Escrito por: Walber Pinto
Na série de reportagens no Mês da Consciência Negra, o Portal CUT ouve dirigentes sindicais e especialistas para explicar as políticas para a equidade racial e como o racismo estrutural perpetua desigualdades
O racismo estrutural ainda persiste como elemento central nas relações de trabalho, reproduzindo desigualdades sociais que lembram o período escravocrata. Esse processo de exclusão que afeta a população negra no Brasil atinge, sobretudo, as mulheres negras, maiorias nos trabalhos informais e entre as pessoas desempregadas, além de receberem menores salários.
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as desigualdades raciais no mercado de trabalho brasileiro são evidentes. No 4º trimestre de 2023, entre as mulheres ocupadas com inserção informal no mercado de trabalho, 41% eram negras e 31% não negras. O levantamento aponta que 91% das trabalhadoras domésticas no Brasil são mulheres e 67% delas são negras.
Na série de reportagem no Mês da Consciência Negra, o Portal CUT ouve dirigentes sindicais e especialistas para explicar as políticas para a promoção da equidade racial e como racismo estrutural perpetua as desigualdades e relações de poder.
Nadilene Nascimento, secretária-adjunta de Combate ao Racismo da CUT, fala sobre a desigualdade racial no mercado de trabalho, da violência policial nas periferias que afeta, principalmente, jovens negros, e da condução atual das políticas para a promoção da equidade racial para população negra no país. (Leia a entrevista abaixo).
Segundo o levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), as mulheres enfrentam uma situação mais difícil no mercado de trabalho. Os empregos são da mais baixa remuneração, inclusive, elas chegam a receber menos do que o salário mínimo vigente, como é o caso das trabalhadoras domésticas.
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O preconceito, de gênero e de raça, sofrido pela mulher negra é visto nas pequenas e nas grandes atitudes. Críticas ao cabelo, aos traços físicos, frases que diminuem suas conquistas e a maior dificuldade em se colocar no mercado de trabalho.
Historicamente, as mulheres são submetidas à função de manutenção do núcleo familiar e, dessa forma, acumulam papéis que as deixam sobrecarregadas: acúmulo de tarefas domésticas, cobrança pelo cuidado com os filhos, além do cuidado com o parceiro.
“Ela é oprimida no mercado de trabalho por ser mulher e também por ter a raça negra. As políticas de igualdade racial no trabalho são importantes, mas é hora de pensar uma profunda reestruturação das relações de produção e distribuição de riqueza no país”, afirma Nadilene Nascimento.
Por outro lado, são as mulheres, os jovens negros e as populações quilombolas que estão na linha de frente da luta por direitos.
Confira a entrevista
Segundo pesquisas, pessoas negras é maioria em postos de trabalho informais e ganham menos que pessoas brancas. Como o racismo atinge a classe trabalhadora?
Nadilene Nascimento: O combate ao racismo fortalece a luta dos trabalhadores e trabalhadoras a partir do momento que ataca um ponto estruturante que permite relações de exploração com determinados grupos, e no caso do racismo com determinados grupos étnicos. Portanto, é muito importante que a sociedade se organize para fazer um enfrentamento a esses ataques.
Uma educação com letramento racial, com empatia, com outra perspectiva para a organização social do país ajudará imensamente a organização da classe trabalhadora como um todo.
É necessário entender que o ataque, em especial a grupos étnicos como negros e povos originários, é estratégico para o processo do capitalismo e da exploração da mão de obra dos trabalhadores e trabalhadoras.
A realidade, infelizmente, ainda coloca as mulheres negras na base da pirâmide salarial do nosso país. Como superar essa desigualdade?
Nadilene Nascimento: A taxa de desemprego entre as mulheres negras é mais alta do que outros grupos. Mulheres negras têm mais dificuldades de ocupar, de adentrar no mercado de trabalho. Elas são 47,5% dos trabalhos desprotegidos, ou seja, dos trabalhos informais. Elas ocupam o trabalho mais precarizados, estão mais propensas, mais expostas. As condições de trabalho realmente são degradantes. Elas pouco ocupam cargos de chefia ou gerência.
De acordo com o Dieese, apenas 2,1% das mulheres negras ocupam cargos de gerência. Então, mais de um quarto das mulheres negras aptas a compor a força de trabalho declararam que se encaixam em algumas das seguintes situações.
Então, esses são dados colocados pelo Dieese destaca sobre maneira como as mulheres negras são vistas pelo mercado de trabalho brasileiro.
Como avalia a condução atual das políticas para a promoção da equidade racial para população negra no país?
Nadilene Nascimento: Creio que ainda precisa melhorar muito, está tímida e precisa de aprofundamento, maior envolvimento também da sociedade como um todo. Porque a questão de raça não é um problema só dos pretos. É um problema de toda a sociedade. Apesar de se falar muito de educação antirracista, precisamos avançar, transformar vidas, precisa incentivar em ações concretas.
Apesar de alguns avanços, ainda persistem e se agravam os crimes de racismo em todo o país. O que deve ser feito para frear a violência histórica que atinge a população negra, sobretudo os jovens negros?
Nadilene Nascimento: A violência histórica a que o povo preto e os povos originários são submetidos aqui no Brasil deve ter uma resposta construída a longo prazo e de maneira profunda para que essa realidade seja transformada. Então, a morte de jovens negros é resultado de um discurso de combate às drogas que criminaliza e que trata de forma diferente o uso e o porte de drogas quando a pessoa é negra, diferenciada de uma pessoa branca. Então, essa luta, esse combate às drogas, fazendo uma análise numa perspectiva racial, é uma política de encarceramento do povo preto.
Como o combate ao racismo fortalece a luta dos trabalhadores e trabalhadoras?
Nadilene Nascimento: É necessário que a classe trabalhadora compreenda onde nascem os problemas próprios da classe trabalhadora. É comum que se pense nos problemas com imediatismo, como o acesso econômico, mas agir assim não resolverá todos os nossos problemas. Já passou da hora de nossa gente entender, do ponto de vista histórico, da construção do nosso país, o que faz com que a classe trabalhadora seja explorada do jeito que é no Brasil.