Professores reagem duramente ao anúncio de militarização das escolas do Paraná
Direção da APP-Sindicato diz que a medida autoritária do governador é um desrespeito aos educadores e à comunidade escolar. Confira 10 razões para reprovar a militarização das escolas
Publicado: 27 Outubro, 2020 - 14h10 | Última modificação: 27 Outubro, 2020 - 14h25
Escrito por: Redação CUT
A direção do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato) reagiu durante ao anúncio feito nesta segunda-feira (26) pelo governador Ratinho Jr (PSD) e pelo secretário da Educação, empresário Renato Feder, de que haviam assinado a regulamentação da lei que institui as escolas cívico-militares no Paraná.
A APP-Sindicato afirma que a lei, aprovada de forma autoritária, com as autoridades utilizando a pandemia do novo coronavírus (Covid-19) como desculpa para evitar o debate com professores, funcionários e a comunidade escolar, é um retrocesso para a Educação pública e de qualidade no Estado. A entidade listou dez razões para a militarização ser reprovada (confira no final do texto), entre elas, o fato de que nessas escolas é um policial militar que vai dirigir a unidade e não um professor ou uma professora e que as matrículas dos alunos que não se adaptarem à disciplina militar serão canceladas.
De acordo com os sindicalistas, além de atropelar o processo para lançar o programa, as direções de escolas foram pegas de surpresa, com a divulgação da lista das escolas somente no início da tarde de ontem.
A secretária-geral da APP-Sindicato, professora Vanda Santana, informou que os Núcleos Regionais de Educação (NREs) convocaram as direções escolares para, a partir das 8h da manhã desta terça-feira (27), iniciarem a consulta das escolas que irão adotar o modelo.
“É uma total falta de respeito, mas quero chamar a atenção para um aspecto, pois o método do governo de impor a consulta e as escolas militarizadas diz muito do que ele realmente entende de concepção de sociedade e educação. Uma educação voltada para atender interesses de grupos privados e interesses de grupos político-partidários. Veja que a resolução foi divulgada hoje e em menos de 24 horas começa a consulta, sem haver um momento de debate e conscientização com a comunidade ou categoria“, destacou.
O Sindicato aponta ainda que não há reconhecimento por parte do governo do Estado pelo trabalho realizado pelas direções de escola, equipes pedagógicas, professores e funcionários, pois a justificativa do governador com este programa é de colocar o Paraná em melhores níveis de qualidade educacional.
“Isso significa que, para esse governo, todo o trabalho realizado até agora não teve qualidade. Muito pelo contrário, sabemos que o que temos é fruto do nosso trabalho e agora o governo diz que os policiais militares vão trazer qualificação para a educação. Isso é muito grave, desvalorização do nosso trabalho profissional e desrespeito com a comunidade, pois ela não está sendo orientada de forma adequada sobre o futuro da educação dos seus filhos”, critica a secretária.
Existe uma falsa ideia de que as escolas cívico-militares irão melhorar a qualidade e que as escolas serão para os estudantes, mas não é dessa forma, pois os alunos que não se adaptarem a este modelo perderão sua vaga e deverão procurar outra unidade, afirma Vanda.
A direção estadual da APP-Sindicato orienta que as escolas solicitem a suspensão da Consulta Pública convocada de forma atropelada para esses dias 27 e 28, em plena pandemia. Também orienta que verifiquem se as escolas selecionadas na sua região cumprem os requisitos da legislação e nos encaminhem para tomarmos as medidas cabíveis.
Confira aqui a íntegra do comunicado da direção estadual da APP-Sindicato.
Militarização das escolas: 10 motivos para votar NÃO
1) A direção da escola fica nas mãos de um policial militar. Escola não é lugar de polícia, assim como batalhão não é lugar de professor/a.
2) A comunidade não tem o direito de escolher a pessoa que irá dirigir a escola. A Secretaria de Educação indica o Diretor Geral Militar e um/a professor/a para assumir o cargo de direção civil, mas sem autonomia e submetida às ordens do diretor-militar.
3) Caso o/a estudante não se adapte à disciplina militar, perde a matrícula mesmo que resida perto da escola.
4) Há controle da liberdade de expressão e manifestação dos/as estudantes, professores/as e funcionários/as.
5) Não há igualdade na distribuição dos recursos entre as escolas estaduais. A escola militarizada receberá mais recursos e mais profissionais, enquanto as demais continuam precarizadas.
6) A pedagogia da escola militarizada é a da submissão à disciplina militar.
7) Os/As professores/as e funcionários/as perdem a lotação, portanto, poderão ser colocados/as à disposição a qualquer momento, a depender do interesse da Seed.
8) Os/as profissionais da educação ficarão submetidos/as aos militares da reserva.
9) Crescente desvalorização da carreira dos profissionais da educação.
10) Colégio militar é para formar soldados, escola pública é para formar cidadãos/ãs humanizados, livres, plurais, diversos e emancipados.
Com informações APP-Sindicato.