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Quilombo na Bahia vive em “guerra” com a Marinha pelo direito à água e à terra

Liminar da Justiça ignora os mais de 200 anos que comunidade vive no local, manda despejar e ainda proíbe as famílias de pegar água para consumo próprio no Rio dos Macacos

Publicado: 26 Novembro, 2020 - 14h39 | Última modificação: 26 Novembro, 2020 - 14h53

Escrito por: Silvana Cortez, da FNU

Reprodução/ cena do filme Quilombo Rio dos Macacos
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A comunidade bicentenária Quilombo Rio dos Macacos, localizada no município de Simões Filho (BA), corre risco de despejo por decisão liminar decretada pela 10ª Vara Federal a pedido da Marinha do Brasil.

A liminar foi concedida apesar da comunidade quilombola, com 43 famílias e mais de 160 crianças, viver na região há mais de 200 anos e ter sido certificada pela Fundação Cultural Palmares desde outubro de 2011. Já a Marinha, se instalou na região há apenas 50 anos.

Para além do despejo, a juíza federal, Mei Lin Lopes Wu Bandeira, em seu despacho proibiu a chegada dos quilombolas ao Rio dos Macacos, fixou multa diária de R$ 1.000,00 “por indivíduo que permanecer injustificadamente na área em questão” e concedeu o pedido de uso de força policial para que a ordem seja cumprida.

“Retiraram o nosso direito à água. O povo preto ficou sem pode acessar à água. A água da barragem, que era para servir a comunidade e a periferia de Salvador, está sendo usado somente para os navios da Marinha e uma parte do rio dos Macacos ainda é usada para receber o esgoto da Base Naval”, diz a moradora e líder da comunidade, Rosimeire Silva.

Reprodução live do OndasReprodução live do Ondas

Entidades envolvidas diretamente na luta pelo direito à água estão mobilizadas para ajudar os quilombolas, realizando atos públicos e abaixo-assinados. O  Observatório Nacional dos Direitos à Água e ao Saneamento (ONDAS), que reúne, em seu quadro de associados, sindicatos de trabalhadores do saneamento de vários estados, irá formalizar denúncia à ONU por violação aos direitos humanos.

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“Estivemos reunidos com lideranças do quilombo para discutir essa séria violação que retira um bem essencial para o modo de vida e alimentação, que a comunidade faz uso historicamente. A decisão está impedindo os moradores de utilizarem à água para consumo humano, mas também para atividades de pesca, manifestações religiosas e tantas outras”, explica Edmilson Barbosa, coordenador de Comunicação do ONDAS e do Sindae-BA.

Nesta quarta-feira (25), o ONDAS realizou uma live que debateu o caso no enfoque do racismo ambiental e o direito de acesso à água. Clique aqui para assistir.

Entenda a disputa judicial

Em meados do século passado, a União desapropriou, por falta de pagamento de dívidas, as terras da Fazenda dos Macacos e o terreno foi doado à prefeitura. A comunidade quilombola já vivia no local, mas a presença dos moradores não foi considerada no contrato de doação.

Mais tarde, o município doou as terras para a Marinha que, na década de 1970, construiu no local a Base Naval de Aratu e uma barragem no Rio dos Macacos, que hoje é a fonte de abastecimento para os serviços da Base.  

Em 2009, a Marinha protocolou a primeira das quatro ações de desapropriação de terra e, em novembro de 2010, conseguiu decisão favorável. O Ministério Público Federal recorreu da decisão e a Marinha e a Justiça assinaram um acordo para evitar o despejo dos quilombolas em 2012.

Em novembro de 2019, a pedido do MPF e da Defensoria Pública da União, a Justiça Federal confirmou decisão liminar sobre demarcação e titulação das terras. Na sentença é determinado que o Incra conclua o procedimento de demarcação e titulação das terras no prazo máximo de 540 dias. No entanto, no último dia 18 de novembro, a Justiça expediu uma liminar favorável à Marinha para a reintegração de posse da área.