Escrito por: Redação CUT

Presidente do Equador reduz preços dos combustíveis, mas greve geral continua

Pacote do presidente foi considerado insuficiente para dirigentes da Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie), que chamou a greve no dia 13

Reprodução/Vìdeo Twitter

Após duas semanas de greve contra a disparada dos preços dos combustíveis e por mudanças  na política do governo parar melhorar a vida do povo, o presidente do Equador, Guillermo Lasso, reduziu o preço da gasolina e do diesel, mas os grevistas seguem com os atos e bloqueios nas estradas para conquistar os outros itens da pauta de reivindicação.

"Esta decisão é insuficiente, é insensível", afirmou a direção da Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie), depois de Lasso anunciar, na noite de domingo (26), uma redução de US$ 0,10 nos combustíveis e, com isso, baixar os preços do diesel para US$ 1,80, e o da gasolina, para US$ 2,45. Os manifestantes exigem que o governo reduza os preços a US$ 1,50 para o galão de diesel e US$ 2,10 para o de gasolina comum.

Os grevistas reivindicam também a proibição de atividades de mineração nos territórios indígenas, mais orçamento para saúde e educação, e criação de políticas públicas para conter a onda de violência e crime organizado. Além disso, os grevistas exigem  a renegociação de dívidas dos trabalhadores rurais com bancos e protestam contra o desemprego.

A decisão do Executivo "não se solidariza com a situação de pobreza enfrentada por milhões de famílias", afirmou nesta segunda-feira (27) a Conaie, em comunicado assinado por seu líder, Leónidas Iza, acrescentando que "a luta não para (...) e que o protesto ainda está em vigor".

Impeachment de Lasso

O Congresso do Equadro está debatendo a possibilidade de destituir Lasso, que um setor da oposição considera responsável pela crise política que afeta o país. Após sete horas de deliberações no domingo (26), a sessão foi adiada para esta terça-feira (28).

Papa e entidades de direitos humanos criticam violência

Em 14 dias de protestos e bloqueios de rodovias, foram registrados cinco mortos e mais de 80 detidos em confronto com a Polícia Nacional, segundo levantamento de organizações de direitos humanos. O controle das Forças Armadas estava vigente em seis províncias desde a última segunda-feira (20): Cotopaxi, Imbabura, Tungurahua, Chimborazo, Pastaza e Pichincha, onde está localizada a capital Quito, que estava sob toque de recolher.

Embora tenha suspenso o estado de exceção, o presidente equatoriano declarou que as forças de segurança continuam autorizadas a usar a força "de maneira progressiva para reestabelecer a ordem e devolver a tranquilidade aos cidadãos", declarou em transmissão televisiva na noite do último domingo (26).

A Aliança de Organizações de Direitos Humanos publicou uma nota acusando o Estado de cometer um massacre contra os povos indígenas e outros setores mobilizados.

"Repudiamos a forma irresponsável como o Executivo usou a figura de estado de exceção [...] Rechaçamos a campanha de estigmatização promovida pelo governo de Guillermo Lasso", escrevem.

"Pronunciamento: rechaçamos o irresponsável e ilegal uso da figura de estado de exceção pelo Executivo."

O Papa Francisco também comentou a situação de violência no Equador no último domingo (26). "Acompanho com preocupação o que está acontecendo no Equador. Estou próximo desse povo e alento todas as partes a abandonar a violência e as posições extremas", disse.

A Organização das Nações Unidas (ONU) defendeu um "diálogo urgente" entre governo e grevistas. O representante para a América do Sul do Escritório da Alta Comissária para os Direitos Humanos da ONU pediu que se investiguem de maneira "exaustiva" todas as mortes registradas durante a greve. "Os agentes do Estado devem atuar com apego irrestrito às normas internacionais de direitos humanos", ressaltou Jan Jarab.

O pacote de Lasso é insuficiente, diz Coanie

Lasso afirma que seu pacote representa um desembolso de cerca de US$ 600 milhões. Além da redução de 10 centavos no preço do diesel e da gasolina, o Executivo propõe subsídio a 50% do preço de fertilizantes a pequenos agricultores; o aumento de US$ 5 no Bônus de Desenvolvimento Humano que será pago a 1,5 milhão de famílias; o perdão de dívidas de até US$ 3 mil no Banco do Equador.

Na última semana, o governo também reuniu-se com empresários e ofereceu um crédito de US$ 20 milhões para amortecer os "prejuízos da greve".

A Coanie, que convocou a greve geral no dia 13 de junho, e outras duas federações indígenas assinaram um comunicado declarando que as medidas anunciadas são insuficientes e a mobilização permanece.

Desde 2019, com a gestão do presidente Lenín Moreno, o Equador suspendeu uma política de subsídios aos combustíveis, vigente há mais de 20 anos, para adotar a paridade com preços internacionais — similar ao modelo aplicado pela Petrobras, no Brasil.