Preços altos tiram da mesa dos brasileiros arroz, feijão, café, pão e leite
Primeiro foram os preços do arroz e do feijão que dispararam. Agora, são os do café, do leite, do pão e da manteiga. E o governo nada faz para conter preços
Publicado: 12 Agosto, 2021 - 08h30 | Última modificação: 12 Agosto, 2021 - 09h49
Escrito por: Rosely Rocha
Os preços altos dos alimentos já tinha tirado da mesa dos brasileiros o tradicional arroz com feijão. Agora, a subida dos preços vai tirar também o pão com manteiga e o café com leite. Os mais pobres vão ter de se contentar com miojo em todas as refeições. A fome e a redução da qualidade dos alimentos só pioram com o desgoverno de Jair Bolsonaro (ex-PSL).
A queda na qualidade da alimentação do brasileiro é comprovada pela alta nas vendas de macarrão instantâneo, um produto não recomendável pelos especialistas em saúde, por seu baixo teor nutritivo e alto teor de insumos nada saudáveis, como gorduras saturadas e sódio.
Com a queda do poder aquisitivo causada pela disparada da inflação, altas taxas de desemprego, baixos salários, trabalho informal e sem direitos, muitos brasileiros passaram a comprar esse produto porque é muito mais barato do que o arroz e o feijão.
A Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães e Bolos Industrializados (Abimapi), estima que o faturamento de R$ 3 bilhões no ano passado, deve subir entre 5% e 10% este ano, impulsionado pela venda do macarrão instantâneo.
Para piorar a crise alimentar do brasileiro, a necessária refeição da manhã, com o tradicional café com leite, pão e manteiga, pode não chegar à mesa. Os preços que já aumentaram mais do que a inflação oficial dos últimos 12 meses (8,99%), devem disparar no próximo mês por causa das geadas no país.
Mas, não são apenas o frio intenso, as exportações e os preços dos commodities, os responsáveis pela disparada de preços desses alimentos, acredita a supervisora da área de preços do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que analisa o Índice de Custo de Vida (IVC), Patrícia Costa.
Segundo ela, o governo Bolsonaro já tinha detectado o problema e nada fez. Ao contrário, tem uma política clara de exportar os alimentos, especialmente para a China, onde a demanda é alta.
“O pão, o leite, o café e a carne são elementos muito essenciais para o brasileiro e estão tendo um peso grande para as famílias de baixa renda, ficando impossível de consumir”, diz.
Patrícia Costa lembra que há outros elementos que encarecem o café da manhã. As altas nos preços altos da energia elétrica e dos combustíveis, utilizados pela indústria da alimentação, impactam na composição de preços desses produtos. Já os agricultores, além da quebra de safra, precisam alimentar o gado, produtor de carne, de leite e da manteiga, com ração, por causa dos pastos ruins atingidos por geadas.
“Os preços altos no varejo vão ser sentidos no valor da cesta básica em agosto, apesar de termos já percebido uma elevação em julho, por causa da geada intensa”, alerta Patrícia Costa.
Isto deve encarecer ainda mais a cesta básica que só na capital de São Paulo teve uma variação nos últimos 12 meses de 22,06%, de acordo com o Dieese.
O leite deve continuar na entressafra, que em anos anteriores ia de março a maio, mas neste ano deve durar até o mês de outubro, o que fará seu preço se manter em alta.
De acordo com o Dieese, entre junho e julho, o litro do leite integral teve acréscimos em 14 capitais e o quilo da manteiga, em 12. As maiores altas do leite foram observadas em Natal (5,71%) e Belém (5,60%). Já a manteiga teve os principais aumentos em Belo Horizonte (5,29%), Campo Grande (4,25%), Vitória (3,40%) e Natal (3,20%). Mesmo com a demanda enfraquecida, os preços dos derivados do leite seguem elevados devido à redução da oferta e aos altos custos de produção.
“Os preços do leite e, consequentemente da manteiga, têm a ver com os altos custos de produção, já que o milho e soja, insumos utilizados na comida da vaca, estão muito altos por causa da demanda do exterior”, afirma Patrícia.
“Aliado a isto existe uma demanda acirrada das indústrias de laticínio. De novo, o governo brasileiro incentiva a exportação em detrimento do consumo interno”, complementa a supervisora do Dieese.
Já café, um símbolo do brasileiro, teve a sua safra também impactada pelo frio, e a previsão é de quebra também no ano que vem. Em julho, o quilo do café em pó subiu em 15 capitais. As altas mais expressivas ocorreram em Vitória (10,96%), São Paulo (9,88%), Campo Grande (8,77%) e Brasília (8,14%).
O pão, derivado do trigo, deve se manter em alta, diante da quebra de safra no sul do país e com a necessidade de importação, elevando os custos aqui no Brasil. Somente na capital paulista, a farinha de trigo teve elevação de junho para julho de 1,86% e o pão francês (1,13%).
Carnes e hortifrúti devem manter altas
Além dos produtos que compõem o café da manhã do brasileiro, a carne deve manter o seu preço em alta, com pouca variação para baixo. O problema é o mesmo da produção de leite e manteiga, pastos escassos para o gado, ração cara e exportação do produto.
“Outro problema é o preço da reposição do bezerro que está em alta. Como ele só pode ser abatido ao se tornar um boi gordo, comprar e manter um animal está caro”, conta Patrícia.
Os hortifrúti também devem ficar mais caros para o consumidor. O destaque negativo fica com o tomate, que na variação entre junho e julho, o quilo aumentou em 15 capitais. Belo Horizonte (39,95%), Goiânia (34,24%), Fortaleza (34,10%), Florianópolis (33,86%) e São Paulo (31,63%) tiveram as maiores altas.
“O tomate é muito sensível ao frio e tem maturação mais lenta neste período, e o momento é de safra do tipo industrial, utilizado para molhos, por isso deve seguir em alta”, avalia Patrícia.
Creio que muitas famílias de baixa renda estão pulando refeições, e o governo não fez nada. Poderia ter feito estoques de alimentos e manter um mínimo para consumo interno
Para a supervisora do Dieese, esse governo não se importa que o brasileiro fique à míngua e vá pra fila do osso de boi, como ocorreu recentemente na porta de um açougue em Cuiabá, no Mato Grosso.
*Edição: Marize Muniz