Professores no RJ aprovam greve contra volta das aulas presenciais sem vacina
Profissionais da educação em São Paulo, Paraná e Manaus também estão em luta para defender vidas. A falta de estrutura adequada contra doença nas escolas públicas também pesa na decisão da categoria
Publicado: 01 Fevereiro, 2021 - 15h55 | Última modificação: 01 Fevereiro, 2021 - 16h01
Escrito por: Érica Aragão
Professores e professoras da rede pública estadual e municipal no Rio de Janeiro (RJ) decidiram no último fim de semana deflagrar greve contra o retorno das aulas presenciais, anunciado para o dia 24 de fevereiro, sem vacina para todos e todas e com o aumento dos casos e mortes pela Covid-19 em todo país.
Em São Paulo, no Paraná e em Manaus a categoria também resiste e luta para manter aulas virtuais até que todos e todas sejam vacinados.
Rio de Janeiro
Em assembleia e votação online, convocadas pelo Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro (SEPE-RJ) no sábado (31), 84,5% da categoria decidiu que o profissional que for convocado para o trabalho presencial a partir dessa segunda-feira (1º) não deve comparecer à escola. Outras redes municipais estão discutindo e podem aprovar também a Greve Pela Vida nos próximos dias.
Foi aprovado na Assembleia, que a categoria vai reivindicar junto à prefeitura que os profissionais de educação façam parte do grupo prioritário e sejam vacinados contra a Covid, após os profissionais da saúde e idosos.
A professora, Secretária de Assuntos Educacionais no SEPE e vice-presidenta da CUT Rio, Duda Quiroga, criticou duramente a proposta do prefeito da cidade, Eduardo Paes (DEM). “É uma aberração”.
O governo propôs que 75% dos alunos no ensino infantil e fundamental 1 voltem a frequentar a escola e caso a situação da doença na cidade piore, o percentual diminuiria para 50%.
“Cada turma do infantil ou mesmo do fundamental, com menos alunos na sala de aula, ainda seria uns 20 alunos e como estas fases exigem adaptação escolar os responsáveis também teriam que participar das aulas e as salas ficariam ainda mais cheia”, explicou Duda.
A gente decidiu pela greve. O ensino remoto continuará até todas nós sermos vacinadas
De acordo com a dirigente, faltam um ou dois meses para a categoria ser vacinado, seguindo o calendário de Paes.
Os profissionais da educação no Rio também alegam que as escolas da cidade não estão preparadas e não garantem a segurança necessária para que alunos e professores retomem suas atividades presenciais, em especial os estudantes com deficiências. A falta de infraestrutura de mais de 200 unidades escolares também afetou a decisão. Escolas sem ventilação, banheiros degradados e sem água nem para lavar a mão, uma das orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), afetam as estruturas das escolas.
“O prefeito falou que eram 44 escolas com problemas grave na estrutura, mas é muito mais. Um levantamento feito pelo SEPE mostra que centenas de escolas públicas sofrem com a precarização. Tem muita escola sem imobiliários fundamentais para manter distanciamento e nem tem água para lavar mão, ações básicas no combate à doença. Tem muita escola com os matos subindo pelas paredes com bichos e insetos. Como é que querem que a gente volta nestas condições”, afirmou Duda.
Paulistas também lutam
Em São Paulo a situação não é muito diferentes e, por isso mesmo, há resistência e luta dos professores e parte da comunidade escolar para as aulas se manterem virtuais até que todos e todas sejam vacinados.
O Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), há duas semanas tem convocado a categoria para carreatas e mobilizações contra o retorno das aulas presenciais nas escolas públicas a partir do dia 8. Representantes do sindicato, inclusive, acionaram a justiça em defesa da vida, conseguiram uma liminar na primeira instância contra o retorno das aulas presenciais e depois perderam no Tribunal de Justiça (TJ). O governo de João Doria (PSDB) manteve a decisão do retorno das aulas presenciais para segunda semana de fevereiro, mesmo sem vacina e sem estrutura segura nas escolas e com o número de casos de Covid-19 em alta em todos o estado.
“Nossa posição é baseada em pareceres de infectologistas e do Instituto de Arquitetos do Brasil e não há dúvidas de que não há condição sanitária para o retorno presencial dos alunos tanto no ponto de vista da saúde quanto do preparo adequado das escolas para receber os alunos com segurança. Doria não conseguiu contestar nossos laudos e o TJ de forma monocrática derrubou politicamente a liminar, mas a gente não pode ficar esperando os resultados da justiça e continuamos na luta para salvar vidas. Vai ter greve se o governo insistir em arriscar a vida da categoria”, disse o Secretário de Comunicação da Apeoesp, Roberto Guido.
Segundo o dirigente, os professores e as professoras estão se desdobrando para dar as aulas online porque entendem a importância da educação para o país, inclusive para o combate à doença.
Nós sabemos os prejuízos da ausência do ensino presencial, mas não deixamos de nos dedicar ao ensino. A gente só continua priorizando a defesa da vida e é por isso que é fundamental que a comunidade escolar seja vacinada o quanto antes
Pela terceira semana consecutiva, na próxima sexta-feira (5) a categoria se reunirá. A decisão agora é se haverá greve ou não.
“Sexta retrasada tivemos um ato contra as aulas presenciais em frente a secretaria de Educação e na semana passada fizemos uma passeata nas ruas da cidade para dialogar com a população e explicar porque defendemos a vida, mesmo sabendo da importância do retorno das aulas presenciais. Nesta semana estamos fazendo reuniões nas sub-regionais da entidade e já temos um indicativo de greve. Na sexta-feira iremos aprovar com a categoria a paralisação para o dia 8”, afirmou Guido.
Paraná
No Paraná, educadores e educadoras realizarão atos públicos durante a primeira sessão legislativa do ano, numa agenda que faz parte da organização da Greve Geral da Educação, aprovada na última assembleia da APP-Sindicato e marcada para começar agora no dia 18.
“Queremos reforçar a nossa campanha em defesa da vida. Cobramos uma campanha de vacinação gratuita para todas as pessoas e reforçamos nossa posição contrária ao retorno às aulas presenciais, agora em 18 de fevereiro”, diz em nota a entidade.
A nossa greve é em defesa da vida de todos e todas. Para que educadores, pais, mães, responsáveis e estudantes tenham acesso à vacina. Não há condições sanitárias para retorno, mesmo que da forma híbrida, pois não há vacina para todos
Manaus
Em Manaus, estado que vive o caos da falta de oxigênio, falta de leitos de UTI e enfermaria e equipamentos de segurança para o pessoal da saúde, além da explosão de contaminações e mortes, o governo ainda não marcou data para o retorno das aulas presenciais, mas a categoria já está se articulando e fazendo ações para que a volta à escola só aconteça com vacina para todos e todas.
O Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Amazonas (Sinteam) está realizando a campanha: Sem Vacina Escola Vazia.
“Vamos usar de todos os recursos para barrar um retorno presencial caso o governo ínsita nessa possibilidade. É preciso cautela e respeito pela vida! Não temos mais leito e estamos dependendo do oxigênio que o presidente da Venezuela e outros estados estão nos mandando. Não queremos que o nosso povo continue morrendo sufocado”, disse a presidenta do Sinteam, Ana Cristina Pereira Rodrigues.
*Edição: Marize Muniz