Renda do brasileiro desce ladeira abaixo e não dá sinais de recuperação
Renda per capita do brasileiro estagnou há 19 trimestres e está 9% menor do que seu pico alcançado em 2014. Para economistas, programas de austeridade de Temer e Bolsonaro impedem recuperação econômica
Publicado: 03 Maio, 2019 - 09h15 | Última modificação: 03 Maio, 2019 - 14h09
Escrito por: Rosely Rocha e Marize Muniz
Nunca foi tão difícil para o brasileiro conseguir recuperar a renda e o sufoco deve se prolongar, pelo menos, até o ano que vem. A austeridade econômica e cortes nos investimentos públicos adotados pelo golpista e ilegítimo Michel Temer (MDB-SP) e por Jair Bolsonaro (PSL-RJ), ao invés de emprego e renda, como eles prometeram, geraram recordes nas taxas de desemprego, índices de inflação em alta e queda nas horas trabalhadas. Tudo isso indica o fracasso da agenda neoliberal do Brasil pós-golpe 2016.
Como lembra o presidente da CUT, Vagner Freitas, a Central passou meses alertando que o golpe era contra a classe trabalhadora. Três anos depois do golpe que destituiu a presidenta Dilma Rousseff, os trabalhadores amargam taxas de mais de 12% de desemprego e não têm perspectiva a médio prazo de que a situação vai melhorar, diz.
“Eles diziam que era só tirar a Dilma e o PT que tudo no Brasil iria melhorar”.
O que temos hoje são mais de 13 milhões de desempregados, mais de 28 milhões de subutilizados, cortes em programas essenciais como o Minha Casa Minha Vida e o Mais Médicos, fim da política de valorização do salário mínimo e um país à deriva
Um dos indicadores econômicos que demonstram que a crise econômica está longe do fim é a renda per capita dos brasileiros, que mede o bem-estar da sociedade ao dividir o Produto Interno Bruto (PIB) pelo número de habitantes do país.
De acordo com estudo do Codace, um comitê de economistas alojado na Fundação Getulio Vargas, o resultado da conta mostrou que a renda per capita do brasileiro estagnou ao redor de R$ 32 mil. Porém, se a renda fosse distribuída igualmente por toda a população, cada brasileiro teria pouco mais de R$ 2.500 por mês.
O valor está 9% abaixo do pico alcançado no primeiro trimestre de 2014, último ano do primeiro mandato da presidenta Dilma.
O resultado do PIB per capita comprova que estamos vivenciando o empobrecimento da classe trabalhadora, afirma a coordenadora de pesquisas do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Patrícia Pelatieri.
“Temos 13,4 milhões de desempregados, aumentou o volume de sub-empregados, ¼ deles tiveram redução de jornada e redução de salário, temos quase 5 milhões de desalentados que não conseguem buscar emprego. É uma parte da população que está saindo da força de trabalho por falta de perspectiva”, avalia.
Tudo isso significa menos renda e o aumento no número de famílias sem rendimento algum. É o empobrecimento muito forte da classe trabalhadora. É a volta de milhões à linha da miséria e o empobrecimento da classe média
Para a doutora em economia, Ana Luiza Matos de Oliveira, os dados do PIB per capita são resultado da Emenda Constitucional (EC) nº 95, do Teto dos Gastos Públicos, que limitou os investimentos do governo, e da reforma Trabalhista, que ao contrário do que pregou o governo Temer, não combateu o desemprego, e sim, precarizou as relações de trabalho e diminuiu a renda e o poder de compra dos trabalhadores.
“Essa estagnação da renda per capita e do PIB condiz com o credo neoliberal de cortes de gastos, arrocho fiscal e austeridade”.
Segundo ela, “se fez muito alarde da crise fiscal de 2014, de que era preciso cortar, o que acabou na Emenda do Teto, já com Temer, e o Brasil ficou sem perspectiva de crescimento ao engessar a capacidade de investimentos”.
Ana Luiza, que também é professora visitante de economia da Faculdade Latinoamericana de Ciências Sociais (Flacso), diz ainda que é preciso que se lembre que as medidas adotadas como a PEC do Teto de Gastos, que geraria uma expectativa de responsabilidade do governo e traria investimentos dos empresários não ocorreu. O mesmo com a reforma Trabalhista.
“Foi o mesmo discurso de que geraria seis milhões de empregos e a classe trabalhadora perdeu”.
Segundo ela, a criação de leis que limitam os gastos públicos, como quer fazer também Bolsonaro com a reforma da Previdência detém um impulsor importante para o crescimento econômico e engessa o governo.
O governo está completamente engessado, não porque gasta demais com o social, mas porque só faz ajuste em cima de investimento, em infraestrutura e impede a economia de crescer
A falta de possibilidade de retomada do crescimento e do aumento de postos de trabalho em razão da falta de investimentos por parte do governo, é criticada pela coordenadora de pesquisas do Dieese. Segundo Patrícia Pelatieri, as propostas do governo Bolsonaro vão no sentido oposto à dinamização da economia.
“Quando você toma medidas de retoma de crescimento o mercado tem um tempo para responder, e sem tomar nenhuma medida, aí sim o futuro é preocupante”, diz a pesquisadora.
A economista Ana Luiza afirma que o governo está insistindo na aprovação da reforma da Previdência “por interesses diversos, mas, na prática, está numa ‘sinuca de bico’, porque a limitação para os gastos impedem a ação do Estado”.
“Quanto mais faz medidas que reduzem gastos, mais o governo piora o mercado consumidor e a capacidade de se investir. Assim será muito difícil o Brasil sair dessa crise, e gerar emprego e renda”, critica a professora de economia.