Escrito por: Rodrigo Gomes, da RBA

Professores farão carreata em defesa da vida e contra volta insegura às aulas

Docentes da rede pública paulista consideram prematura e arriscada a volta às aulas anunciada para setembro pelo governo de João Doria (PSDB)

Arquivo EBC/Reprodução

Nesta terça-feira (7), professores da rede pública estadual paulista farão carreata em protesto contra a volta às aulas presenciais sem um controle efetivo da pandemia de coronavírus. A retomada das atividades escolares está prevista para 8 de setembro, conforme anunciado pelo governador João Doria (PSDB). A concentração será às 14h, na subsede do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) da Vila Mariana, na zona sul, de onde os professores seguirão em marcha até a avenida Paulista.

Os professores entendem que a suspensão das aulas presenciais, ocorrida em 24 de março, contribuiu decisivamente para que o quadro da pandemia em São Paulo não fosse ainda mais grave. “Portanto, as escolas, devem ser as últimas a retornar às atividades presenciais e, ainda assim, somente quando houver a drástica redução da pandemia e a garantia de segurança sanitária para professores, estudantes, funcionários e suas famílias. No contexto atual, sem perspectivas de um rápido controle da pandemia, deve ser mantida a utilização das tecnologias de informação e comunicação até dezembro”, defende a Apeoesp.

O governo Doria anunciou a possibilidade de retomada das aulas no dia 24 de junho. A ideia é que ela seja realizada de uma vez só, em todo o estado, tanto para as redes públicas como privadas, da creche ao ensino superior. Essa previsão, no entanto, depende de uma melhora significativa no quadro atual da pandemia de coronavírus. As aulas só serão retomadas se todo o estado avançar e permanecer na fase 3-amarela do Plano São Paulo por 28 dias seguidos. Atualmente, apenas a capital e duas sub-regiões da Grande São Paulo estão nessa fase da flexibilização.

Três fases

Segundo o secretário da Educação, Rossieli Soares, a volta às aulas será feita em três fases. Na primeira etapa, até 35% dos estudantes poderão voltar às escolas, com preservação de um 1,5 metro de distância entre eles, tanto na sala de aula e no transporte escolar como no refeitório e atividades coletivas. Na segunda etapa, concomitante ao avanço das regiões para a fase 4-verde, do Plano São Paulo, por 14 dias, voltam até 70% dos estudantes, com os mesmos protocolos. Se o controle da pandemia se mantiver na fase 4-verde por mais 14 dias, poderão voltar 100% dos estudantes.

Soares disse ainda que serão distribuídos equipamentos de proteção individual (EPIs) para estudantes, professores e demais funcionários das escolas. Durante todo o período de aulas e no transporte escolar será obrigatório o uso de máscara. Todos os estudantes deverão usar canecas próprias para beber água, pois uso direto dos bebedouros será proibido. Os ambientes coletivos deverão ser limpos a cada três horas.

No entanto, grande parte das medidas de distanciamento e higiene não é obrigatória, o que torna frágil o plano de voltas às aulas em São Paulo. Por exemplo, a garantia de distanciamento de 1,5 metro entre os alunos, em refeitórios e atividades físicas, é apenas “recomendável”. Assim como o incentivo à higienização de mãos após tossir, espirrar, usar o banheiro, ou tocar em dinheiro. Também é apenas “recomendável” exigir o uso ou oferecer EPIs aos funcionários.

Sem confiança

Professores e outros trabalhadores da educação rechaçam essa proposta de volta às aulas. Para os educadores, a política de combate à pandemia de coronavírus de Doria não inspira nenhuma confiança para a retomada das atividades escolares.

“São urgentes a mobilização e a manifestação para impedir o retorno às aulas presenciais nas escolas públicas e privadas de São Paulo. Funda-se nossa posição na convicção de que a conduta do governo do estado e da esmagadora maioria das prefeituras municipais, neste momento, não inspira nenhuma confiança. Não há qualquer expectativa que eventuais medidas dirigidas a promover a volta às aulas estejam amparadas por orientações emanadas das autoridades sanitárias e validadas em conhecimento científico”, diz a Apeoesp.

As entidades destacam o número de mortes causadas pela covid-19 – passando dos 65 mil óbitos nesta segunda-feira (6) –, como clara demonstração de que a situação não está controlada. “É de uma inaceitável irresponsabilidade e precipitação debater a voltas às aulas presenciais. Defendemos que qualquer decisão nesse sentido seja validada em conformidade com os protocolos científicos aceitos internacionalmente. Enquanto isso não acontece, é preciso cuidar das famílias”, defendem os professores, reivindicando garantia trabalhista de home office para mulheres com filhos ou auxílio financeiro adequado.