Proposta de Haddad para educação prioriza valorização do professor
O embate na disputa eleitoral é o avanço, representado pelas propostas de Haddad, contra o retrocesso contido nas propostas de Bolsonaro. O que está jogo é o futuro das crianças e jovens
Publicado: 26 Outubro, 2018 - 17h55 | Última modificação: 26 Outubro, 2018 - 18h49
Escrito por: Andre Accarini
O debate eleitoral em torno da educação é marcado pela continuidade – ou não - da evolução da qualidade da educação brasileira, que deu um salto em 2008, quando o professor passou a ter reconhecimento e valorização por parte do Estado brasileiro. Naquele ano, o então ministro da Educação, Fernando Haddad, criou a lei 11.738/2008 - a Lei do Piso Salarial Nacional dos Professores, um dos mais importantes passos para o reconhecimento profissional da categoria, em toda a história do Brasil.
Com a Lei do Piso, os professores e professoras passaram a ter um salário mínimo próprio, R$ 950 na época. Quando foi sancionada, cerca de 37% da categoria recebia menos do que o valor estipulado. Nos anos seguintes, a valorização desse piso foi de 78,7% (com ganho real de 35,5%), chegando a R$ 1.697,39 em 2014.
Haddad também criou programas como o FIES e o PROUNI, que permitiram o acesso de milhões de jovens às universidades. Como candidato a Presidência da República pelo PT, Haddad pretende ampliar esses programas, implantar o Plano Nacional de Educação e retomar investimentos em ensino técnico e superior, além de creches e educação básica, caso seja eleito no próximo dia 28.
Mas, as eleições podem interromper todos esses investimentos no futuro dos jovens e do Brasil, além do processo de valorização dos professores.
O adversário de Haddad no segundo turno da eleição, Jair Bolsonaro (PSL), sinalizou que vai implantar o ensino a distância já nos primeiros anos de escola, o que, segundo especialistas, representa a destruição da educação brasileira e até da profissão que hoje comemora o seu dia.
As propostas dos candidatos para a educação mostram visões extremamente distintas sobre como melhorar a qualidade do ensino no Brasil. Professor universitário, Haddad diz que a “figura humana” no ensino, ou seja, o professor, é fundamental para a construção de um país mais justo e soberano. Já Bolsonaro, só pensa em “diminuir custos” e evitar “doutrinação ideológica”, seja lá o que isso signifique para o candidato. Em outras palavras, a proposta de Bolsonaro acaba com a educação pública. A de Haddad, fortalece.
Educação a distância
O professor de filosofia, cientista político e ex-ministro da Educação no governo Dilma, Renato Janine Ribeiro, afirma que educação a distância, proposta defendida por Bolsonaro, para crianças não funciona.
“Não faz muito sentido. Criança precisa aprender a ler, escrever e tem que ter, sobretudo, o convívio com gente de carne e osso, com professores, alunos da mesma idade”.
Para Janine, o convívio social no ambiente escolar permite que a criança aprenda que existem outros adultos além dos pais e outras crianças além dos irmãos.
A escola, além de ser o lugar que socializa a criança, é o onde ela ganha merenda, tem uniforme, tem calçado, aprende a conviver. Se perder isso, ela aprenderá de que maneira? Na frente de uma televisão?
Outro ponto levantado pelo professor é o cuidado que a criança deve receber durante o aprendizado. Ele questiona quem ficaria ao lado dela durante o ensino, acompanhando a evolução, se está realmente atenta, sem fazer nada errado. “Vai ser a mãe? Não vai mais poder sair para trabalhar? Vai ter que talvez contratar uma cuidadora? E quem coloca um filho em escola pública vai ter dinheiro para contratar uma cuidadora? ”.
CNTE contra a proposta da extrema direita
Uma mudança dessa magnitude impactaria diretamente a categoria, diz o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Heleno Araújo, se referindo a proposta de Bolsonaro de implantar educação a distância em todas as fases do ensino.
“Seria um desastre para toda a sociedade”.
Ele diz que os educadores não desprezam a tecnologia, mas “ela deve ser utilizada para agregar valores à educação e não substituir a presença de um professor”.
Heleno explica que a relação “olho no olho”, entre professor e aluno, da creche ao ensino superior, significa não somente a transmissão de conhecimento, mas também e principalmente o cuidado com o ser humano.
É o cuidado com o ser humano que transformará nossas crianças e jovens em cidadãos melhores
Por isso, completa o presidente da CNTE, a profissão e a presença do professor em sala de aula são de extrema importância.
Cotados para a educação
Pelo Twitter, Fernando Haddad afirmou que "há muito tempo" acredita que o filósofo Mario Sérgio Cortella deveria ocupar o cargo de ministro da Educação. Cortella é também professor universitário, doutor em educação e escritor, com dezenas de obras importantes ligadas à pedagogia. Foi secretário de Educação na prefeitura de São Paulo entre 1991 e 1992, durante a gestão de Luiza Erundina.
Do outro lado, recentemente, o jornal O Estado de S Paulo noticiou que o general Aléssio Ribeiro Souto é um nome cotado para o ministério da Educação, caso Bolsonaro seja eleito.
Aléssio declarou ao jornal que deve “fazer ampla revisão dos currículos e das bibliografias usadas nas escolas para evitar que crianças sejam expostas a ideologias”. Disse também ser contrário a cotas. Em entrevista à jornalista Renata Agostini, afirmou que “pagar bem [ao professor] agora é uma absoluta impossibilidade”.