Escrito por: Amélia Gomes, do Brasil de Fato
Para petroleiros, além das ações organizadas em defesa da estatal, conquista é fruto do novo momento do país
A Petrobras anunciou oficialmente, que suspendeu a venda da Refinaria Gabriel Passos (Regap), em Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte (MG). No comunicado, a empresa informa que decidiu pelo encerramento do processo, uma vez que a proposta de aquisição apresentada está aquém da avaliação econômica e financeira.
Alexandre Finamori, coordenador geral do Sindicato dos Petroleiros de Minas Gerais (Sindipetro) comemora a decisão e atribui a conquista às lutas travadas contra a entrega do patrimônio. “Para nós, é um anúncio da vitória da luta popular, da resistência dos trabalhadores e da população mineira que também defendeu a Petrobras”, celebra.
Em 2019, com o plano de privatização de Jair Bolsonaro (PL), a unidade foi posta à venda, junto com outras sete refinarias. Finamori explica que a decisão era o aprofundamento de um plano nacional, em curso desde o golpe presidencial de 2016, de entrega e desmonte da estatal. “O Temer, assim que assumiu, acabou com a operação única da Petrobras no pré-sal, hibernou plantas de biocombustíveis e começou a colocar refinarias à venda”, recorda.
De lá para cá, atos, greves e campanhas, como a “Petrobras fica em Minas”, foram organizados pelos petroleiros em defesa da Regap e da estatal. Além disso, a categoria também organizou, sobretudo durante o agravamento da pandemia de covid-19, ações de solidariedade, como a venda de botijão de gás a preço justo, para dialogar com a sociedade sobre a importância da refinaria e da adoção de uma política soberana dentro da Petrobras.
O que estava em risco?
Apesar de a Regap ter escapado do balcão de Bolsonaro, unidades, como a Refinaria Mataripe, antiga Refinaria Landulpho Alves (RLAM), na Bahia, foram privatizadas. Sob gestão privada, a refinaria vende atualmente o combustível mais caro do país. O mesmo poderia acontecer em Minas Gerais, já que o estado é dependente da Regap para o seu abastecimento.
Além disso, a venda da unidade também desmontaria a cadeia produtiva organizada em seu entorno, o que envolveria cerca de 10 mil trabalhadores diretos e indiretos.
A segurança e saúde dos moradores vizinhos à unidade também estavam sob ameaça. Há anos sendo sucateada para a sua venda, a Regap chegou a enfrentar acidentes provocados por redução na mão de obra da unidade. Na época, Finamori alertou que, com a venda, a refinaria se tornaria uma bomba-relógio.
Novos ventos
No comunicado de desistência da venda, a Petrobras – ainda sob gestão indicada por Bolsonaro – afirma que poderá retomar o processo em outra oportunidade. No entanto, o sindicalista Alexandre Finamori avalia que essa não será a realidade, já que a entrega do patrimônio ao setor privado não é compatível com o novo momento do país.
“O governo Lula tem outra visão sobre os serviços públicos e sobre a Petrobras e por isso esperamos que seja uma gestão de geração de emprego na estatal, aumento do pacto de refino, investimentos no pré-sal e desenvolvimento da tecnologia nacional. Continuaremos acompanhando e cobrando uma Petrobras mais justa e voltada para os interesses da população”, assegura o petroleiro.