Professor do Paraná é esfaqueado por aluno em sala de aula
Sérgio Vesco, de 50 anos, foi atingido na perna, em região próxima à artéria femoral, o que poderia ter causado sua morte. Segundo testemunhas, motivos podem estar relacionados à intolerância política
Publicado: 24 Abril, 2019 - 16h49 | Última modificação: 25 Abril, 2019 - 14h46
Escrito por: Andre Accarini
O professor e ex-vereador pelo PT na cidade de Formosa do Oeste, interior do Paraná, Sérgio Vesco, foi esfaqueado por um aluno na sala de aula na tarde desta terça-feira (23).
Segundo testemunhas, enquanto dava aula, Sérgio percebeu o movimento estranho do adolescente, de 14 anos, que correu em sua direção com uma faca na mão na intenção de feri-lo no pescoço. Pato, como é conhecido o professor, conseguiu se proteger do golpe, mas acabou sendo atingido na perna, em uma região próxima a artéria femoral, o que poderia ter matado o professor.
Sérgio Vesco foi atendido no pronto-socorro da cidade e posteriormente levado ao hospital de Cascavel (PR), cidade próxima de Formosa, onde passou por cirurgia e agora permanece em observação. Após o ataque, o aluno fugiu de moto, mas foi localizado e detido pela Polícia Militar. O adolescente está sob custódia no Ministério Público do Paraná e poderá ser encaminhado a um Centro de Socioeducação.
A diretora da escola, Cristina Navarro Dias, que é esposa de Sérgio, conta que o aluno já tinha um histórico de agressividade e problemas com outros professores.
A difícil arte de lecionar
Amigo de Sérgio e professor de filosofia em Curitiba, Rozalvo Finco afirma que é crescente a intolerância em sala de aula por questões ideológicas, o que segundo ele, pode ter sido a causa da agressão a Sérgio.
“Além da posição política de Sérgio, o perfil desse aluno era de quem não gostava de ser contrariado”, conta.
De acordo Rozalvo, professores hoje trabalham com receio do que vão dizer em sala de aula, temendo reações violentas. “Há uma certa animosidade, uma pré-disposição de alunos para entenderem debates democráticos como ataques a Bolsonaro. Não se pode mais expor pontos de vistas”, lamenta.
A extensão da intolerância, segundo o professor, é tamanha ao ponto de ele ter sido criticado por usar a palavra ‘mito’ em uma aula: “Eu falava sobre a diferença entre verdade e mito, quando alunos reclamaram: ‘tá falando mal do Bolsonaro?’”
“Em sala de aula, se vamos expor um ponto de vista crítico, que não condiz com a ideologia de direita que está dominando o país, estamos fazendo política. Já se falarmos bem do governo, passa a ser normal”, critica Rozalvo.
Para ele, todo o retrocesso social que o Brasil vive ainda está em curso e pode piorar, por isso é necessário que a sociedade estabeleça um basta em situações como a perseguição a professores e discuta meios de como agir para retomar a função social da escola. “O Brasil precisa voltar a ter um mínimo de capacidade crítica, civilidade e sociabilidade”, conclui o professor.
Mensagem
Do hospital, o professor enviou um agradecimento à solidariedade e “vibrações positivas” de seus amigos e família, após a operação: “Não estou preparado para enfrentar o que sofri. Sou preparado apenas para ensinar crianças a prepararem textos em vários gêneros. Consegui me defender e estou passando bem, apesar da gravidade dos ferimentos. Estou com psicológico abalado por causa dessa violência, mas todo esse trauma vai passar”, disse Sérgio, em áudio aos seus amigos.
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