Escrito por: Vitor Nuzzi / RBA
Bolsonaro reajusta salário mínimo abaixo da inflação. Sindicato dos Fiscais da Receita calcula que defasagem da tabela que corrige as alíquotas do Imposto de Renda subiu 113,09%, em 24 anos
O reajuste do salário mínimo ficou abaixo do custo de vida, de acordo com o resultado da inflação em 2020, divulgado nesta terça-feira (12) pelo IBGE. O governo decidiu “arredondar” para R$ 1.100,00 o valor do piso nacional, válido desde o dia 1º deste mês. Com isso, o reajuste sobre o mínimo de 2019 (R$ 1.045,00) foi de 5,26%. Mas o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), usado como referência salarial, fechou 2020 com alta de 5,45%.
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Os dados trouxeram à tona outra informação: a defasagem da tabela do Imposto de Renda. Com o aumento de 4,52% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2020, a tabela do Imposto de Renda, considerando a inflação dos últimos 24 anos acumula uma defasagem de 113,09%. O cálculo foi divulgado nesta terça, pelo Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Sindifisco).
De 1996 a 2020, o IPCA está acumulado em 346,69%, conforme tabela da entidade. Já a tabela, no mesmo período, foi reajustada em 109,63%. Houve correção contínua de 2005 a 2015 (governos Lula e Dilma, ambos do PT), embora nem sempre acompanhando a inflação.
Apenas a faixa de isenção está acumulada em 111,29%. “Corrigida essa injustiça, nenhum contribuinte do Imposto de Renda cuja renda tributável mensal seja inferior a R$ 4.022,89 pagaria o imposto”, diz o Sindifisco. Hoje, a isenção vai até R$ 1.903,98.
Assim, o governo reduz o poder aquisitivo da população em duas pontas. Nas faixas de menor renda, referenciadas pelo salário mínimo, e entre a classe média, que é quem declara imposto.
Política de valorização do salário mínimo
A política de valorização do salário mínimo chegou a se tornar lei (Lei 12.382, de 25/02/11, e depois Lei 13.152, de 29/07/15), no governo Lula, mas foi abandonada por Jair Bolsonaro ( ex – PSL) . A regra, que valeu até 2019, consistia em reajustar o piso pelo INPC do ano anterior. A título de aumento real, seria aplicado o equivalente ao crescimento do PIB de dois anos antes. Se não crescesse, o mínimo seria corrigido apenas pelo INPC. Essa política permitiu reajuste acumulado de 450% desde 2003, para uma inflação de aproximadamente 208%, com ganho real próximo de 80%.