Escrito por: Congresso em Foco
Ex-ministro Pazuello depõe à CPI da Covid nesta quinta-feira (19)
O general Eduardo Pazuello deixou o comando do Ministério da Saúde em 19 de março, depois de seis meses à frente da pasta e outros quatro como interino. Foi o ministro quem passou mais tempo na gestão da Saúde desde a saída do médico Luiz Henrique Mandetta do cargo. Pazuello sucedeu o médico oncologista Nelson Teich e vai depor nesta quarta-feira (19) na CPI da Covid.
Sob a gestão do general que, de acordo com Jair Bolsonaro é especialista em logística, o Ministério da Saúde protagonizou uma série de trapalhadas. Entre atrasos nas negociações de vacinas, propagação do chamado "kit covid" e a crise do oxigênio no Amazonas, sua gestão também foi marcada por uma relação de devoção e obediência ao presidente, chegando a afirmar que “um manda e o outro obedece”.
Relembre algumas das passagens de Pazuello à frente da pasta:
Vacinas
Durante a gestão do militar, o Brasil iniciou o processo de compras de vacinas contra a covid-19. Houve duras críticas à lentidão nas negociações de imunizantes para o país.
Apenas em dezembro de 2020, o ministério divulgou o Plano Nacional de Vacinação, depois de pressionado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O plano também foi criticado pela falta de clareza e ausência de um cronograma com datas específicas indicando quando e como as vacinas seriam adquiridas e aplicadas.
A campanha de vacinação começou no Brasil em 18 de fevereiro com uma promessa de que fossem distribuídas 16,9 milhões de doses iniciais. O número, no entanto, caiu para 3,8 milhões.
Em março deste ano, o STF abriu investigação contra Pazuello para apurar a conduta do ex-ministro.
Crise do oxigênio em Manaus
Durante a gestão do militar, o Amazonas enfrentou o pior momento da pandemia com falta de oxigênio e superlotação nas UTIs. O então ministro foi alertado pela Força Nacional do SUS de uma possível crise no estado.
Pazuello está sob investigação da Polícia Federal acusado de omissão durante o colapso na saúde do Amazonas. O general informou que o problema com o oxigênio foi causado por falhas na rede de gás da região. O Ministério da Saúde destinou 80 cilindros de oxigênio para a cidade.
O ex-ministro também é investigado pelo Ministério Público Federal (MPF) do Amazonas por improbidade administrativa. Segundo o órgão, uma série de ações e omissões ilícitas e a lentidão de resposta da pasta contribuíram para o colapso da pandemia no Estado.
AM ou AP?
Apesar da propaganda de Bolsonaro sobre sua experiência em logística, geografia também não era o forte da gestão de Eduardo Pazuello. Em fevereiro, o Ministério da Saúde errou o destino de 80 mil doses de vacinas contra o coronavírus. O estado do Amazonas esperava 78 mil doses. No entanto, recebeu apenas 2 mil enquanto os imunizantes prometidos ao estado desembarcavam no Amapá.
Na época, o Ministério da Saúde informou que o Amazonas e o Amapá receberiam as quantidades de doses corretas reservadas aos estados.
Kit covid
O tratamento precoce, que recomenda o uso de cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina e doxiciclina, também foi um discurso defendido pelo ex-ministro. Nenhum desses remédios tem comprovação científica contra a covid, mas passaram a ser receitados por médicos com indicação do Ministério. Durante o colapso de saúde em Manaus, a pasta encaminhou 120 mil comprimidos de cloroquina aos pacientes que morriam por falta de oxigênio.
A pasta chegou a promover o lançamento do TrateCov, aplicativo que receitava o kit covid mesmo para sintomas como ressaca. Após críticas, o Ministério da Saúde tirou do ar o aplicativo alegando que tratava-se de "projeto-piloto" e que "não estava funcionando oficialmente, apenas como um simulador. No entanto, o sistema foi invadido e ativado indevidamente – o que provocou a retirada do ar, que será momentânea”.
A distribuição da hidroxicloroquina e da cloroquina para diagnósticos positivos para covid-19 é investigada pelo Tribunal de Contas da União. Foi apontado ilegalidade no uso de recursos do Sistema Único de Saúde.
CPI da Covid
A fala do general é a mais aguardada até o momento na CPI e, embora de estar blindado por um habeas corpus, que permite se calar sobre atos relativos às suas ações diante da pasta, o general ainda deverá falar sobre atos de terceiros.