Escrito por: Altamiro Borges
O Sindicato dos Advogados SP decidiu ir à Justiça para descobrir quem são os financiadores
O Sindicato dos Advogados de São Paulo decidiu ingressar com uma ação na Justiça exigindo a apresentação dos nomes dos financiadores do filme “Polícia Federal – A Lei é Para Todos”, que estreará nos cinemas em 7 de setembro. Conforme explica Aldimar de Assis, presidente da entidade, “essa questão está obscura e nossos associados, que defendem réus da Lava Jato, estão preocupados porque as pessoas são apresentadas como culpadas antes mesmo do julgamento final de seus processos. Será que os patrocinadores são de empresas que prestam serviços públicos? Há algum interesse eleitoral nesse filme?”.
Até hoje, o filme panfletário – que parece uma peça de propaganda do Estado de Exceção – está envolto em mistérios. Sabe-se apenas que ele custou uma fortuna – R$ 16 milhões – e que conta em seu elenco com vários atores da TV Globo. Mas os seus produtores se negam a dizer quem bancou a obra. Qual a razão para tanto segredo? Nesta quarta-feira (30), o blogueiro Luis Nassif deu uma pista, revelando que um dos financiadores, o empresário Sérgio Amoroso, é investigado pela própria Polícia Federal e pelo Ministério Público do Pará. A mídia golpista, que tem feito o maior escarcéu com o filme, evita investigar as origens da grana. Daí a importância da denúncia de Luis Nassif.
Sérgio Amoroso, o falso ambientalista
Segundo informa, “o principal financiador do filme sobre a Lava Jato, o empresário Sérgio Amoroso, é um tipo controvertido. Self-made-man, começou a vida como office boy, montou uma companhia de venda de papéis e, em 1999 conseguiu assumir o controle do Projeto Jari, que estava sob intervenção do BNDES, pagando 1 real e assumindo as dívidas. Desde então, tornou-se uma espécie de Dr. Jekill e Mr. Hide do setor de celulose. Numa ponta, ele recebeu prêmios de responsabilidade corporativa, apregoando a defesa da sustentabilidade, as iniciativas em favor de crianças com câncer, entre outras atividades meritórias”.
Esta biografia adocicada, porém, não corresponde à realidade, ainda de acordo com o blogueiro. “No silêncio da selva amazônica, as informações que poucas vezes chegavam ao sudeste mostravam um perfil diferente. No dia 4 de dezembro de 2015, uma operação da Polícia Federal foi atrás de agentes públicos do estado do Pará, da Secretaria do Meio Ambiente e do Instituto de Terra do Pará, envolvidos em fraudes no sistema de comércio florestal, beneficiando justamente o Projeto Jari. Houve buscas e apreensões em 41 endereços ligados a cinco empresas. Houve duas prisões preventivas e 16 temporárias”.
A Polícia Federal descobriu que o mesmo tipo de operação com evidência de fraude envolveu a Jari em outros planos de manejo. O golpe foi batizado de “lavagem de madeira”. Segundo o Ministério Público Federal do Pará, “a madeira retirada em desmatamentos ilegais na Amazônia entra nos sistemas de controle da comercialização de produtos florestais por meio de fraude em planos de manejo aprovados pelo poder público, geralmente em nome de laranjas. Comprada por grandes empresas exportadoras, a madeira derrubada ilegalmente é vendida com aparência de legalidade no exterior”.
Somente em um dos planos, segundo o Ministério Público, foram movimentados mais de R$ 28 milhões em madeira ilegal entre dezembro de 2014 e fevereiro deste ano. Ainda de acordo com Luis Nassif, a PF constatou que 81% da madeira fraudada tinha sido destinada à Jari Florestal S.A., de Sérgio Amoroso. “Era tanta madeira que necessitava do equivalente a uma frota de 220 caminhões para ser transportada. O golpe da Jari se ampliou com a compra de créditos para a comercialização de ipê de sete empresas próximas a Belém. A fraude era tão escancarada que os registros indicavam que a madeira levou 10 minutos para ser transportada de Almerim a Belém, a 800 km de distância”.
Tentativa de comprar a proteção com o filme?
A investigação “foi apenas o desfecho de uma aventura empresarial enganosa. Amoroso criava uma falsa blindagem com os seus projetos beneméritos. Mas desde a compra da Jari mergulhou em vários problemas financeiros... Sobram denúncias de abusos cometidos na Amazônia. Montou um negócio de madeira em que o plantio era de sitiantes. Aqueles que não concordavam em aderir ao plantio eram ameaçados. Em duas ocasiões realizou demissões maciças de trabalhadores. Em 2008 recebeu R$ 170 milhões do BNDES para o financiamento do plantio de eucalipto, com a condição de manter os empregos. Para firmar posição a favor do emprego admitiu 800 trabalhadores. Mal recebeu o financiamento, demitiu 700”.
Luis Nassif concluiu seu artigo lançando uma hipótese bem cabível. “Este ano, surgiram notícias de dificuldade de pagamentos a terceirizados, além de alguns pedidos de falência. Aparentemente, financiando o filme, Amoroso visou comprar proteção”. A sua denúncia é bombástica e reforça a ação do Sindicato dos Advogados de São Paulo para exigir esclarecimentos sobre os nomes dos sinistros financiadores do filme “Polícia Federal – A Lei é Para Todos”.