Quatro posseiros são assassinados em conflito de terras em Lábrea, no Amazonas
Presidente da CUT-AC culpa a morosidade do Incra que fez acordos e firmou outros compromissos para apressar a emissão dos títulos de terras na época em que a chacina foi anunciada e nada fez
Publicado: 01 Abril, 2019 - 17h05
Escrito por: Redação CUT
Quatro pessoas foram assassinadas em uma chacina ocorrida neste sábado, 30 de março, no Seringal São Domingos, que fica no município de Lábrea, na divisa com a cidade Acrelândia, no Acre.
De acordo com informações do AC Jornal online, do Acre, jagunços armados chegaram ao Seringal São Domingos determinando que os posseiros deixassem suas casas sem levar nada. Os que desobedeceram a ordem foram mortos.
O primeiro assassinado foi o posseiro conhecido como Nemes, de 53 anos. Após 24 horas andando na floresta, um grupo de cerca de 150 homens que havia iniciado as buscas pelos desaparecidos, encontrou mais três corpos. Todas as vítimas tinham perfurações de bala e eram conhecidas na comunidade.
Conflito de terras
A presidente da CUT-Acre, Rosana Nascimento, que esteve na Região tentando convencer o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra-Amazonas) a apressar a emissão dos títulos de terras na época em que a chacina foi anunciada, culpa o órgão pela chacina.
Foram feitos acordos e outros compromissos que agora estão descumpridos. Este tipo de violência acontece por causa da morosidade do Incra
Segundo ela, veio dinheiro para fazer o levantamento de cada lote, mas eles não tiveram organização e responsabilidade para isso. Muito dinheiro, inclusive, volta porque não é usado devidamente, afirmou.
“Gastam diárias impunemente e nenhuma resultado é apresentando. Infelizmente, famílias são prejudicadas e pessoas morrem por causa da disputa de terra quando o Poder Público já deveria ter solucionado a questão”, disse a professora Rosana Nascimento.
Ela afirma que a relação conflituosa preocupava os posseiros, que queriam a regularização das terras no sul do Amazonas. “O Incra tinha feito a documentação para a arrecadação dessa área e chegou até a receber dinheiro do governo federal para fazer a regularização fundiária, mas abandonou o processo”.
Como as terras são reivindicadas por madeireiros, fazendeiros e posseiros, a falta de definição sobre a propriedade acirrou os conflitos.
Como ocorreu
Dois posseiros que não tiveram o nome revelado informaram ao AC Jornal que conseguiram escapar da morte porque se humilharam. Os jagunços chegaram com a ordem de que todos deveriam deixar suas casas só com a roupa do corpo. “Nós saímos com vida porque nos humilhamos. Foi pela graça de Deus. Eles diziam o tempo todo que estavam lá para matar e mataram mesmo”, disse uma mulher que escapou da morte.
Ela e um homem que também conversou com o AC Jornal relataram o caso a moradores de uma comunidade próxima, no município de Acrelândia, e pediram ajuda para resgatar as pessoas que estavam sob a mira das armas ou que fugiram para as mata. Foi então que o grupo de cerca de 150 homens decidiu ir ao local do conflito, mas só encontraram os mortos.