. Esses estoques reguladores servem para impedir que aconteçam altas especulativas e de desequilíbrios de ofertas, mantendo o equilíbrio entre oferta e demanda e a normalidade dos preços.

“Hoje, o Brasil tem o estoque de arroz para menos de um dia, ou seja, desmontou esse mecanismo de defesa”, afirma Juliane. Ela diz ainda que o governo, em vez de investir em políticas públicas, está incentivando a importação do arroz, o que se reflete em outros preços.

“Isso é prejudicial para nossa balança comercial, porque a valorização cambial deixa nossos produtos mais competitivos no exterior, mas os insumos para produzir grande parte dos nossos alimentos são importados. Então, o trigo está mais caro e o produtor vai repassar esse valor no preço do pão, por exemplo”, criticou.

Por outro lado, ela acredita que o preço do arroz só deve cair após o desaquecimento da demanda internacional. “O governo ainda promete que a próxima safra do arroz vai normalizar os preços domésticos. Porém, a maior parte do arroz vem do sul do país e a safra só começa em fevereiro. Novamente, Bolsonaro lava as mãos e o povo sofre as consequências. Os mais pobres gastam 61% da sua renda em alimentos, ou seja, terá consequência sobre a população.”