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Relatos de sobrecarga: a dura vida de professor na pandemia

Trabalhar muito mais e não ter contato com os alunos são alguns dos novos problemas enfrentados por profissionais

Publicado: 22 Setembro, 2020 - 09h50

Escrito por: Ana Carolina Caldas Brasil de Fato | Curitiba (PR)

Reprodução
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Em tempos de pandemia, de um dia para o outro, as aulas pelas telas se tornaram realidade. No Paraná, o ensino a distância imposto pelo governo estadual tem sido bastante criticado por professores, que se dizem sobrecarregados com o trabalho o dia inteiro e pela falta de acesso à internet pelos alunos.

Para falar sobre essa realidade, o Brasil de Fato Paraná entrevistou professoras da rede estadual de ensino sobre o “novo” cotidiano e os motivos por que persistem na profissão.

Desde 2003, a professora Adriana Modena trabalha no Colégio Estadual Silveira da Motta, em São José dos Pinhais (PR), e diz que o seu cotidiano mudou drasticamente com as aulas virtuais.

“Estou sendo professora em tempo integral, ajudando os alunos nos mais diversos problemas, desde conteúdos às dificuldades no uso das novas plataformas”, relata.

Para ela, a educação a distância na educação básica não deve ser aplicada, nem parcialmente, devido à falta de acesso. “Poucos alunos acessaram as plataformas, assistiram às aulas, e alguns desistiram”, conta.

Adriana diz que o baixo salário e a estrutura precária já foram motivos que a levaram a pensar em desistir, mas persiste por causa dos alunos. “Sigo em frente quando vejo meus alunos formados, trabalhando e bem-sucedidos. Minha energia se renova.” 

“Dou aulas em três escolas. Mas, me sinto mais cansada agora” 

Evelise Pereira Miller trabalha em três escolas em São José dos Pinhais como professora de Biologia. Antes se desdobrava nas idas e vindas às três instituições, mas diz que a sobrecarga de trabalho maior é agora.

“Sinto-me mais cansada com o ensino remoto. São aulas para gravar, tarefas que precisam ser postadas nas plataformas, tirar dúvidas o dia inteiro e as reuniões pedagógicas”, explica.

Ela acorda todos os dias às 6 da manhã e ainda tem os cuidados com a casa e o filho pequeno. Mas diz que o pior é a perda do vínculo com o aluno. “Com o relacionamento virtual, não temos o vínculo afetivo. E isso tem dificultado o progresso deles.” 

Mesmo com tantas dificuldades, diz que persiste na profissão porque pode fazer a diferença na vida de alguns dos alunos. 

Com 40 horas aulas semanais no ensino presencial, a professora de História Maria José Teixeira diz que, agora, a distância, tem trabalhado muito mais.

Além das dificuldades com as novas plataformas, ela divide o único computador com a filha. “Me faz prolongar meu horário de trabalho. Já postei aula à 1h da manhã para liberar para ela no outro dia”, diz.

Desde 1994 na rede estadual, lamenta a falta de condições e de entendimento do governo. “Não tenho um bom computador para uso do “Meet”, por exemplo. Vários alunos não conseguem acessar as plataformas. Fico o dia inteiro no WhatsApp mandando áudios para dirimir dúvidas.” Mas complementa: “Amo o que faço e tento conscientizar meus alunos sobre a importância do conhecimento para o futuro deles.”