Escrito por: Rosely Rocha

Preços de alimentos tendem a cair mais no segundo semestre

Expectativa é de que queda do dólar e produção maior ajudem a reduzir preços dos alimentos. Guerra na Ucrânia e condições climáticas adversas do El Niño podem ser entraves à uma maior queda

Roberto Parizotti (Sapão)

Os preços dos alimentos tendem a cair no segundo semestre deste ano, de acordo com expectativas do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e de setores do mercado financeiro.

Pelas estimativas da Consultoria LCA, devem registrar deflação neste ano óleos e gorduras, tubérculos, raízes e legumes, carnes, aves e ovos. Além disso, haveria desaceleração expressiva da alta entre 2022 e 2023 em leites e derivados, panificados, farinhas e massas, hortaliças/verduras e frutas. Os preços de todos os itens in natura - tubérculos, raízes, legumes, hortaliças, verduras e frutas - já apresentam desaceleração até junho, observa a LCA.

Com a queda nos preços de alimentos in natura e carnes, relativa normalização no mercado de trigo e supersafra brasileira de soja, a alimentação no domicílio pode registrar deflação em 2023 pela primeira vez em seis anos, informa o jornal Valor Econômico.

O diretor-técnico do Dieese Fausto Augusto Jr analisa que a tendência de queda é favorecida pela baixa do dólar, dos preços dos combustíveis com o fim da política de paridade internacional da Petrobras; os preços dos grãos (soja, milho, trigo carnes de boi, porco e frango), os chamados commodities, no mercado internacional que têm caído, e pela safra de produtos como tomate, banana e verduras e outros, que têm a ver com a dinâmica de produção e consumo.

“Os preços dos alimentos têm dois movimentos diferentes; os que são cotados no mercado internacional, que estão caindo, e pelo câmbio do dólar no Brasil também em queda. Por outro lado, a safra de alimentos como o feijão, por exemplo, depende da chuva no Nordeste e choveu na região. Isto deve manter seu preço estável, assim como outros alimentos”, avalia Fausto.

O Plano Safra 2023/2024 com financiamento de R$ 364,22 bilhões, anunciado por Lula, no final de junho, para apoiar a produção agropecuária nacional até junho do ano que vem também deve influenciar positivamente na queda de preços. Os recursos vão apoiar a produção agropecuária nacional até junho de 2024.

Já o câmbio baixo para se manter ainda depende das reformas que o governo federal vem fazendo como o arcabouço fiscal, avalia Fausto.

“A questão do câmbio é importante, influencia os preços de muita coisa; de tudo que exportamos”, diz.

O diretor do Dieese, no entanto, ressalta que dois entraves à queda dos preços dos alimentos vêm de fatores externos: a guerra na Ucrânia (o país é um dos maiores produtores de trigo do mundo) e o El Niño, fenômeno climático que deixa a temperatura mais quente e provoca seca.

“A Europa já está vivenciando temperaturas muito altas e o Brasil também terá problemas com o El Niño neste inverno. Por isso é preciso esperar o segundo semestre para avaliar melhor e com mais tranquilidade os impactos da guerra e do clima. No entanto, a expectativa é de que os preços dos alimentos se não tiverem deflação, pelo menos terão reajustes menores”, diz Fausto.

De acordo com as fontes ouvidas pelo Valor Econômico, para 2023, a projeção mediana do Focus (pesquisa do Banco Central com agentes de mercado) no início do ano é de 0,9%. A LCA Consultores e projeta ligeira queda de 0,1%; a Ativa Investimentos espera contração de 0,3%, o Santander, de 0,4%, e a Asset 1, de 0,5%.

A última vez em que a alimentação no domicílio registrou deflação foi em 2017, de 4,9%.

Outro ponto que pode interferir no preço dos alimentos é a renda das famílias mais pobres, que tendem a gastar com alimentação o que ganham. Para Fausto, os aumentos do Bolsa Família e do salário mínimo têm impacto nos preços a partir da demanda.

Estoque de grãos

Os silos onde são estocados os grãos no país estão cheios e isso pode pressionar os produtores a vender mais barato. No entanto, ressalta Fausto não há garantia de que isto possa acontecer.

“A Conab [Companhia Nacional de Abastecimento] foi desmontada nos dois últimos governos [Temer e Bolsonaro] e é preciso construir novos silos, mas isto demanda um certo tempo”, conclui Fausto.

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