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Prisão de Lula é ‘expressão da ditadura no país’, afirma Vagner Freitas

Manifestação da frente Povo Sem Medo em São Paulo rechaça declarações abusivas de Bolsonaro. "Nos últimos dias, esse governo se colocou como cúmplice de homicídio", disse o líder do MTST Guilherme Boulos

Publicado: 06 Agosto, 2019 - 10h02 | Última modificação: 06 Agosto, 2019 - 10h08

Escrito por: Redação RBA

Roberto Parizotti
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A prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é a expressão de que a ditadura está presente no país hoje, afirmou no início da noite desta segunda-feira (5) o presidente da CUT, Vagner Freitas, durante ato na Avenida Paulista “Ele está preso porque era candidato à Presidência da República e ia ganhar a eleição. Lula precisa ser solto. A bandeira Lula Livre purifica todos aqueles que lutam pela democracia”, acrescentou, diante da vão livre do Masp, no ato Ditadura Nunca Mais, convocado pela Frente Povo sem Medo para rebater a escalada autoritária que atinge o país com o governo Bolsonaro. “É preciso reagir, antes que seja tarde”, alertou a organização do evento.

“O que o Bolsonaro fez, nestes últimos dias, passou de qualquer limite com a declaração sobre o Fernando Santa Cruz, desaparecido político da ditadura militar (1964-1985), assassinado por essa ditadura. Ao que consta, ocultaram seu corpo até hoje, sem que a família tivesse podido enterrar”, disse o líder do Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST) Guilherme Boulos. O ex-candidato à Presidência pelo Psol fez referência a declaração do presidente que desdenhou e duvidou da morte do ativista, pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, pelas mãos de militares. Ele foi preso e desapareceu em 1974.

“Felipe Santa Cruz é filho do Fernando. Bolsonaro disse, para atacá-lo, que sabia onde está o corpo do pai dele, o que teria acontecido com o pai dele. Ou seja, o presidente da República se colocou como cúmplice de um homicídio. De um assassinato cometido pela ditadura, pelo Estado. Isso é crime”, disse Boulos, citando ainda outra declaração do presidente, sobre chacina em um presídio em Altamira, no Pará, na semana passada. “Fez troça, tratou como ridículo a morte de 57 pessoas que estavam em um presídio onde houve uma guerra, um massacre. Tratou com ironia quando foi perguntado sobre isso.”

Liberdade de expressão

Característica básica de ditaduras, o ataque à liberdade de expressão, também está presente nas últimas ações do governo Bolsonaro. “Sergio Moro (ministro da Justiça) editou uma portaria de deportação sumária, inconstitucional, em um caso que ele é investigado, não poderia comandar a investigação. Falou em destruir provas e Bolsonaro falou na prisão do Glenn Greenwald”, disse o líder do MTST, a respeito da perseguição do governo contra o jornalista do site Intercept, responsável pelo escândalo da Vaza Jato, que revelou relações promíscuas entre Moro, quando juiz federal, e procuradores da Operação Lava Jato.

“Nos últimos dias, esse governo se colocou como cúmplice de homicídio, perseguiu jornalista, atacou a liberdade de imprensa. O que falta mais? Chegou no limite. Ultrapassou uma linha vermelha. Não dá mais”, completeou Boulos. “Agora é momento de reagir e ir para as ruas. O próximo degrau é a destruição completa da democracia brasileira. Falta pouco. Bolsonaro se mostra, a cada dia, um ser pior. Supera todas as expectativas negativas.”

A ex-ministra Eleonora Menicucci repudiou as ações de Bolsonaro durante o ato. “Esse aí, que ao votar no golpe que tirou a primeira mulher eleita e reeleita, com 54 milhões de votos, para presidenta do país, dedicou seu voto (pelo impeachment de Dilma Rousseff, em 2016) ao maior torturador desse país, o Ustra (o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, apontando como um dos principais torturadores da ditadura). Sei o que significa isso, sei bem o que é ser torturada. É abominável e, também, é abominável como ele chegou lá. Por fake news. Este ato é uma manifestação de repúdio a todas essas manifestações que Bolsonaro tem feito a favor da ditadura”, disse.

Pela Frente Brasil Popular, o coordenador-geral da Central de Movimentos Populares (CMP), Raimundo Bonfim, também se referiu à da criminalização de movimentos sociais. “Hoje, há 41 dias, companheiros como a Preta Ferreira, estão atrás das grades por lutar por moradia. Esta é uma situação gravíssima. Precisamos estar todos unidos neste momento. É um governo autoritário que pretende entregar nossa soberania e atacar nossa democracia”, criticou.

Homenagem

Hoje, o MTST decidiu realizar mais uma homenagem aos mortos e desaparecidos da ditadura. O núcleo de luta por moradia de Santo André, no ABC paulista foi batizado com o nome de Fernando Santa Cruz. “O núcleo existe oficialmente há dois meses e funciona, na prática, como uma ocupação fora do terreno. Toda semana, coordenadores do MTST reúnem-se com centenas de famílias que precisam de moradia — que vivem de favor, que comprometem mais do que podem para pagar o aluguel e não morar na rua, num contexto de crise aguda e falta de emprego”, explica a entidade.

“O Brasil ficou estarrecido, na última semana, com uma declaração em especial do presidente — em meio a tantas. Bolsonaro afirmou saber como morreu o pai do presidente da OAB (Ordem dos Advogados Brasileiro). Fernando Santa Cruz foi sequestrado e assassinado — não se sabe como — pela ditadura militar que governou o país de 1964 a 1985, o que foi reconhecido pelo próprio estado brasileiro. Bolsonaro, depois, mentiu dizendo que companheiros de Fernando o teriam matado. Praticamente todo o conjunto da sociedade se escandalizou e condenou a fala absurda que distorce a história, ataca a dignidade humana e ofende a memória de quem ousou contestar o regime militar”, completou o MTST.