Prejuízo de 13% na Previdência privada reforça importância da aposentadoria pública
Previdência privada, que só dá lucro para banqueiro, deu prejuízos para os associados este ano. Para Ricardo Berzoini, é preciso defender a aposentadoria pública contra o modelo que Guedes quer implementar
Publicado: 26 Agosto, 2020 - 08h30 | Última modificação: 26 Agosto, 2020 - 09h06
Escrito por: Rosely Rocha
A Previdência privada tão defendida pelo ministro da Economia, o banqueiro Paulo Guedes, que insiste no modelo de capitalização da aposentadoria, em que o trabalhador contribui sozinho, sem a contrapartida da empresa, deu prejuízos para seus associados de quase 13%, revela entidade do setor, a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
A confusão dos formatos desses planos é tamanha que existem 27 tipos de fundos da Previdência. Desses, oito tiveram variação negativa neste ano. O pior desempenho foi do “Fundo Previdência Ações Indexados”, com queda em sua rentabilidade nos últimos 12 meses, de -12,9%.
Perdidos na sopa de letrinhas e números, o trabalhador que não entende de Ibovespa, CDI, de renda fixa e outros tipos de aplicações, e acha que está protegendo o seu futuro, na verdade, está entrando numa canoa furada.
A desculpa do mercado financeiro para o baixo rendimento é a crise econômica aprofundada pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Mas para o ex-ministro da Previdência do governo de Dilma Rousseff (PT), Ricardo Berzoini, só há uma explicação: a previdência privada só dá lucro para banqueiro, o trabalhador que se aventurar neste tipo de investimento terá prejuízos financeiros.
Berzoini conta que quando foi deputado federal, durante audiência especial na Câmara, questionou um banqueiro do Bradesco sobre o funcionamento da previdência privada da instituição e recebeu como resposta que toda vez que o cliente faz uma aplicação é cobrada uma taxa de 3 a 4%. Ou seja, de cada R$ 100,00 aplicados, o banco fica com R$ 3,00 ou R$ 4,00. Também havia taxas de “carregamento”, termo técnico usado pelo mercado financeiro que significa que todo ano é cobrado um percentual sobre o lucro eventual que a previdência privada possa ter dado.
Conheço bem matemática financeira. Isto é um roubo aplicado sobre quem desconhece o assunto. Quem tem não tem dinheiro para se arriscar é melhor deixar na poupança
Para o ex-ministro da Previdência, procurar o gerente do banco não vai adiantar, porque por mais bem intencionado que seja ele tem metas a bater e vai sugerir a capitalização, a mesma que matou de fome tantos chilenos que o governo daquele país está revendo o modelo e durante a pandemia foi obrigado a liberar um valor maior.
“Os fundos privados especulam no mercado de ações ou de renda fixa e ao longo do tempo eles perdem valor”, afirma.
Berzoini defende que a melhor forma de proteger o trabalhador e a trabalhadora na sua velhice ou numa eventual incapacidade é a Previdência Pública. E é enfático ao defender o sistema de repartição até o teto do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), hoje em R$ 6.101,06.
“O modelo solidário da Previdência pública para o trabalhador é a certeza que ele terá dinheiro para a comida, para pagar a conta de água. Hoje um jovem pode estar saudável e feliz, mas se ele se acidentar ou ficar doente não vai ter condições financeiras de se sustentar e, é para isso que serve a Previdência Pública”, afirma.
Buraco do caixa da Previdência é fictício
Para o ex-ministro, a equipe econômica do governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL) quer empurrar para o trabalhador a conta de déficits eventuais no caixa da Previdência provocados por oscilações econômicas e o desemprego.
O buraco no caixa é fictício porque a Previdência não foi feita para dar lucro. Ela é um dos tripés da seguridade social composto também pela assistência e pela saúde. Previdência para trabalhador é política pública. O resto é conversa de banqueiro para enganar trabalhador
Capitalização empobreceu aposentados dos EUA e Chile
Ricardo Berzoini diz que tanto nos Estados Unidos, meca do capitalismo, e no Chile, há casos de trabalhadores que se suicidaram ao perderem tudo o que pouparam durante a vida inteira em fundos de pensão privados. Outros perderam até 30% dos seus rendimentos.
O ex-ministro conta que a capitalização foi implantada no Chile na época que Paulo Guedes era estagiário de Milton Friedman (economista norte- americano liberal) durante o governo ditatorial do general Augusto Pinochet. Lá eles acabaram com a previdência pública local e a transformaram em capitalização sem contribuição patronal, as chamadas Administradoras de Fundos de Pensão (AFPs).
“Hoje há um movimento no Chile, o ‘No mas AFP’ para denunciar essas administradoras que simplesmente roubaram os trabalhadores de forma legalizada, pois o sistema defendido por Guedes, foi desenhado para enriquecer empresas”.
Já nos Estados Unidos existe a 401K, assim denominada por ser o número do artigo da Lei que regulamenta os planos de aposentadoria. Eles também investem em renda fixa e papéis de duvidosos que dão prejuízos porque dependem da confiança dos investidores. Em casos de crise financeira como a de 2008 e a provocada pela pandemia, o mercado dá sinais de desconfiança e o valor fica negativo.
“Isto provoca perdas para quem não pode perder, como é o caso do aposentado. Uma coisa é especulador que pode perder R$ 1 bilhão e continuar tomando uísque de 18 anos e comprando Porsche. Ele continuará rico. Outra coisa é o trabalhador que tem uma renda média de aposentadoria de R$ 2.300,00 tentar entender o mercado financeiro para saber onde deve investir”, critica.
A gente precisa decidir pra onde quer ir, senão ficaremos como o Chile e os EUA, onde a conta é apresentada na doença e na velhice. O trabalhador brasileiro que não quiser se tornar um camelô ou mendigo após se aposentar, tem de defender a Previdência pública
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