Escrito por: Vanessa Ramos / CUT São Paulo
Rapper defende maior investimento na educação dos jovens e adolescentes
Filho da Dona Beth, que faleceu há pouco mais de dois anos, o rapper Rappin Hood, que atrai milhares de jovens no Brasil, garante que a mãe permanece como uma referência nos valores que carrega para a vida e o mundo musical. “A disciplina e a luta eu levo pra onde eu for. Eu sou o que ela quis que eu fosse”, afirma.
Morador da Vila Arapuá, próximo de Heliópolis, na zona sul da capital paulista, Hood defende que mudanças estruturais, como a reforma popular do sistema político, são urgentes. Ao falar sobre a redução da maioridade penal, que deve ser votada na Câmara nesta terça (30), ele acredita que se a medida for aprovada irá condenar muitos jovens no Brasil. Para ele, a solução passa por investimento na educação e na infraestrutura do País. Confira a entrevista na íntegra.
Marchas à direita e à esquerda marcaram 2015 com bandeiras diferentes nas ruas, como a volta da ditadura. Essa polaridade tomou de alguma forma as periferias de São Paulo?
Na periferia não tem disso. Acredito que mudanças e melhorias precisam acontecer, é o que queremos, desejamos. Cobramos aqueles que votamos, mas não quero devolver o País para quem me escravizou, me maltratou. Eu não quero os militares de volta, quero a democracia e a continuação do trabalho que está sendo feito. Quero ver a molecada, os filhos dos trabalhadores indo para a faculdade, ocupando os espaços.
Reduzir a maioridade penal de 18 para 16 anos significa o que para os jovens?
A redução da maioridade penal é o extermínio da juventude como um todo. As pessoas que têm problemas precisam ter chances, de se regenerar, de se recuperar, de integrar a sociedade. Acredito que a redução da maioridade vai condenar muitos jovens porque, ao invés de reduzir, é preciso investir mais em escolas, na infraestrutura do país, nas condições para que os adolescentes e jovens estejam fora das ruas e com as mentes ocupadas, fazendo coisas boas. Este é o investimento que deve ser feito. Reduzir a maioridade penal para construir presídio não vai ajudar. As pessoas precisam ter condições para se desenvolverem como seres humanos.
Sobre as influências culturais no País como vê a relação entre rap e funk?
O funk nada mais é do que o rap com a batida acelerada, chamado Miami Bass. Há 20 ou 30 anos já existiam bandas que faziam músicas com o beat acelerado ou mais lento, como o 2 livre Crew. Já era a batida do funk – pode ver que eles se chamam de MCs. Para mim, a única diferença é nas bases, a deles são mais rápidas, a nossas são mais lentas.
E as letras de cada estilo? O que você não abre mão no rap?
O hip hop e o rap, feito principalmente em São Paulo e em Brasília, é um rap mais, digamos, politizado. Mas existe funk politizado também e existem funkeiros que falam sobre a realidade do povo. Penso que num determinado momento, o funk trouxe uma diversão para o público que o rap não trazia. Acho saudável. Mas sobre o que faço, sou de um tempo, como dizia Sabotage, do rap de raiz. Porque rap é compromisso e, no meu trabalho, eu jamais vou deixar de tocar em questões políticas e humanas.