Escrito por: Luciana Waclawovsky, especial para Portal CUT

Protesto de professores da educação infantil é reprimido com violência em BH

Assembleia Geral da categoria está agendada para esta quarta-feira (25), em frente à Prefeitura, onde aconteceu a repressão contra os professores, que  devem iniciar uma paralisação em todas as Umeis

Reprodução

 

Um ato de protesto por melhorias salariais de professores e professoras da educação infantil virou palco de guerra na manhã desta segunda-feira (23), em frente à prefeitura de Belo Horizonte, em Minas Gerais.

Armada com bombas de efeito moral, balas de borracha e mangueira de jato d’água, a Polícia Militar partiu com violência para cima dos educadores que foram cobrar do prefeito Alexandre Kalil (PHS) promessa de equiparação da carreira do Ensino Infantil com o Ensino Fundamental feita durante a campanha eleitoral de 2016.

Os professores e professoras das 131 UMEIS - Unidade Municipal de Educação Infantil -, localizadas nas áreas mais carentes e vulneráveis da capital mineira, estão desde 2004 batalhando por esse reajuste - a diferença entre os salários-base é de R$ 676, mas as exigências profissionais são bastante semelhantes.

O presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Belo Horizonte (Sindibel), Israel Arimar, disse ao Portal CUT que o ato ocorria normalmente onde historicamente acontecem ações sindicais e, de repente, a polícia se voltou violentamente contra os manifestantes dizendo que estavam impedindo os carros de trafegar nas vias que circundam a administração municipal.

As cenas lembraram as da ditadura militar da década de 1980, contou o dirigente. Ele disse que foi totalmente desproporcional o uso da força policial contra os educadores, já que as vias nas proximidades do prédio público recebem manifestações populares, tanto sindicais como de torcedores de futebol e, quase sempre, durante os protestos, as ruas ficam interditadas e o trânsito é desviado.

“Entendemos que a responsabilidade é do prefeito, mas também iremos cobrar do governador [Fernando Pimentel (PT)], porque a PM está subordinada ao governo do Estado. Iremos questionar essa repressão, pois o principal argumento da polícia foi a obstrução da via e discordamos dela porque historicamente Belo Horizonte recebe esse tipo de evento. Isso não justifica a violência ocorrida contra os servidores”.

Segundo explicou o secretário nacional de Cultura da CUT, José Celestino [Tino] Lourenço, da base da educação, a situação estava ficando insustentável do ponto de vista das condições de trabalho e de vida dos educadores infantis municipais. Foi quando realizaram uma primeira greve que já havia sido anunciada, contou.

“Todos os comunicados sempre forma enviados às autoridades e também era de conhecimento da sociedade de Belo Horizonte. Além disso, os professores, junto dos sindicatos, fizeram muitas reuniões com as comunidades para evitar problemas com a população porque se trata de educação infantil em regiões carentes, onde as mães precisam deixar seus filhos para poder trabalhar”, argumentou Tino.

Para o presidente do Sindibel, o que aconteceu ontem fugiu da normalidade e abre a porta para um novo contexto que é o de calar a voz dos trabalhadores porque, segundo ele, “faz mais de 20 anos que realizamos atos em frente à prefeitura e nunca houve esse tipo de repressão”.

Israel Arimar afirmou que a partir de agora os atos se intensificarão nas ruas da capital mineira e outras categorias, que estão com data-base para iniciar processo de negociação, estarão unidas para lutar juntas contra as repressões que o Estado vem promovendo.

Tino Lourenço contextualizou as cenas de violência desta segunda-feira com outras ocorridas recentemente em São Paulo, Santa Catarina e Paraná, que reprimiram com violência policial protestos de educadores contra o desmonte do estado e a perda de direitos, e avaliou que hoje vivemos em um regime de exceção.

“Temos que reagir fortemente contra isso para barrar essas violências tanto físicas quanto do enfraquecimento dos equipamentos do estado como escolas e postos de saúde, e nossa luta tem que ser permanentemente para um resgate da democracia porque a situação está ficando insustentável. Já que não temos um golpe militar, quem hoje faz esse papel são as polícias que, junto do Poder Judiciário, estão penalizando a classe trabalhadora e lideranças políticas populares”, argumentou o dirigente nacional, referindo-se à prisão política do ex-presidente Lula que está mantido em regime especial de prisão sem ter cometido nenhum crime, na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.