Escrito por: Érica Aragão
Entidades parceiras da CUT trabalham ativamente para recuperação da economia e também para reconstrução das produções da agricultura familiar e de comunidades originárias. Cidades sofrem com descaso do governo
Na Região de Cáceres, no Mato Grosso, microrregião do Alto Pantanal, muitos agricultores familiares, ribeirinhos, quilombolas e indígenas perderam as terras onde produziam alimentos para consumo próprio e comercialização por causa das queimadas e também da seca e da pandemia do novo coronavírus. . Trabalhadores do turismo também estão sendo impactados pela destruição.
Na Região, ninguém tem o que comemorar nesta quinta-feira (12), Dia do Pantanal, mas a data serve de alerta para os governos e para toda a sociedade, pois a devastação afeta o país inteiro, afirma o secretário de Meio Ambiente da CUT, Daniel Gaio.
“A devastação ambiental e os impactos não podem ser ignorados, pois não é uma realidade que afeta unicamente quem se encontra nestas regiões. Ela está relacionada ao aumento dos gases de efeito estufa e às mudanças climáticas. E no nosso cotidiano, interfere no modelo agroalimentar, que cada vez se mostra mais insustentável”, diz Daniel.
A engenheira Agrônoma e Educadora da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE), Francileia Paula de Castro, conhecida como Fran, concorda com Daniel. No momento, diz, o que fica mais evidente são os problemas da população local, que sobrevive da solidariedade e enfrenta “um pacote de problemas que impactam várias famílias, pescadores e movimentos sociais no Pantanal. Além, claro, o mercado e a economia”.
“A gente tem muitos agricultores familiares que perderam roça, comunidades indígenas que foram afetadas diretamente pelo fogo e perderam tanto a produção de alimentos quanto a comercialização, e também muitos trabalhadores do turismo estão desamparados. O setor já vinha perdendo fôlego com a pandemia e as queimadas pioraram mais ainda”, completa Fran.
Levantamento da FASE na Região de Cáceres apontou que mais de 20 comunidades foram afetadas, o que representa cerca de mil famílias, segundo a engenheira, que lembra das outras regiões que ficaram de fora da pesquisa.
“Os trabalhadores da região dependem da preservação do bioma e do equilíbrio deste ecossistema do Pantanal. Foram milhares de hectares queimados e isso mexe com recursos naturais, lenções freáticos, rios, sobrevivência dos animais da terra e do mar e na vegetação”, explica a engenheira.
De acordo com ela, os impactos vão aparecer em grande escala futuramente também. “E as comunidades locais estão inseguras, mesmo com a ajuda que estão recebendo do povo. A ajuda tá vindo da solidariedade do povo, porque do governo nada. É um descaso total com o meio ambiente e a população”.
Atenção para região é necessária para mudar modelo de desenvolvimento
Para o secretário Nacional do Meio Ambiente da CUT, Daniel Gaio, as atividades econômicas relevantes para região não podem coexistir se a situação das queimadas continuar no ritmo atual e nada for feito pelo governo federal para resolver a situação
Logo virão as chuvas a tendência é que as queimadas no Pantanal e outros biomas comecem a sair das capas dos jornais, mas a atenção para a Região não pode acabar porque, se nada for feito, no ano que vem as queimadas voltarão com tudo, completa o secretário.
De acordo com Daniel Gaio, a sociedade e o poder público não podem continuar postergando a discussão da necessidade de mudança estrutural sobre o modelo de desenvolvimento atual, principalmente sobre o agronegócio e a mineração, que provocou e continuará provocando queimadas e o desmatamento se não forem tomadas medidas neste sentido.
“As queimadas que aconteceram nos últimos meses estão ligadas a setores do agronegócio e seu interesse pelo aumento da fronteira agrícola, para criação de gado e monocultivos de soja e milho”, afirma.
Mais impactos
Para o especialista em uso de Recursos Naturais Renováveis, bacharel em Ciências Econômicas e membro do Comitê Popular do Rio Paraguai, Leonel Wohlfahrt, as queimadas vão trazer resultados ainda mais problemáticos na economia a partir da época de colheita de produtos, que acontecerá no início do ano 2021.
“As comunidades perderam tudo com a queimada, não têm sementes suficientes pra plantarem, não tem grana pra preparar o terreno e isso diminuirá a produção drasticamente, além da autoestima que ficou abaixo dos chinelos das pessoas, vendo uma vida inteira ser destruída. Muitos choram só de tocar no assunto. Como recomeçar?”, questiona Leonel.
Ajuda e luta
A Rota Caminhos da Agroecologia, que envolve várias organizações que comercializam produtos da agricultura familiar e agroecológicos vai adquirir 70 toneladas de Cumbaru, árvore nativa do Cerrado brasileiro, para reflorestamento. E as entidades, como a própria FASE, estão fazendo campanhas para arrecadação de sementes crioulas para novos plantios na agricultura familiar.
“Nossa luta agora é conseguir sementes para recomeçar, trabalhar a autoestima das comunidades e lutar contra a implantação de hidrovias, além do combate ao uso de agrotóxicos, construção de pequenas centrais hidrelétricas, a monocultura e tentar recomeçar o desenvolvimento territorial comunitário de forma sustentável”, finalizou Leonel.
Celebração
No dia 12, o Comitê Popular do Rio Paraguai está com uma programação de celebração do Dia do Pantanal e luta em defesa da região e das comunidades locais, começará às 6 horas da manhã e só acaba ao 12h. Veja:
*Edição: Marize Muniz