Protestos e greve nacional no Equador pedem renúncia de Lenín Moreno
Governo do Equador fala em diálogo, mas intensifica repressão e mantém pacote econômico repelido pela população. Manifestações alcançam 21 dos 23 estados
Publicado: 10 Outubro, 2019 - 09h44 | Última modificação: 10 Outubro, 2019 - 09h48
Escrito por: Redação RBA
Milhares de pessoas marcharam para Quito após a convocação da greve nacional contra a política econômica do governo do presidente, Lenín Moreno. As manifestações, lideradas pelo movimento indígena, reúnem também sindicatos, estudantes, grupos de mulheres e associações comunitárias. O governo do Equador, acuado e com sua sede transferida para Guaiquil, a 420 quilómetros da capital, fala em diálogo enquanto promove forte repressão militar. Em pronunciamento transmitido pela TV pública, Moreno disse esperar uma solução rápida para os protestos. O toque de recolher continua. Foram registradas manifestações em 21 das 24 províncias do país pedindo a saída de Moreno.
Os manifestantes chegaram de manhã à capital do Equador, apesar do toque de recolher decretado pelo governo. A principal convocação para o dia nacional da greve veio da Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador (CONAIE). A eles se juntaram estudantes do ensino médio, universidades, membros de organizações sociais e políticas, além do coletivo de mulheres. Muitos estão acampados em diferentes localidades de Quito esperando pela marcha de ontem. Ao longo do dia, exigiram a renúncia de Lenin Moreno e que ele reverta o pacote construído em acordo com o FMI. “Que o governo renuncie. Ele teve tempo suficiente para demonstrar o que poderia fazer pelo povo e não fez nada”, disse Diana Guanatuña, da comunidade indígena de Zumbahua, região andina do Equador.
Na noite de terça-feira (8), Moreno decretou o toque de recolher que durou até a manhã de quarta. Mas mesmo antes de entrar em vigor, policiais e militares atacaram os acampamentos com gás lacrimogêneo, atingindo homens, mulheres, idosos e crianças, muitos dos quais tiveram que ser transferidos para hospitais próximos. Universidades próximas abriram suas portas para receber centenas de pessoas.
Na presença de policiais e militares estacionados em todo o centro histórico de Quito, manifestantes marcharam carregando bandeiras do Equador e também os adereços tradicionais das comunidades indígenas. “Violentas não são as pessoas que lutam, mas o Estado que as reprime”, era possível ler em pôsteres que carregavam. “A grande mídia está dizendo que estamos saindo, e não. Aqui estamos e continuaremos. Somos um povo e uma única luta”, disse Wambra, um militante indígena.
Durante a tarde, organizações de direitos humanos relataram que os hospitais não forneciam informações sobre feridos. Alegavam que o Estado de Exceção subordina as divulgações à Secretaria de Comunicação do governo. Estudantes universitários formaram brigadas de primeiros-socorros para atender às centenas de feridos pela ação policial. Estima-se que durante o dia mais de 100 pessoas tenham sido feridas.
Lenín Moreno destacou ministros para tentar amenizar a crise. Foram anunciadas medidas tentando acalmar o setor agrícola, com forte presença indígena. O secretário-geral da Presidência, José Agusto Briones, promete criar sistemas de irrigação de terras, renegociar dívidas das associações, seguro agrícola, anistia de 100% das dívidas mantidas com o Ministério da Água, oferta de kits tecnológicos e quatro centros de coleta para escoamento de produção. O governo também decidiu interromper o transporte de petróleo de um de seus principais oleodutos, a maioria destinada à exportação.
O Equador entrou em estado de ebulição desde a última quinta-feira (3), depois que Moreno anunciou várias medidas econômicas por decreto, fazendo com que entrassem em vigor imediatamente. Também promoveu uma reforma trabalhista que deveria ser discutida pelo Congresso equatoriano. Dessas medidas, a que gerou maior rejeição foi a liberação do preço dos combustíveis, veiculados pela retirada de subsídios, que implica em aumento do preço do transporte público e dos alimentos de primeira necessidade. Por trás dessas medidas está a influência do FMI. O governo Moreno assinou um empréstimo de US$ 4,2 bilhões, em troca do aperto fiscal.
O setor de transportes respondeu com uma greve nacional que durou dois dias e foi acompanhada de mobilizações em todo o país. Moreno decretou o Estado de Exceção que lhe permitiu usar as Forças Armadas para reprimir protestos. Também decretou a transferência da sede do governo para Guayaquil, centro econômico e cidade mais populosa do país. Grupos indígenas e movimentos sociais chamara a greve nacional nesta quarta. Até agora, o saldo da repressão feroz que começou na última quinta-feira é de cerca de 800 pessoas presas, centenas de feridos e dois mortos, segundo organizações de direitos humanos.
Com informações do Página|12