Escrito por: João Antonio Felicio

Presidente da CSI denuncia mídia e corporativismo de cartéis

"Corporativo é o 1% extremamente rico que controla a economia brasileira e mundial"

CUT
João Felicio, presidente da Confederação Sindical Internacional (CSI)

Quem é corporativo?

 

Frente à intensa e reiterada campanha midiática contra quem defende os interesses coletivos diante dos crescentes abusos dos cartéis financeiros e conglomerados privados, nada mais justo do que responder a uma pergunta tão básica: “Quem é corporativo?”.

Afinal, na ânsia de projetar os mesquinhos benefícios de seus patrões – ou poderosos anunciantes - sobre a coletividade, os meios de comunicação se transformam em mera correia de transmissão de antivalores, manipulando a tal extremo as “informações” divulgadas que perdem o mínimo resquício de objetividade. É desta forma que acusam de forma pejorativa qualquer categoria profissional que luta pelo cumprimento da CLT ou por direitos como aposentadoria por tempo de contribuição.

Por isso é necessário responder, com todas as letras e números, quem está empenhado em defender o próprio umbigo e quem se preocupa, realmente, com o conjunto da sociedade. Quem é, de fato, o corporativo? Quem defende direitos sociais do povo brasileiro, como saúde - que perderia ao menos R$ 743 bilhões - e assistência social com idosos, doentes e pobres - da qual seriam arrancados R$ 868 bilhões - com o congelamento dos investimentos e demais gastos públicos por 20 anos, ou quem formulou a Proposta de Emenda Constitucional 241 para privilegiar o pagamento de juros aos banqueiros e especuladores? Quem paga os devidos tributos – e até os indevidos – ou os que sonegaram R$ 550 bilhões em 2015 – o dobro dos Orçamentos da Saúde e da Educação juntos - e canalizaram centenas bilhões de dólares nos últimos anos para os chamados paraísos fiscais, como revelaram os “Panamá Papers”? Quem paga corretamente os impostos devidos ou aquele que se beneficia, quando flagrado - ou só mesmo para internalizar dinheiro desviado -, do acintoso projeto alcunhado de “repatriação”, que livra a cara de quem cometeu crimes como lavagem de dinheiro, caixa dois e falsidade ideológica, desde que concorde em pagar 30% de “imposto” e “multa”? Os miseráveis que se multiplicam vitimados pela ausência de Estado ou o sonegador de impostos que burla o fisco e esvazia os cofres públicos, inviabilizando os investimentos e o desenvolvimento? Quem defende a política de valorização do salário mínimo - que elevou seu patamar aos R$ 880,00 atuais - ou a camisa de força imposta pela PEC 241 – que se existisse desde 1998 valeria míseros R$ 400,00, conforme a Fundação Getúlio Vargas (FGV)? Quem está correto, os funcionários comprometidos em brindar um serviço público de qualidade ou os governos tucanos que querem lhes impor 20 anos sem reajuste salarial em estruturas completamente carcomidas? Quem busca a melhoria no desempenho educacional e na progressão escolar, com a redução da taxa de abandono e repetência ou a política de austericídio fiscal, que fragiliza o Estado de bem-estar social? Afinal, com quem é a “gastança”: com assistência, ciência e tecnologia, cultura, desenvolvimento agrário, habitação, previdência ou a sangria feita para o grande capital? São os aposentados e pensionistas que buscam o direito a uma vida digna ou o senhor Michel Temer, que se aposentou aos 55 anos com rendimentos brutos superiores a R$ 45 mil mensais, ou o senhor Henrique Meirelles que se aposentou aos 57 anos com US$ 750 mil anuais? Os sem-terra que batalham para garantir, com o seu suor, o sustento de sua família, ou o fazendeiro com seus milhares de hectares improdutivos? Os professores que lecionam de dez a doze horas diárias para proporcionar educação à juventude ou uma casta de magistrados e quetais mergulhados em benesses? A menina que corta dezenas de toneladas de cana de açúcar ou o usineiro que esbanja uma montanha de crédito subsidiado? A enfermeira submetida a degradantes condições de trabalho nos hospitais ou os proprietários que fabricam falências para continuar se cevando de recursos públicos? Os movimentos sociais que lutam contra a opressão ou a mídia que os criminaliza? Os petroleiros que defendem a nossa principal riqueza como instrumento de soberania, progresso e justiça, ou o cartel petrolífero estrangeiro, ávido por amealhar fortunas às custas do patrimônio de todos, da segurança e da devastação do meio ambiente? Os pequenos investidores que aplicam seu precioso dinheiro na poupança ou os fundos abutres que especulam com as dívidas públicas até estraçalhar as economias nacionais? São perguntas simples, mas que ecoam. Porque não querem calar.

Resumindo: corporativo mesmo é este 1% extremamente rico que controla a economia brasileira e mundial.