Escrito por: Andre Accarini
Apesar de pouco utilizado em residências, o gás natural é insumo essencial para o setor industrial que, por sua vez, repassará os custos ao consumidor aumentando o preço de seus produtos
O reajuste de 39% do gás natural (GNP) nas refinarias da Petrobras a partir do dia 1° de maio, vai ter um efeito cascata com impactos nos índices de inflação. Isto porque diferente do gás de botijão (GLP), o gás natural é utilizado industrialmente, e o aumento em seu preço encarece a produção.
A técnica do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese/Subseção da CUT) explica que esse tipo de combustível é mais utilizado pela indústria (43%), e para a geração de energia elétrica (38%). Por isso, ela diz, ainda que não atinja as famílias diretamente, já que o número de residências que usam o gás encanado é pequeno, haverá impacto grande na economia – na inflação - porque é um insumo importante para as indústrias.
“Quando há um aumento no custo dos insumos importantes para a indústria, como é o caso do gás natural, há um impacto geral na inflação porque esse custo é repassado aos preços dos produtos”.
Uma das principais demandas do gás natural para as indústrias é, justamente, para geração de energia elétrica. Adriana diz ainda que conforme se aproxima o inverno, o uso aumenta por conta de períodos de seca em que a energia a gás se torna uma opção mais econômica.
Além disso, a conta de luz deve também sofrer reajustes porque o custo para geração de energia térmica pelas distribuidoras deve subir.
Os reajustes do gás de botijão (GLP) foram menores até agora, mas constantes. No fim das contas, em 12 meses, o GLP já teve um reajuste de 20.01%. O último reajuste, em março foi de 4,98%.
Para Adriana Marcolino, a exorbitância do reajuste do gás natural foi uma forma de a Petrobras equiparar os preços das duas modalidades. Ela ressalta que os reajustes são consequência da política de preços da Petrobras – a PPI (Política de Paridade de Importação) – que faz com que o preço praticado no Brasil acompanhe a variação do dólar e do mercado internacional.
“Interessa aos acionistas, ao mercado financeiro, e não é nada bom para a população. Os reajustes têm disso constantes e relevantes. Em março do ano passado, o preço do botijão e gás era R$ 69, em média. Hoje já chega a R$ 120,00 em algumas regiões como Norte e Centro-Oeste”, diz Adriana.
O valor (R$ 120,00) representa 12% do salário mínimo e em tempos de pandemia, o uso do GLP, item de primeira necessidade para as famílias brasileiras, tem sido maior por causa do aumento da permanência das pessoas em casa.
“Tem subido acima da inflação, pesado no orçamento e tem trazido também outros problemas como acidentes domésticos pelo uso de outras formas de cozinhar alimentos como álcool, madeira, lenha e querosene para diminuir o custo”, diz.
Já o gás natural (GNP) é usado por cerca de 2% da população brasileira. Outro setor que também utiliza o GNP é o transporte. Cerca de 9% da produção é destinada ao abastecimento de veículos.
Adriana afirma ainda que, por se tratar de gênero de primeira necessidade, deveria haver uma política de preços diferenciada tanto para o gás natural como a gás de botijão.
Um dos índices que compõem o preço do GLP é o valor do transporte do gás, que acompanha as tarifas reguladas pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O valor é medido pelo índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M), e acumula inflação de 31% , de março de 2020 a março de 2021 (12 meses).
Por isso, este aumento de 39% no GNP pode também ser creditado à venda dos ativos da Petrobras, que privatizou seus gasodutos e, agora paga um aluguel em torno de US$ 3 bilhões ao ano para utilizá-los.
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A quebra do domínio da Petrobras no novo marco regulatório de transporte, distribuição e sobre todo o mercado de gasodutos, aprovada pelo governo federal, sob o pretexto de que reduziria os preços, na avaliação de especialistas, nada mais é do que parte de um desmonte da estatal quem vem sendo promovido desde o golpe de 2016.
*Edição: Rosely rocha