“Privatização da Eletrobras é prejuízo para o Brasil”, diz senador
Em artigo para a Carta Capital, senador petista critica intenção de Bolsonaro de privatizar a Eletrobras. Parlamentar afirma que lucro da estatal poderia ser usado para investir em áreas como saúde e educação
Publicado: 25 Outubro, 2019 - 13h34 | Última modificação: 25 Outubro, 2019 - 13h38
Escrito por: Redação CUT
A arma privatista do governo de Jair Bolsonaro (PSL) está engatilhada e apontada para a Eletrobras. Bolsonaro pretende encaminhar ainda este mês o projeto que autoriza a ‘entrega’ da estatal. Em artigo publicado na Carta Capital, o senador Jean Paul Prates (PT-RN), alerta para as consequências da privatização, relembrando as consequências do início do processo de privatização do setor elétrico, em 1995.
“FHC usou os mesmos argumentos de hoje: barateamento do preço da energia, maior eficiência e aumento de investimentos”. Aconteceu o contrário, diz ele: “o preço aumentou, os investimentos diminuíram e houve um apagão, em 2001”.
No artigo, Prates também reforça que se a venda se concretizar, o país terá grande prejuízo, já que a Eletrobras é uma estatal lucrativa “Em 2018, apresentou lucro líquido de 13,34 bilhões”. E ainda, que esses lucros poderiam ser investidos em saúde e educação.
Como cita o parlamentar em seu texto, “é uma página infeliz da nossa história” e o conjunto da sociedade deve ser alertada sobre os riscos da privatização.
Confira a íntegra do artigo:
Além de uma tenebrosa transação, entregar à iniciativa privada o controle da Eletrobras é uma operação temerária
Sempre que me deparo com textos em defesa da intenção do governo Bolsonaro de privatizar a Eletrobras, o trecho de uma canção de Chico Buarque e Francis Hime surge imediatamente na memória e ecoa como fundo musical até eu concluir a leitura daquele escrito. São alguns versos da canção “Vai Passar”, em 1984: “Dormia, a nossa pátria mãe tão distraída / Sem perceber que era subtraída / Em tenebrosas transações”. Mesmo depois de 30 anos, a música nunca esteve tão atual…
É impensável o Brasil abrir mão de sua soberania e se desfazer da autoridade de definir as tarifas cobradas pelo fornecimento de energia elétrica, além de como e onde serão realizados os investimentos no setor. A transação é mais tenebrosa e temerária ainda porque, em último plano, poderá comprometer a nossa segurança hídrica. Na prática, as empresas que adquirirem o controle acionário da Eletrobras poderão passar a gerenciar também as nossas principais bacias hidrográficas.
Segundo a imprensa, o governo pretende encaminhar ainda neste mês ao Congresso um projeto autorizando a privatização da Eletrobras. Nos moldes do que foi divulgado, o governo ficaria com 30% a 40% das ações da estatal. Todos nós que desejamos um Brasil soberano e com condições de oferecer um futuro mais digno para seus cidadãos devemos nos unir e trabalhar para evitar que o Parlamento atenda bovinamente aos caprichos do Palácio do Planalto, aprovando tal matéria. Imaginem os chineses ou as grandes companhias de outros países ricos ditando os destinos de parte dos nossos rios…
Além da temeridade da transação, se ela for concretizada, economicamente trará grande prejuízo. Nos últimos anos, a Eletrobras tem melhorado todos os seus indicadores. Em 2018, por exemplo, apresentou um lucro líquido de 13,34 bilhões. Nos últimos dez anos, pagou mais de 15 bilhões em dividendos à União. Estima-se que o governo federal apuraria 16,2 bilhões com a privatização da estatal. Os candidatos a compradores devem estar esfregando as mãos, tamanha a satisfação com a expectativa de fechar esse negócio.
Se recuarmos no tempo até 1995, recordaremos que o governo FHC usou os mesmos argumentos de hoje, quando iniciou a privatização do setor elétrico: barateamento do preço da energia oferecido ao consumidor, maior eficiência e aumento dos investimentos no setor e redução da dívida pública. Na vida real, o preço aumentou, os investimentos diminuíram e o País ficou às escuras, com o apagão de 2001. Bolsonaro e sua equipe econômica requentaram a mesma falsa premissa que vem sendo repetida ao longo dos anos.
Que o governo venda uma parte das ações, até pode ser considerado legítimo, porém, sem se desfazer do controle acionário da empresa. Também simpatizo com a sugestão do professor e ex-diretor da Petrobras, Ildo Sauer, de a Eletrobras reassumir sua função social e ter parte de seus lucros aplicados no financiamento da saúde e da educação. É uma ideia que merece ser melhor estudada. Porém, o fundamental é alertar a empresários, militares, agricultores, trabalhadores e à população de uma maneira geral sobre os riscos da operação. Parafraseando a canção, torço para que essa página infeliz da nossa história passe rápido.